Mostrando postagens com marcador Homenagem. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Homenagem. Mostrar todas as postagens

Supermarket Flowers (Flores de Supermercado)

I took the supermarket flowers from the windowsill
I threw the day old tea from the cup
Packed up the photo album Matthew had made
Memories of a life that's been loved

Took the Get Well Soon cards and stuffed animals
Poured the old ginger beer down the sink
Dad always told me: Don't you cry when you're down
But mum, there's a tear every time that I blink

Oh, I'm in pieces, it's tearing me up, but I know
A heart that's broke is a heart that's been loved

So I'll sing hallelujah
You were an angel in the shape of my mum
When I fell down you'd be there holding me up
Spread your wings as you go
And when God takes you back He'll say: Hallelujah, you're home

I fluffed the pillows, made the beds, stacked the chairs up
Folded your nightgowns neatly in a case
John says he'd drive then put his hand on my cheek
And wiped a tear from the side of my face

I hope that I see the world as you did, 'cause I know
A life with love is a life that's been lived

So I'll sing hallelujah
You were an angel in the shape of my mum
When I fell down you'd be there holding me up
Spread your wings as you go
And when God takes you back He'll say: Hallelujah, you're home

Hallelujah
You were an angel in the shape of my mum
You got to see the person I have become
Spread your wings and I know
That when God took you back He said: Hallelujah, you're home

Ed Sheeran



Eu peguei as flores de supermercado do peitoril da janela
Joguei fora o chá velho
Empacotei o álbum de fotos que Matthew fez
Memórias de uma vida que foi amada

Peguei os cartões de melhoras e os bichinhos de pelúcia
Derramei a velha cerveja Ginger ralo abaixo
Meu pai sempre me disse: Não chore quando você estiver pra baixo
Mas mãe, há uma lágrima toda vez que eu pisco

Oh, eu estou em pedaços, rasgado, mas eu sei
Um coração que está quebrado é um coração que tem sido amado

Então eu vou cantar: Aleluia
Você foi um anjo na forma da minha mãe
Quando eu caí você esteve lá me segurando
Abra suas asas enquanto você vai
E quando Deus te receber de volta vai dizer: Aleluia, você está em casa

Eu afofei os travesseiros, arrumei as camas, empilhei as cadeiras
Dobrei sua camisola bem arrumada em uma mala
John disse que iria dirigir e colocou a mão em minha bochecha
E enxugou uma lágrima que escorria

Espero que eu veja o mundo como você viu, porque eu sei
Uma vida com amor é uma vida que foi vivida

Então eu vou cantar: Aleluia
Você foi um anjo na forma da minha mãe
Quando eu caí você esteve lá me segurando
Abra suas asas enquanto você vai
E quando Deus te receber de volta vai dizer: Aleluia, você está em casa

Aleluia
Você foi um anjo na forma da minha mãe
Você viu a pessoa em que me tornei
Abriu suas asas e eu sei
Que quando Deus te recebeu, Ele disse: Aleluia, você está em casa

Dois modelos de homem, dois modelos de Igreja


Acabei de assistir o filme do consagrado cineasta brasileiro Fernando Meirelles: Dois Papas.

Considero o filme técnica e esteticamente bem elaborado, feito nos próprios espaços grandiosos do Vaticano. Sua base é fundada em fatos históricos, evidentemente, com a criatividade que este tipo de arte permite, particularmente na construção dos diálogos. Mas neles se entrevê suas respectivas teologias e afirmações conhecidas.

O que digo é opinião estritamente pessoal. Tive o privilégio de conhecer a ambos os Papas pessoalmente e com os quais entretive e entretenho relações de certa proximidade e até amizade.

O Papa Ratzinger: finíssimo e rigoroso
Com o Prof. Joseph Ratzinger tenho uma dívida de gratidão por ter apreciado minha tese doutoral sobre “A Igreja como Sacramento Fundamental no Mundo secularizado”, volumosa, mais de 500 páginas impressas. Ajudou-me financeiramente com uma soma considerável de marcos e encontrou um editora para sua publicação, pois ninguém queria assumir o risco de lançar um livro desta proporção. A acolhida na comunidade teológica internacional foi grande, considerada uma obra fundamental, especialmente pelo renomado especialista em Igreja Jean Yves Congar, dominicano francês.O Prof. Ratzinger é uma pessoa finíssima no trato, extremamente inteligente e nunca o vi alçando a voz; mas é muito tímido e reservado.

Ao saber de sua eleição a Papa, logo pensei: “É um Papa que vai sofrer muito, pois talvez jamais tenha abraçado pessoas, mesmo uma mulher e se exposto às multidões”.

Nossa amizade se fortaleceu porque durante cinco anos, a partir de 1974, toda semana de Pentecostes (por volta de maio) cerca de 25 teólogos e teólogas progressistas, renomados do mundo inteiro, nos encontrávamos em Nimega na Holanda ou em outra cidade europeia. Durante uma semana discutíamos ecumenicamente, acompanhados por um pequeno grupo de cientistas, inclusive de Paulo Freire, sobre temas relevantes do mundo e da Igreja. Editávamos uma revista Concilium que se publicava em 7 línguas que ainda continua a ser publicada (no Brasil pela Editora Vozes). Ai colaboraram as melhores cabeças mundiais, nas várias áreas do conhecimento que vai da sexualidade, da Teologia da Libertação, à moderna cosmologia.

O Prof. Ratzinger sentava-se quase sempre ao meu lado. Depois do almoço enquanto quase todos tiravam uma sesta eu e ele passeávamos pelo jardim, discutindo temas de teologia, nossos preferidos, Santo Agostinho e São Boaventura dos quais li praticamente toda obra.

