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Alívio após uma doença


Jair acordou a meio da noite. Mandara colocar uma cama dentro do closet e era ali que dormia. Durante o dia tirava a cama, instalava uma secretária e recebia os filhos, os ministros e os assessores militares mais próximos.

Alguns estranhavam. Entravam tensos e desconfiados no armário, esforçando-se para que os seus gestos não traíssem nenhum nervosismo. Interrogado a respeito pela Folha de São Paulo, o deputado Major Olímpio, que chegou a ser muito próximo de Jair, tentou brincar: “Não estou sabendo, mas não vou entrar em armário nenhum. Isso não é hétero.” Michelle, que também se recusava a entrar no armário, fosse de dia ou de noite, optou por dormir num outro quarto do Palácio da Alvorada.

Aliás, o edifício já não se chamava mais Palácio da Alvorada. Jair oficializara a mudança de nome: “Alvorada é coisa de comunista!” — Esbravejara: “Certamente foi ideia desse Niemeyer, um esquerdopata sem vergonha.”

O edifício passara então a chamar-se Palácio do Crepúsculo. O Presidente tinha certa dificuldade em pronunciar a palavra, umas vezes saía-lhe grupúsculo, outras prepúcio, mas achava-a sólida, máscula, marcial. Ninguém se opôs.

Naquela noite, pois, Jair Messias Bolsonaro despertou dentro de um closet, no Palácio do Crepúsculo, com uma gargalhada escura rompendo das sombras. Sentou-se na cama e com as mãos trêmulas procurou a glock 19, que sempre deixava sob o travesseiro.

— Largue a pistola, não vale a pena!

A voz era rouca, trocista, com um leve sotaque baiano. Jair segurou a glock com ambas as mãos, apontando-a para o intenso abismo à sua frente:

— Quem está aí?

Viu então surgir um imenso veado albino, com uma armação incandescente e uns largos olhos vermelhos, que se fixaram nos dele como uma condenação. Jair fechou os olhos. Malditos pesadelos.

Vinha tendo pesadelos há meses, embora fosse a primeira vez que lhe aparecia um veado com os cornos em brasa. Voltou a abrir os olhos. O veado desaparecera. Agora estava um índio velho à sua frente, com os mesmos olhos vermelhos e acusadores:

— Porra! Quem é você?

— Tenho muitos nomes. — Disse o velho. — Mas pode me chamar Anhangá.

— Você não é real!

— Não?

— Não! É a porra de um sonho! Um sonho mau!

O índio sorriu. Era um sorriso bonito, porém nada tranquilizador. Havia tristeza nele. Mas também ira. Uma luz escura escapava-lhe pelas comissuras dos lábios:

— Em todo o caso, sou seu sonho mau. Vim para levar você.

— Levar para onde, ô paraíba? Não saio daqui, não vou para lugar nenhum.

— Vou levar você para a floresta.

— Já entendi. Michelle me explicou esse negócio dos pesadelos. Você é meu inconsciente querendo me sacanear. Quer saber mesmo o que acho da Amazônia?! Quero que aquela merda arda toda! Aquilo é só árvore inútil, não tem serventia. Mas no subsolo há muito nióbio. Você sabe o que é nióbio? Não sabe porque você é índio, e índio é burro, é preguiçoso. O pessoal faz cordãozinho de nióbio. As vantagens em relação ao ouro são as cores, e não tem reação alérgica. Nióbio é muito mais valioso que o ouro.

O índio sacudiu a cabeça, e agora já não era um índio, não era um veado — era uma onça enfurecida, lançando-se contra o presidente:

— Acabou!

Anhangá colocou um laço no pescoço de Jair, e no instante seguinte estavam ambos sobre uma pedra larga, cercados pelo alto clamor da floresta em chamas. Jair ergueu-se, aterrorizado, os piscos olhos incrédulos, enquanto o incêndio avançava sobre a pedra:

— Você não pode me deixar aqui. Sou o presidente do Brasil!

— Era. — Rugiu Anhangá, e foi-se embora.

Na manhã seguinte, o ajudante de ordens entrou no closet e não encontrou o presidente. Não havia sinais dele. “Cheira a onça”, assegurou um capitão, que nascera e crescera numa fazenda do Pantanal. Ninguém o levou a sério.

Ao saber do misterioso desaparecimento do marido, Michelle soltou um fundo suspiro de alívio.

Os generais soltaram um fundo suspiro de alívio. Os políticos (quase todos) soltaram um fundo suspiro de alívio.

Os artistas e escritores soltaram um fundo suspiro de alívio. Os gramáticos e outros zeladores do idioma, na solidão dos respetivos escritórios, soltaram um fundo suspiro de alívio.

Os cientistas soltaram um fundo suspiro de alívio. Os grandes fazendeiros soltaram um fundo suspiro de alívio.