Cada um com seu papel sem perder a relação
Feito Cardeal e Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, teve a ingrata missão de me interrogar sobre o livro Igreja: carisma e poder em 1984. Ele cumpria institucionalmente sua função de interrogador e eu de defensor de minhas opiniões. Foi um diálogo firme, mas sempre elegante da parte dele, mesmo quando, após o interrogatório, tivemos um encontro já mais duro com ele e os Cardeais brasileiros Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Aloysio Lorscheider que me acompanharam em Roma e testemunharam a meu favor. Éramos três contra um. Devo reconhecer que ele se sentia constrangido.

Depois de um ano, recebi a solução do processo doutrinário com a deposição da cátedra de teologia, de minhas funções na Editora Vozes e a imposição de um “silêncio obsequioso” que me impedia de falar, de ensinar, de dar entrevistas e de publicar qualquer coisa. A decisão final após o interrogatório foi feita por 13 cardeais (13 para desempatar). Soube mais tarde, através de um emissário de seu secretário particular que ele, Card. Ratzinger, votou a meu favor mas foi voto vencido. Cabe dizer que sempre que jornalistas perguntavam a ele sobre mim, respondia, com certo humor, que sou “ein frommer Theologe”(um teólogo piedoso) que um dia vai aprofundar seu verdadeiro caminho teológico.

O filme não retrata a figura fina e elegante que o caracteriza. Em certa cena, levanta a voz e quase grita, o que, me parece, totalmente inverosímel e contra seu caráter.

Apesar de estarmos agora em situações diferentes, ele Papa e eu um um teólogo promovido a leigo, nunca perdemos a amizade. Por seus 90 anos, ao ser organizada uma Festschrift (um livro de homenagem), na qual muitos notáveis escreveram, a pedido dele solicitaram-me que escrevesse meu testemunho a seu respeito, o que fiz, prazerosamente. A amizade é mais forte que qualquer doutrina sempre humana.

O Papa Francisco: terno, fraterno e inovador
Com referência ao Jorge Mario Bergoglio, agora Papa Francisco, diria o seguinte: Conhecemo-nos em 1972 no Colégio Máximo de San Miguel em Buenos Aires, cada um discorrendo sobre a singularidade do caminho espiritual de Santo Inácio de Loyola (ele) e o caminho espiritual de São Francisco (eu). Ai discutimos a vertente da teologia da libertação de tipo argentino (do povo silenciado e da cultura oprimida) e a nossa brasileira e peruana (sobre a injustiça social e a opressão histórica sobre os pobres e afrodescendentes). Deste encontro há uma foto que ele, desde Roma, teve a gentileza de me mandar, onde aparecemos, todo um grupo de teólogos e teólogas, a maioria não mais entre nós, alguns perseguidos e torturados pela repressão bárbara dos militares argentinos ou chilenos. Depois nos perdemos de vista.

O Papa Francisco: teólogo da libertação integral
Soube pelo seu professor de teologia, recentemente falecido, Juan Carlos Scannone, o representante maior da teologia da libertação argentina. que Bergoglio entrou para a Ordem Jesuítica como vocação adulta (era químico antes, como aparece no filme). Entusiasmou-se logo com a teologia da libertação e aí mesmo fez um voto que cumpriu sempre, mesmo como cardeal de Buenos Aires: toda semana passar uma tarde ou mesmo um dia numa favela (villa miseria), sempre sozinho, entrando nas casas e conversando com todo mundo.

Foi Superior Maior da Província dos Jesuitas da região de Buenos Aires. Era muito rigoroso. Aqui teve que enfrentar uma situação gravíssima que carregou no coração até os dias de hoje: dois jesuítas, o padre Jalish e o padre Yorio (que conheci pessoalmente em Quilmes) viviam numa favela, apoiando os pobres e marginalizados. Quem trabalhava com o povo, como no Brasil de 1964 (e talvez também hoje sob o novo governo) seriam considerados marxistas e subversivos. Eram vigiados pelos órgãos de segurança dos militares. Bergoglio soube que seriam sequestrados com as torturas que se seguiam. Tentou salvá-los até apelando ao voto de obediência, típico de sua Ordem, no sentido de abandonaram a favela para não serem vítimas da repressão.

Eles argumentaram de forma evangélica: “um pastor não abandona seu rebanho, seu povo; participa de seu destino; vale mais obedecer ao Deus dos pobres do que obedecer a um superior religioso”.

Efetivamente foram sequestrados e duramente torturados. Jalish se reconciliou com Bergoglio e vive na Alemanha, enquanto Yorio se sentiu abandonado e distanciou-se dele (morreu no Uruguai, anos atrás). Pude sentir sua amargura pessoal, ao mesmo tempo que procurava entender o impasse que uma autoridade religiosa, com responsabilidade, enfrenta em situações-limite. Mesmo assim, Bergoglio escondeu a muitos no Seminário Maior de San Miguel ou os levou até a fronteira de outro país para fugirem da morte certa.

O Papa Francisco: o cuidado da Casa Comum
Ao ser eleito Papa, voltamos a nos comunicar. Sabendo que havia me ocupado intensivamente com o tema da ecologia integral, envolvendo a Casa Comum, a Mãe Terra, solicitou-me subsídios, coisa que fiz com assiduidade. Mas logo me advertiu:”não mande os textos para o Vaticano, pois, não me serão entregues (o famoso sottosedere da Cúria: sentar em cima e esquecer) mas envie-os diretamente ao embaixador argentino junto à Santa Sé, especialmente aquele que todos os dias, bem cedo, toma o chimarrão (el mate), comigo”. Assim fiz sempre, mesmo com textos sobre o Sínodo Panamazônico de 2019. Respondeu várias vezes agradecendo.

Ao escolher o nome de Francisco sob inspiração de seu amigo brasileiro, o Card. Dom Cláudio Hummes que lhe sussurrou logo fazer uma opção clara pelos pobres, ele se transformou. O rigor jesuítico se uniu com a ternura franciscana. Com os problemas internos da Cúria, a pedofilia, a corrupção financeira dentro do Banco do Vaticano é extremamente rigoroso. Contrariamente, com o povo é visivelmente terno e fraterno.

Nenhum Papa anterior castigou tão duramente o sistema que perdeu a sensibilidade, a solidariedade com os milhões de pobres e famintos, a capacidade de chorar e que são adoradores do ídolo do dinheiro. Depredam a natureza e são anti-vida e anti-Mãe Terra. Não precisamos declarar a que sistema se refere. Sua opção pelos pobres é altissonante. Tornou-se por suas posturas corajosas face à emergência ecológica da Terra, ao aquecimento global e à desumanização das relações humanas, um líder religioso e político. Sua voz é ouvida e respeitada pelo mundo afora.

Dois modelos de homem e dois modelos de Igreja
O propósito do filme é mostrar dois modelos de personagens religiosas e dois modelos de Igreja.

Primeiramente mostra como ambos, Ratzinger e Bergoglio. são humanos, profundamente humanos. Nesse sentido: ambos possuem seu lado luminoso e também seu lado sombrio. O Papa Bento XVI sua leniência com os pedófilos. Não devemos esquecer que escreveu a todos os bispos, sob sigilo pontifício que jamais deve ser quebrado, de não entregar os padres e os bispos pedófilos aos tribunais civis. Isso desmoralizaria a instituição Igreja. Deviam, sim, confessar-se do pecado e ser transferidos para outro lugar. O Papa não se deu conta suficientemente de que não tinha a ver apenas com um pecado perdoável pela confissão. Tratava-se de um crime contra inocentes que a justiça comum deve investigar e punir. Não se pensou nas vítimas, apenas na salvaguarda da imagem da instituição-Igreja.

O Papa Bento XVI colocou-se na esteira do João Paulo II que era moral e doutrinariamente conservador. Procurou relativizar arggiornamento do Concílio Vaticano II (1962-1965). Via a Igreja como uma fortaleza sitiada por todos os lados por inimigos, vale dizer, pelos erros e desvios da modernidade. A solução que se propunha era a de voltar à grande disciplina anterior, vinda do Concílio de Trento (século XVI) e do Concílio Vaticano I (1870). A centralidade era a ortodoxia e a sã doutrina, como se fossem as prédicas que salvassem e não as práticas. Nesta linha o Card. Joseph Ratzinger foi rigoroso: mais de 110 teólogos ou teólogas foram condenados, depostos de suas cátedras, silenciados (no Brasil Yvone Gebara e eu pessoalmente) ou de alguma forma punidos. Um deles, excelente teólogo, foi condenado sem receber nenhuma explicação. Ficou tão deprimido que pensou em suicidar-se. Só se curou quando foi à América Central trabalhar com as comunidades eclesiais de base.Viveu-se um inverno eclesial severo.Toda uma geração de padres foi formada nesse estilo doutrinário e com os olhos voltados ao passado, usando os símbolos do poder clerical.  Igualmente, toda uma plêiade de bispos foram sagrados, mais autoridades eclesiásticas ortodoxas que pastores no meio de seu povo.

Outro modelo de personalidade religiosa é o Papa Francisco. Ele vem do fim do mundo, de fora da velha e quase agônica cristandade europeia. Ele trouxe uma primavera para a Igreja e para o mundo secularizado.

Primeiramente inovou os hábitos. Ao negar-se de vestir a “mozzeta” o pequeno manto branco, cheio de brocados que os papas carregam aos ombros, símbolo do absoluto poder dos imperadores romanos pagãos, diz o filme claramente : “acabou-se o carnaval”. Não aceita a cruz dourada, continua com sua cruz de ferro; rejeita o sapato vermelho (Prada) e continua com o seu velho sapato preto. Não se anuncia como Papa da Igreja, mas como bispo de Roma e somente a partir daí, Papa da Igreja universal. Animará a Igreja não com o direito canônico, mas com o amor e com a colegialidade (consultando a comunidade dos bispos). Em sua primeira fala pública diz “como gostaria uma Igreja pobre para os pobres”. Não mora no palácio papal, o que seria uma ofensa ao poverello de Assis, mas numa casa de hóspedes. Come na fila como os outros e comenta, com humor:”assim é mais difícil que me envenenem”.

Dispensa um carro especial e um corpo de proteção pessoal. Mistura-se no meio do povo, dá as mãos a quem as estende e beija as crianças. É pai e avô querido das multidões.

Seu modelo de Igreja é o de “um hospital de campanha” que atende a todos, sem perguntar de onde vem e qual é sua situação moral. É uma “Igreja em saída” para as periferias humanas e existenciais. Respeita os dogmas e doutrinas mas diz claramente que prefere colocar-se vivamente diante do Jesus histórico, opta pelo encontro direto com as pessoas e a pastoral da ternura. Insiste que Jesus veio para nos ensinar a viver o amor incondicional, a solidariedade e o perdão. Central para ele é a misericórdia infinita de Deus. Vai mais longe ao dizer :”Deus não conhece uma condenação eterna pois perderia para o mal. E Deus não pode perder. Sua misericórdia não conhece limites”. Por isso chama a todos, uma vez purificados de suas maldades, para a casa que o Pai e Mãe de bondade preparou para todos desde toda a eternidade. Morrer é sentir-se chamado por Deus e vai-se alegre para o Grande Encontro.

Eis outro tipo de pontificado, outro modelo de ser humano que reconhece que perdeu a paciência quando uma mulher o puxou e apertou longa e duramente sua mão. Irritado, bateu-lhe a mão por duas ou três vezes. Mas no dia seguinte pediu publicamente perdão.

Dois Papas: diferentes e complementares
O Papa Francisco abriu sua inteira humanidade, dando-se o direito à alegria de viver, de torcer pelo seu time de estimação o San Lorenzo, de apreciar a música dos beatles até conquistar o Papa Bento XVI a dançar um tango, impensável a um severo acadêmico alemão. Aqui aparece não o Papa mas o homem Bergoglio que desentranha humanidade recolhida do homem Ratzinger. Ambos são diferentes mas se integram na dança de um tango de pessoas anciãs.