Os pobres, nos morros do Rio de Janeiro, nas ruas cruéis de São Paulo, nas palafitas do Recife, soltaram um fundo suspiro de alívio.

As mães de santo, nos terreiros, soltaram um fundo suspiro de alívio.

Os gays, em toda a parte, soltaram um fundo suspiro de alívio.

Os índios, nas florestas, soltaram um fundo suspiro de alívio.

As aves, nas matas, e os peixes, nos rios e no mar, soltaram um fundo suspiro de alívio.

O Brasil, enfim, soltou um fundo suspiro de alívio — e a vida recomeçou, como se nunca, à superfície do planeta Terra, tivesse existido uma doença chamada Jair Messias Bolsonaro.

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Publicado originalmente na revista “Visão” de Portugal. Reproduzido no blog do Juca Kfouri.
Por José Eduardo Agualusa

Fonte: https://www.brasil247.com/cultura/escritor-angolano-descreve-o-triste-fim-de-jair-messias-bolsonaro?fbclid=IwAR3SKBlHl6s4WL5xjFvLRxpGvrN7u8GoLC_ZKDmUX3E3JchB5kZX5gMX1js

O caminho de Barrabás



Eu dava assistência pastoral a uma pequena comunidade presbiteriana na periferia do Recife. Tentava, não com muito sucesso, equacionar o ministério pastoral com uma nascente e promissora carreira acadêmica teológica. Antes mesmo de concluir o bacharelado em teologia eu já atuava como professor de diversas disciplinas nas turmas de noviços (os calouros, como chamávamos) e de segundo ano. Por conta dessa atuação numa instituição de muito prestígio na região, expandi a carreira para outras instituições de ensino teológico, ser professor então me atraía muito mais que ser pastor. Usava a pequena comunidade que assistia como laboratório de exposição bíblica, aquilo que mais me atraía na área depois das disciplinas de história da igreja e de Israel.

Um dia, resolvi fazer uma exposição dos evangelhos no que era denominado de “Culto de Doutrina”, tomando por base o evangelho de Lucas e cotejando com as passagens paralelas dos demais sinóticos (os que tinham a mesma visão que Lucas: Mateus e Marcos). Quando tangenciei o capítulo 27 de Mateus, que tratava da experiência de Pilatos com o Nazareno eu, que buscava a interação com o grupo, perguntei: - Quem era Barrabás e qual o crime que ele cometeu? A irmã Diana, lépida como sempre, levanta a mão e brada: “- Ele estuprou uma moça!”. Eu fiquei pasmo, extático. Já havia lido a bíblia toda diversas vezes e, obviamente nunca me deparara com tal afirmação. Olhei para a irmã Diana e perguntei: - Onde você leu isso? Ao que ela me respondeu em meio ao espanto geral dos que estavam na igreja naquela noite: “- Na bíblia, olhe aqui em Lucas, 23:17, e Barrabás havia sido preso por sedição na cidade e por ter cometido um crime” (suponho hoje que a versão que ela usava era alguma antiga de Figueiredo ou Almeida, versão corrigida). O resto do culto eu tive que explicar a diferença entre sedição e “sedução” (ela havia confundido os termos e tirado conclusões a partir dessa interpretação), e foi, talvez, a exegese laica mais inusitada que me deparei na vida sacerdotal.

Nas tradições armênia e siríaca há manuscritos dos evangelhos que dão testemunho que o nome do preso que Pilatos apresentou como alternativa para ser solto por ocasião da prisão de Jesus, era Jesus, o Barrabás (Filho do pai em aramaico, ou talvez, segundo alguns estudiosos: “filho de um rabino”), que teria sido suprimido pelos escribas em respeito ao Jesus, o Nazareno. Já que a história que estava sendo contada era a de Jesus, o chamado Cristo, não fazia sentido que outro lhe ofuscasse (Jesus era um nome muito comum naquela época). Barrabás é mais um título do que nome próprio, e é correto afirmar que Jesus, o Nazareno, também podia ser chamado de Barrabás, já que ele se posicionava como “Filho do Pai”. Então fica fácil entender essa supressão pelos copistas dos manuscritos.