O filme é uma bela metáfora da condição humana, de dois modos diferentes de realizar a humanidade, que não se opõem mas se compõem e se completam, uma com a ternura e a outra com o rigor. Vale ver o filme, pois nos faz pensar e nos oferece lições de mútua escuta, de verdades ditas sem rebuços e de uma amizade que vai crescendo na medida em que a relação se descontrai  de encontro a encontro. O perdão que um dá ao outro e o abraço final, longo e carinhoso, engrandece o humano e o espiritual presentes em cada  um de nós.

Leonardo Boff é teólogo,filósofo e membro da Comissão Internacional da Carta da Terra
Fonte

A professora



Dois termos se confundem hoje, mas carecem de resgate da significância: pedagogo e mestre. O primeiro deriva etimologicamente do substantivo grego paidós (criança) e do verbo agô (guiar, conduzir) e era como se chamavam os escravos que acompanhavam os filhos de seus senhores quando estes iam à escola estudar com os mestres (o segundo termo, que os gregos chamavam de didáskalós) e pode ser definido como “aquele que guia”. Com a evolução diacrônica do vocábulo, os dois termos tornaram-se intercambiáveis.

O nome dela era Niedja, foi minha professora de português e inglês desde a 6ª Série Ginasial até o 2º Grau (hoje Ensino Médio). Eu não lembro o primeiro dia de aula que tive com ela, talvez não estivesse consciente do quão indelevelmente ela marcaria a minha vida, mas eu lembro a última vez que a vi, há mais de trinta anos. Envergava a farda alabastrina da Marinha, ela me saudou com um galanteio e foi embora, não sabia que era a última vez que a via.

Ela conseguia enxergar em mim alguns valores e predicados que eu sequer achava que tinha, talvez nem enxergasse, talvez apenas estivesse semeando na minha mente sem luz (alumnus: "sem luz"). Quando descobriu o meu amor pelos livros, invariavelmente me trazia livros dela para que eu lesse, lembro de ter lido Canguru de D H Lawrence, que só vim entender muitos anos depois, alguns outros títulos eu sequer tornei a encontrar depois, foi uma experiência rara. Ainda consigo rever com nitidez a cena: ela entrando na sala colocando os materiais de aula sobre a mesa e chamando meu nome, eu me levantava, ela então me entregava um livro, nem sei se eu agradecia, tal era a vergonha que ficava, e empreendia a jornada de regresso. A distância do bureaux até minha cadeira se tornava quilométrica, era fulminado por dezenas de olhos, nem sempre favoráveis e compreensivos.

Algumas vezes me fazia ir ao quadro-negro que já era verde à época, para transcrever as palavras que ela ditava (chamávamos esse tipo de atividade de “ditado”) para toda a classe, como sabia que eu dificilmente erraria, me expunha sem medo. Sabia que ela fazia isso porque acreditava em mim, eu porém tinha a letra feia e não conseguia escrever no quadro de forma simétrica, minhas linhas pareciam um eletrocardiograma, e não gostava da gozação dos meus colegas me perguntando que letra era aquela que eu tinha "hieroglifado".

Um dia eu não me dei conta de que era aula de português e me preparei para a aula de inglês, ela me pediu para ir ao quadro e soletrou: "h-e-d-i-o-n-d-o", eu não consegui escrever, minha mente se recusava a me ajudar, eu pensava que era um vocábulo novo, eu nunca tinha ouvido aquele som em inglês, depois de minutos de confusão e caos, ela me disse que a aula era de português, eu me sentei constrangido e deixei que outro aluno tomasse meu lugar.

A sensação de decepcionar àquela professora me acompanha até hoje, foi a primeira pessoa que enxergou em mim o que ninguém enxergava, nunca me perdoei por aquele deslize, talvez por isso até hoje seja tão cuidadoso com o ato de escrever e falar.

Posso dizer sem medo de errar que Niedja foi a professora de minha vida, ela era até bonita, elegante, tinha a idade da minha mãe (suponho até que fosse mais velha), porém, não havia a relação de transferência de afeto ou de estar apaixonado pela professora, havia uma transcendentalidade naquela relação, tanto que a venero até hoje, muito embora não saiba sequer se ela já partiu desta realidade.

Tive outras duas professoras que me marcaram muito: uma na segunda série primária e outra na quarta. A da segunda era carinhosa e atenciosa, a da quarta me mandava corrigir as provas de meus colegas, eles me detestavam por isso, eu só tirava dez, ela corrigia e saia da sala e me pedia para corrigir as dos demais, nunca trai a sua confiança e ela nunca alterou qualquer nota que eu tenha colocado. Me fez aprender o que era responsabilidade e profissionalismo, antes mesmo dos dez anos. Falo profissionalismo por um fato: eu tinha, obviamente, desafetos na sala, nunca deixei que as nossas diferenças interferissem no meu julgamento e eles sabiam disso. Um dos professores que nunca esqueci foi um de história na academia na Marinha que eu estudei ao término da ditadura, ele descobriu que eu conseguia ler parágrafos inteiros sem pestanejar e numa velocidade acima da média, então me pedia para que eu lesse todos os capítulos que lecionaria, eu gostava daquela atividade, tornava a aula menos entediante, pelo menos para mim, por causa disso virei motivo de chacota dos meus colegas de turma: me alcunharam de “Jornal Nacional”.

Olhando para trás eu percebo hoje que sempre fui um aluno prestigiado por meus professores de português e história, as disciplinas que eu sequer precisava estudar para ser aprovado. Raquel e Dulce foram responsáveis pelo meu amor pela história e por ter me aprofundado com tanto gosto e zelo por essa disciplina, a gratidão que tenho a estas professoras é muito grande, mormente a conjuntura atual de completa alheação da história e de seus marcos basilares. Não sabia à época o quanto o estudo da história seria imprescindível para mim, hoje olho para trás com satisfação, acredito que as duas teriam orgulho de mim se soubessem quais as escolhas ideológicas que fiz nestes quase 40 anos.

Tive professores ruins também: um de matemática que sadicamente dava aulas, detesto matemática até hoje por causa dele, atribuí a disciplina ao seu caráter irascível e ranzinza. Era um sádico que se divertia em mostrar o lado difícil da matemática, não de ensinar de fato, deve ter sido uma pessoa triste e solitária, era perceptível que ele se divertia ao reprovar os alunos, não conheci nenhum outro professor tão pequeno e mesquinho quanto ele. Outro professor que não gosto de lembrar foi um de ciências. Ele me fez abandonar a aula depois que discutimos Criacionismo X Evolucionismo, eu argumentei que Criacionismo era mais uma questão de fé do que de provas científicas, ele se irou com o fato de eu dizer que colocaria na prova os argumentos de Darwin, porém, não alteraria a minha fé em função do que havia ensinado. Como podem ver não é de hoje que eu gosto de uma polêmica. A incapacidade dele de lidar com um aluno disciplinado e estudioso que divergia de suas afirmações me marcaram bastante e me ensinaram muito, me mostraram qual o caminho que eu como professor nunca deveria trilhar.

A foto que está no início desse post é da professora Marcia Friggi, de 51 anos, que foi agredida por um aluno recententemente (outubro de 2017), vou usar como a imagem do estereótipo de docente que quero homenagear neste texto.

Mestra Niedja, onde estiver, meu muito obrigado por acreditar em mim, muito do que sou devo a você, espero que a vida lhe tenha sido generosa o quanto você foi com um adolescente desengonçado, magricela e esquisito que só vivia com um livro debaixo do braço. Todas as vezes que assumo uma cátedra, que inicio uma aula, você está ali, pois foi com você que eu aprendi a ser professor: descobri o que há de melhor em cada um dos alunos e permitir que estas qualidades aflorem. Espero que tenha orgulho de eu ter escolhido tua profissão e espero estar honrando tua memória dignamente cada vez que inicio uma aula.

Um beijo muito carinhoso de quem nunca vai deixar de ser teu aluno.

Promete Mysha!


Promete que não vai crescer distante
Promete que vai ser pra sempre assim
Promete esse sorriso radiante
Todas as vezes que você pensar em mim

Promete cuidar bem dos seus cachinhos
E sempre me abraçar quando eu chegar
Promete sorrir sempre com os olhinhos

E cantar cantigas na sala de estar

Que eu prometo ser pra sempre o seu
Porto seguro
Eu prometo dar-te eternamente o meu amor

Promete aproveitar cada segundo
Desse tempo que já passa tão veloz
Me lembro quando você chegou nesse mundo
Sorrindo aos poucos quando ouvia a minha voz

E hoje corre pela sala
Brinca de existir
Giz de cera, pega-pega
Eu só sei sorrir
Ao imaginar você crescer

Para um pouco com a bagunça
Deixa eu te olhar
Que o tempo voa e olha só
Você sabe falar
E diz tudo que eu preciso escutar

Laialaiá

Promete ser pra sempre o meu menino
Me deixar cantar pra te fazer dormir
Que eu prometo que vou te cuidar pra sempre
Eu te amo infinito
Meu guri.

Composição: Ana Vilela




"... era uma vez em dezembro..."



Este post é uma homenagem à minha filha Jessicah Kelly, quando ouço esta música me lembro da infância dela e sinto extremas saudades da menininha que era, cheia de sonhos e fantasias. Orgulho de ser pai desta garota, muito orgulho mesmo!

Ao meu amigo paraibano

Chovendo sinceridade
Eu venho
Das bandas da Paraíba
Sinto que essa gente intriga
Com as coisas do meu sertão
Tá claro
Que eles vivem no escuro
Da grandeza de um monturo
De concreto e de ilusão
Eu trago
Dentro do peito um machado
Bem fornido e afiado
Pra cortar a solidão das capitais
Eu venho
Com o coração aberto
Meio bobo, meio esperto
Meio vero, meio vão
Venho em inverno
Chovendo sinceridade
No trovejo da maldade
Essa cidade se estremece
E se estribucha a solidão.

P.S.: Escutei essa música e lembrei-me de você! "A D O R E I"
[Composição: Flávio José]

Pr. Nilson do Amaral Fanini - 2ª edição

O regime militar estava em transição para o regime democrático, Tancredo morrera inexplicavelmente e Sarney tinha sido empossado, mas não conseguia convencer ninguém, acho que nem a si mesmo convencia, governava (sic) o país há cerca de um ano, a República do Maranhão dera alguns frutos naquele ano, uns bons, outros nem tanto. Eu, por minha vez, estava próximo de completar 18 anos e adentrar a maioridade civil. Há cerca também de um ano eu era aluno militar de uma escola preparatória da Marinha.

Era noite do dia 30 de março de 1986, domingo, véspera do aniversário do golpe que afundou o Brasil numa ditadura cruenta, já beirava às 23 horas, após três dias de folga em casa, nos quais eu tinha ido à igreja, estava voltando para o quartel, embarcava, no jargão da Marinha, para mais uma semana de intensa atividade. Eu iria me formar dentro de dois meses e seria transferido para o Rio de Janeiro, onde, certamente, embarcaria em algum navio, já que minha especialidade eram armas e convés, e iria conhecer novos portos, novos países e colecionaria as minhas próprias aventuras, e provavelmente desventuras também, já que as façanhas que minha mente colecionava eram de outras pessoas, fictícias ou não.