Quem era então esse prisioneiro, segundo o fraseado da Bíblia de Jerusalém, acusado de motim e homicídio? O texto já nos deixa saber de antemão que ele era bastante conhecido e gozava de boa fama com o povo. Qual o motivo desta fama e qual parte da população (a sociedade judaica da época era bastante fragmentada) lhe tinha apreço? Em Marcos 15:7 somos informados que ele era um dos “amotinadores que, numa revolta, haviam cometido um homicídio”, em outras palavras, um assassino e revolucionário. É bastante razoável pensar que ele fosse o líder de um motim contra os romanos liderados por Pilatos (quando este tentou usar os fundos financeiros do Templo em proveito próprio), tinha cometido o mesmo crime que os judeus atribuíram falsamente ao Nazareno. Alguns estudiosos pensam, não sem embasamento, que ele fosse um sicário (em latim: sicarius - “homem da adaga”; grupo que promovia atentados contra os romanos e a elite judaica que colaborava com o regime intervencionista, usavam as adagas escondidas no manto, praticavam atentados contra os alvos inimigos no meio da multidão e depois sumiam sem deixar vestígios). Tal grupo tinha aceitação entre o populacho que era espoliado, tanto pelos ricos judeus colaboracionistas quanto pelos romanos, logo não causa surpresa alguma sua escolha por aqueles que o tinham como herói.

Houve uma combinação de forças da aristocracia com a massa pobre e manipulável (boa parte era de áreas rurais e estava em Jerusalém apenas para as festividades pascais) na escolha de Barrabás. O que precisa ser percebido é que, quando os judeus gritaram o nome de Barrabás, eles escolheram simultaneamente, intrinsecamente, o caminho da violência, do arbítrio, da Lei do Talião [da retaliação], do sangue, da vingança, da Lei inclemente e excludente mosaica, da força das armas. Era o regime do olho por olho, dente por dente, bastante atrativo para um povo que havia perdido a liberdade há bastante tempo e se acostumara com a opressão. Esse discurso encontrou guarida nos corações do piedoso, porém oprimido povo de Israel. É possível acreditar que a revolta de Barrabás contra o saque que Pilatos fizera nos fundos do templo, lhe angariou também a simpatia dos sacerdotes que viam com desgosto e desconfiança a ingerência romana no seu espaço sagrado. Eu denominaria este viés escolhido por uma turba ensandecida como o Caminho de Barrabás, em contraposição ao Caminho do Nazareno.

Nasci na tradição calvinista puritana, no melhor sentido que este termo possui. Cresci ouvindo Dona Guiomar ler um “jogral” todo ano por ocasião do 31 de outubro (na Igreja Presbiteriana do Brasil em Monteiro, Paraíba), Dia da Reforma Protestante, dia em que Lutero fixou suas 95 Teses na porta da Capela de Wittenberg, teses estas que eram uma declaração escrita para abrir um debate sobre a venda de indulgências pela Igreja Católica. Eu sabia de cor sua história, tinha apreço pela história de Savonarola, John Wycliffe, Ulrich Zwínglio, Jan Huss e o mais notável de todos para mim: João Calvino. Eu tinha pouco mais de cinco anos de idade. Fico surpreso até hoje quando vejo muitas pessoas se denominarem “calvinistas”, pois sei que muitos sequer leram o mínimo de Calvino, eu li As Institutas em espanhol e posteriormente no português rebuscado e incompreensível de Waldir Carvalho Luz, além de vários comentários bíblicos, e não julgo que tenha conseguido compreender com propriedade o pensamento teológico dele.

Até os 12 anos permanecemos nesta tradição, quando urgências familiares nos conduziram a uma igreja presbiteriana que havia abraçado o pentecostalismo da década de 1970, éramos então presbiterianos “renovados” como se chamava à época. Foi um momento difícil para mim, tive que passar por um processo de desconstrução doutrinária, até que resolvi cursar teologia depois que abandonei a carreira militar na Marinha, entrei numa instituição também presbiteriana de cunho anti-pentecostal (da linha de Carl McIntire do ICCC – Concílio Internacional de Igrejas Cristãs, que morreu execrado por seus pares, quando se descobriu que era um agente da CIA), que me fez retornar à tradição da infância. Pude assim ter acesso a lados opostos do que chamaria de “protestantismos”, já que considero impróprio falar de protestantismo brasileiro, tal é o caráter multifacetado deste (fui presbiteriano moderado, pentecostal, fundamentalista e da Igreja Presbiteriana Unida, de orientação da Teologia da Libertação, tudo isso numa vida só).

Com a aproximação com Robinson Cavalcanti (ícone da minha infância a quem tinha acesso através da revista Ultimato), bispo anglicano de Recife, eu me senti aceito naquela tradição de caráter tão heterogêneo e ecumênico, eu podia ser calvinista, esquerdista, não ter uma visão literalista da bíblia e ainda assim ser aceito. Porém, ser aceito incondicionalmente implicava em aceitar o outro incondicionalmente, o que nem sempre é verdade e a história da Diocese Anglicana do Recife serve como amostra de que é fácil falar de tolerância e inclusividade, desde que estas “diferenças” sejam apenas litúrgicas, ou seja, puramente cosméticas.