Naquele mesmo dia os batistas pernambucanos comemoravam o centenário no Ginásio Geraldo Magalhães, em Recife, mais conhecido como Geraldão, eu não fui, não porque não fosse batista, mas porque tinha optado em ir para minha igreja local, da qual eu sentia muita falta. Sabia do evento, havia sido muito divulgado, além do mais, o preletor era alguém que eu admirava desde a minha infância, sempre idealizei grandes pregadores, gostava de ouvi-lo e depois me trancar no banheiro e imitá-lo pregando. Era um ícone para mim, um modelo a ser seguido. Eu tinha por hábito brincar com minhas irmãs de “igrejinha”, elas dirigiam o culto, e eu, mesmo que mais novo que elas, pregava ao final do cultinho. Sempre, em toda e qualquer situação eu dizia que seria pastor quando me perguntavam sobre meus planos para o futuro. Pensava até em ser missionário nos países do leste europeu, tinha lido muita literatura sobre a Cortina de Ferro, era um adolescente cheio de ideologias, Ivan, Perdoa Natasha, Torturado por sua Fé e Torturado por amor a Cristo eram livros de cabeceira, eu sabia de cor as histórias narradas neles. Richard Wumbrand[1], mais do que pastor e porta-voz da igreja perseguida, era um herói para mim.

Quando entrei no alojamento, o mesmo estava na penumbra, o “Toque de Silêncio Obrigatório” já havia soado, visualizei o Gilberto, sujeito estranho, gente boa, mas estranho, magro, pequeno, dotado de um aparato cefálico avantajado, usava um par de óculos de armação preta e grossa e as lentes eram bastantes “generosas”, para não dizer que eram literalmente um “fundo de garrafa”, o conjunto facial do mesmo parecia uma caricatura de Crumb, antes que alguém me pergunte quem é Crumb, favor olhar a nota de rodapé[2], era um verdadeiro "bola sete" (epíteto utilizado na Marinha para aquelas pessoas que são sonsas, fingem serem bem comportadas, mas na verdade aprontam mais do que os demais), estava sentado numa cama abaixo da minha no treliche que ocupávamos, ouvia uma programação pelo rádio, numa estação de frequência modulada, me aproximei ao perceber que era uma pregação, mesmo vindo da igreja eu estava árido, algo estava mexendo com o meu espírito naqueles dias, me sentia insatisfeito com os rumos que a minha vida estava tomando. Ir para o Rio de Janeiro estava me dando um vazio enorme, a possibilidade de passar os próximos anos à bordo de um navio, sem poder estudar, sem poder filiar-me a uma igreja, sem família por perto, sem alguns lastros importantes, enfim, estava me sentindo perdido.

Perguntei-lhe quem estava pregando, ele então me disse que era o Pastor Nilson do Amaral Fanini, expoente da denominação batista, o sermão estava sendo reprisado pela rádio, já que o mesmo tinha sido pregado na tarde daquele dia. Perguntei-lhe se era evangélico, ele me confirmou que era sim, era filiado à denominação batista.

Tão logo eu me sentei ao seu lado, o volume do rádio estava baixo, corríamos o risco de sermos punidos por estarmos atrapalhando o sono dos que já roncavam, ouvi quando Fanini, naquela voz anasalada que tanto o caracterizava, bradou: “Jonas, aonde você pensa que vai? Se continuar fugindo de mim, eu posso afundar o navio em que está! Eu posso mandar uma tormenta para que balance este navio até que você resolva voltar”. Era este o tom da mensagem que ele proferira naquele dia, as palavras podem não ser exatamente essas, mas era com esse espírito, já fazem 25 anos desde então, não conseguiria reproduzir com exatidão, ipsis litteris, letra por letra, o que ele disse.

Encolhi-me no lugar onde estava, não dei mais nenhuma palavra, aquelas palavras ditas de chofre me atingiram como um tijolo na face, não pestanejei e nem titubeei, elas eram dirigidas a mim. Desde os meus sete anos de idade que eu demonstrava vocação para o ministério pastoral, e por muitas vezes tentei entrar em dois seminários, um da Missão Novas Tribos do Brasil, no qual eu seria missionário e outro da denominação batista, mas sem sucesso, os dois me recusaram por ser muito novo. Frustrado com isso e sem paciência para esperar, fiz concurso para uma academia naval e fui aprovado, ingressei na mesma com a certeza de que seguiria carreira militar, tinha de tudo para ser um bom militar, disso eu sabia, até aquela noite, meu sonho se desfez no momento que Fanini falou para os “Jonas” que estavam se distanciando da vontade de Deus, que Deus não iria permitir que um navio atrapalhasse o seu propósito. Senti medo, mal consegui dormir naquela noite, no dia seguinte ao acordar, eu já sabia que pediria baixa. Não estava agindo exatamente pelos mesmos motivos que Jonas, pois eu não estava fugindo da obrigação confiada por Deus, eu estava chateado por conta de não ter sido aceito numa Escola de Profetas, mas a fuga era a mesma. Era tão desobediente quanto ele.

No outro dia, 1º de abril, procurei o comandante do corpo de alunos para comunicar a minha decisão, Capitão Tenente Paulo, dentista, já tinha feito tratamento odontológico com ele, sem que trocasse uma palavra sequer comigo, sujeito sério, taciturno, semblante sombrio e fechado, só o fato de falar com ele já era um desafio, quanto mais pedir desligamento no apagar das luzes do curso preparatório, ele acatou, não sem antes me aconselhar a mudar de ideia, meus colegas de farda achavam que eu estava brincando, pois era “Dia da Mentira” e eu era considerado um dos mais aguerridos alunos, tinha a fama de ser bom militar, ninguém acreditou em mim. Eu além de sargenteante, responsável pela escala de serviço dos plantões e da guarda, era o “mais antigo” do pelotão, jargão para o líder, eu havia sido escolhido mais por minha capacidade de liderança e comando do que por minha numeração, pois o verdadeiro “mais antigo” não sabia liderar, e isso para um militar era ruim, como eu já havia aprendido algo na igreja, não tive muitas dificuldades, mesmo à contragosto dos colegas, visto que eu era o 40º de 52, fui colocado à frente do pelotão como o líder e minha obrigação era conduzi-lo em todas as apresentações e formações que fizéssemos, isso quer dizer o dia todo, já que nunca ficávamos à vontade numa academia militar.

Para receber a devida baixa tive que ser submetido a exames médicos, constataram que eu tinha uma pneumonia, eu nem sequer tinha indícios disso, não sei se tinha mesmo, ou se foi uma forma de me fazer desistir, pois a Marinha não gostava de investir em alguém e depois esse alguém ir embora sem corresponder devidamente aos investimentos efetuados. Passei mais de um mês ainda, até que fizesse novo exame e recebesse a liberação definitiva. Chorei ao sair da Escola, não por saudades, ou tristeza, mas por enxergar a grandeza do que me esperava, do que estava diante de mim, do horizonte que vislumbrava. Saí com a alma cheia de paixão, cheio de sonhos e planos.

No dia 19 de setembro de 2009, um sábado, 23 anos depois do ocorrido que acabei de narrar, o Pastor Fanini faleceu durante a madrugada, em Dallas, Texas, aos 77 anos, ele tinha sido presidente da Convenção Batista Brasileira (CBB), da Aliança Batista Mundial (BWA, a sigla em inglês), com ampla projeção de sua liderança internacional e foi o fundador do programa de televisão “Reencontro”.

Fanini tinha viajado aos Estados Unidos com a esposa, Helga, para conhecer sua mais nova neta. No vôo, ele sentiu-se mal por causa de pneumonia e, posteriormente, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), que atingiu três partes do seu cérebro. Esteve internado no hospital de Dallas. Médicos constataram que a situação dele era irreversível, o que levou-os a desligarem os aparelhos. O funeral foi realizado nos Estados Unidos.

Fanini era paranaense de Curitiba, 18 de março de 1932. Aos 12 anos, converteu-se e foi batizado. Ao concluir o período de serviço militar obrigatório, Fanini passou a cursar o Seminário Menor no Instituto Teológico A. B. Deter, na capital paranaense, e seguiu, depois, ao Seminário Teológico do Sul do Brasil, completando o curso em 1955. Ele foi consagrado ao ministério pastoral em novembro de 1955, na Igreja Batista da Tijuca, no Rio de Janeiro. Ano seguinte, casou-se com Helga, com quem teve três filhos: Otto Nilson, Roberto e Margareth. Fez mestrado nos Estados Unidos no Southwestern Baptist Theological Seminary, em Fort Worth, Texas. Ao retornar ao Brasil, passou a pastorear a Primeira Igreja Batista de Vitória, no Espírito Santo, onde atuou de 1958 a 1964, quando assumiu a Primeira Igreja Batista de Niterói, na qual trabalhou 41 anos. Após aposentar-se, continuou ligado ao ministério pastoral da Igreja Batista Memorial, de Niterói.

Certamente que ele jamais soube que eu desisti da carreira militar e abracei a carreira eclesiástica por uma palavra dita no meio de um sermão, ele que também desistiu da carreira militar no Exército. Devo a um sermão dele uma mudança drástica em minha carreira, talvez a mudança nem tenha sido tão grande assim, já que meu propósito original tinha sido de ser pastor desde que me entendia por gente, mas o fato de retomar o objetivo original não foi fácil, e até hoje 25 anos depois, vejo que não seria fácil nunca.

Como já disse em vários textos deste blog, desisti de ser pastor há muito tempo, por opções conflitantes com o ministério que tomei, ou tive que tomar, em minha vida, mas ainda lembro com emoção, e com uma paixão nostálgica que faz com que aquele momento fique marcado para sempre em minha mente, aquela noite de 1986, se eu estivesse lá outra vez, certamente que teria tomado a mesma decisão, teria cometido menos erros, e provavelmente não me sentiria mais uma vez como Jonas, sempre fugindo, sempre em meio às tempestades. Mas ainda há tempo, há tempo?

____________________________________________________
1 Richard Wurmbrand (Março 24, 1909 – Fevereiro 17, 2001) era um Romeno evangélico. Pastor e escritor. Ele foi o fundador da Organização Internacional Voz dos Mártires ou The Voice of the Martyrs. Fonte: www.wikipedia.com Verbete: Wurmbrand.
2 Robert Crumb (30 de agosto de 1943, Filadélfia, Pensilvânia) é um artista gráfico e ilustrador, reconhecido como um dos fundadores do movimento underground dos quadrinhos americanos, sendo considerado por muitos uma das figura mais proeminentes deste movimento, cujo ponto de partida foi publicação do gibi artesanal, Zap Comix, idealizado por ele. Fonte: www.wikipedia.com Verbete: Crumb.

Tua canção meu pai!!!

 
Esta não foi escrita para você, mas o que ela retrata é a tua vida, a tua partida, a tua última viagem, viagem sem volta. Hoje eu a escuto para lembrar de tua força, tua coragem, e sobretudo de teu caráter. Até breve vaqueiro, meu herói!

Pai

Pai!

Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez...

Pai!
Pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre
Esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz...

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...

Pai!
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga prá ver...

Pai!
Me perdoa essa insegurança
Que eu não sou mais
Aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu...

Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Prá pedir prá você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar

Ah! Ah! Ah!...

Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz

Pai! Paz!...

Composição: Fábio Jr.

[Este é um canto que desde pequeno me fazia sentir um aperto no peito, hoje que eu não tenho mais a tua companhia, torna o aperto insuportável, dói a saudade, dói tua falta, dói a ausência de teu sorriso. Até breve pai, até breve profeta, até breve herói. Hoje completarias 71 anos, este é para que os 05 longos anos de tua partida se encurtem.]

Sua Graça Revmª D. Rowan Williams

Já se vão mais de 1.400 anos, desde que o beneditino Agostinho desembarcou como bispo na Inglaterra no outono de 597, enviado pelo Papa Gregório Magno, o iniciador da Idade Média, para representar a Sé romana na Bretanha. A obra dele consistiu em levar o evangelho aos povos bárbaros que então habitavam a ilha.

Como sinal da incalculável herança histórica e de renovo, os mais de 70 milhões de anglicanos espalhados pelo Mundo, em comunhão com a Sé de Cantuária, têm novo líder espiritual desde o último dia 27/02. Por meio de ritual que se perpetua milenarmente, foi entronizado Sua Graça D. Rowan Williams, o 104º Arcebispo de Cantuária, dele se pode dizer que nasceu para a púrpura. O galês Rowan, é o primeiro arcebispo de Cantuária, desde o Século XVI que não pertence à Igreja da Inglaterra, além de ser o mais jovem, dos últimos tempos. Piedoso, possuidor de espiritualidade profunda, reconhecidamente culto, porém dotado de humildade verdadeira, todos o tratam pelo primeiro nome, coisa pouco comum na fleumática Inglaterra.

Certamente que, uma das tônicas de seu arquiepiscopado será engajar mais ainda, a Igreja da Inglaterra com a sociedade e com a cultura. Se ela seguir seu exemplo pessoal, certamente que se envolverá, e muito, em questões sociais e éticas. Em 1980, quando ainda era o capelão no Claire College, participou de um protesto a favor do desarmamento nuclear, em Cambridge, na frente da base aérea norte-americana, acabou preso. Ele também é contra a guerra no Iraque, acredita que ela segue intenções escusas, que não justificam o morticínio que acontecerá, considera-a como "imoral". Chegou a criticar veementemente o ataque ao Afeganistão, além de defender a abolição das sanções contra o Iraque. De outra feita "orientou" o primeiro-ministro Tony Blair, anglicano, a empregar ética no comércio internacional de armas, e ressaltou a obrigação que ele tem, (Blair) de diminuir os índices de pobreza e de fome no Mundo.

É crítico ferrenho na área de política e voz ativa clamando contra a injustiça social. Não é arcebispo por geração espontânea, foi eleito por vontade da igreja, por vontade de Deus. Teologicamente ele é o que se pode chamar de conservador ou ortodoxo, pois defende Verdades Credais: encarnação de Deus, nascimento virginal, ressurreição histórica de Jesus. "... O vento sopra onde quer..." Esse sopro de Deus que atinge a Igreja da Inglaterra, prenuncia o seu renovar contínuo pelo Espírito, é resposta à oração: "... dirige o que seremos...". Sopra Senhor!

Diário de Pernambuco Edição de Sexta-Feira, 21 de Março de 2003

Richard Shaull

"Não sabeis que hoje caiu um grande homem?" Estas palavras ditas há séculos pelo rei-poeta Davi, bem poderiam ter sido ditas para Richard Shaull em 25/10/2002. Um dos precursores da Teologia da Libertação. Ele teve uma passagem controvertida nas igrejas presbiterianas brasileiras. Através de seu discurso profético, conseguiu que os evangélicos discutissem o tema da responsabilidade social da igreja, durante o regime ditatorial de 60, quando falar de social era coisa de comunista nos ambientes conservadores do protestantismo indígena.

Foi um dos ícones do ecumenismo no Brasil. Conseguiu que cabeças importantes daquela década lessem autores europeus e americanos, que não se enquadravam no leito de Procrusto do evangelicalismo de então. Os jovens precisavam de referências, precisavam de um profeta, e encontraram em Shaull essa pessoa. Gente como Rubem Alves, João Dias, Áureo Bispo, e tanto outros beberam de suas palavras, e na hora em que foram requisitados, se fizeram presentes, na luta contra o autoritarismo que imperava nos meios eclesiásticos.

Rubem Alves, amigo e discípulo fiel, escreveu: "... Agora ele ficou encantado. Partiu. É certo que plantarei uma árvore para ele no meu lugarzinho solitário, no alto de uma montanha, à beira de um vulcão, junto com as árvores de outros conspiradores... quando não houver ninguém por perto, as árvores conversarão entre si...".

Richard Shaull, antes de vir para o Brasil, havia sido expulso da Colômbia pelos católicos, e aqui foi expulso pelos protestantes, e mesmo assim, teimava em anunciar para todos os lados os seus ideais de ecumenismo. "... Para que sejam um..." era sua singela oração. Tal como a flor perfuma a mão que a arranca, Shaull brinda seus algozes com amor e defende o direito deles de falar e pensar. Para gente como ele o escritor sagrado diz: "... homens dos quais o mundo não era digno..." - Até breve profeta!

Diário de Pernambuco Edição de Sexta-Feira, 24 de Janeiro de 2003

Tears in heaven

Tears in heaven - Lágrimas no paraíso
Eric Clapton



Would you know my name
Você saberia meu nome

 If I saw you in heaven?
Se eu te encontrasse no paraíso?

 Would it be the same
Seria a mesma coisa

 If I saw you in heaven?
Se eu te encontrasse no paraíso?

 I must be strong
Eu tenho de ser forte

 And carry on
E prosseguir

'Cause I know I don't belong
Porque eu sei que não pertenço

 Here in heaven
Aqui ao paraíso

Would you hold my hand
Você seguraria minha mão

 If I saw you in heaven?
Se eu te encontrasse no paraíso?

 Would you help me stand
Você me ajudaria a suportar

 If I saw you in heaven?
Se eu te encontrasse no paraíso?

I'll find my way
Eu encontrarei meu caminho

Through night and day
Através da noite e dia

'Cause I know I just can't stay
Porque eu sei que simplesmente não posso ficar

Here in heaven
Aqui no paraíso

Time can bring you down
O tempo pode deixar você desanimado

Time can bend your knees
O tempo pode dobrar seus joelhos

Time can break your heart
O tempo pode partir seu coração

Have you begging please
Te deixar suplicando por favor

Begging please
Suplicando por favor

Beyond the door
Além da porta

There's peace, I'm sure
Existe paz, eu tenho certeza

 And I know there'll be no more
E sei que não haverá nunca mais

Tears in heaven
Lágrimas no paraíso