Hoje, primavera de 2018 (outubro, 26), a grande maioria dos líderes eclesiásticos brasileiros induziu seus rebanhos (segundo alguns votos de cajado, segundo minha visão, voto de cabresto mesmo) a escolher o mesmo caminho que a aristocracia judaica e o movimento sacerdotal induziram o povo judeu a escolher naquele fatídico dia: o Caminho de Barrabás! Mesmo sabendo quais foram as consequências da escolha feita pelo populacho judeu no primeiro século da Era Comum.

Não tenho como ficar indiferente às escolhas que foram feitas, no aço que fui temperado não há incoerência, seja política, social, intelectual ou religiosa, também não conheço a categoria da indiferença. Em virtude dessa escolha em massa, venho por meio deste manifestar publicamente algo que já fiz na prática há alguns anos, desde 2013 para ser preciso: corto todo e qualquer laço de ligação, seja histórico, seja cúltico, seja de herança, com o protestantismo brasileiro. Aos muitos amigos dessa tradição, por favor, não me considerem mais vosso irmão, posso ser e vou continuar sendo vosso amigo, mas não irmão.

Não posso ser irmão de quem escolheu o Caminho de Barrabás, mesmo sabendo que é um caminho de violência, um caminho do mal, um caminho de derramamento de sangue inocente. Não posso ser irmão de quem apoia um regime que será homofóbico e estimulará a violência contra aqueles que pensam sua sexualidade “supostamente” de forma distinta da maioria. Não posso ser irmão de quem propiciou que um regime racista e fascista chegasse ao poder por meio do voto. Não posso ser irmão de quem contribuiu para que a misoginia seja legalizada e regulamentada no país. Não posso ser irmão de quem votou num candidato que fez do discurso de liberação das armas a única proposta real e concreta de sua plataforma de governo. Não posso chamar de irmão quem deixou o ódio dominar o coração a ponto de ficar cego às verdades que eram postas todos os dias, aos apelos e clamores das minorias e daqueles que sabiam que seriam perseguidos no futuro. Não posso ser irmão de quem colaborou para colocar no poder um regime que pode me prender, me exilar ou me matar, pelo simples fato de que eu seja contrário ao que ele prega e defende e por eu ser também intransigentemente defensor da vida e dos direitos básicos do ser humano.

A leitura que aprendi a fazer do evangelho do Nazareno choca-se frontalmente com tudo o que vocês defendem, não posso sequer dizer uma boa parte de vocês, me desespero pensar que mais de 95% do evangelicalismo brasileiro adotou o Caminho de Barrabás. Acredito que o termo que melhor define a experiência evangélica brasileira é um trecho de uma música gospel: “Gadara é assim, ninguém se importa com os outros. Cada um vive pra si, alimentando os seus porcos. São indiferentes, vivem para seus interesses. Só querem ter! Querem ter! Só querem ter”. Não quero fazer parte sociedade de Gadara, vou apagar da minha história teu nome, não quero lembrar que um dia tive orgulho de ser cidadão de ti e a muitos convidei para que se tornassem cidadãos também, hoje sou peregrino em terras ermas, mas não beberei de tuas águas fétidas e nem dormirei em tuas camas de espinho. Parafraseando um antigo hino que eu sempre amei: Adeus Gadara, há Deus!

Eu vou continuar no Caminho do Nazareno, caminho difícil, cheio de pedras e espinhos, mas, neste caminho, quando parar para descansar e colocar a minha cabeça numa pedra, não terei nenhuma contradição ou incoerência para afastar meu sono, da mesma forma, quando diante do espelho não terei do que me envergonhar. Os que estão neste Caminho, estes sim, são meus irmãos (alguns são protestantes, outros católicos, alguns espíritas, outros de religiões de matriz africana, alguns ateus, alguns judeus, alguns sem religião, alguns gays, alguns indígenas, alguns negros, etc.), são poucos, porém são persistentes e determinados, não são movidos pela busca desenfreada por prosperidade ou poder, são movidos por três coisas apenas: a fé, a esperança e o amor, porém o maior destes é o amor.

"Sangue nas mãos"


Senhores (as) líderes evangélicos, graça, paz e discernimento!

As eleições se avizinham, e boa parte dos pastores de nosso país tem manifestado seu apoio à candidatura de Jair Bolsonaro. A maioria alega ser ele o que melhor representa os anseios do povo evangélico, principalmente devido ao seu discurso favorável à família tradicional e aos valores morais tão caros ao cristianismo.

De repente, sinto-me como se houvesse viajado no tempo e revivesse os dias da guerra fria, quando o mundo se via ameaçado pela eclosão de uma guerra nuclear envolvendo as duas potências mundiais: A União Soviética e os Estados Unidos. Colegas vociferam de seus púlpitos sobre o perigo do comunismo que ronda a nossa sociedade. Pergunto-me em que mundo estamos vivendo, afinal? Qualquer um que levante sua voz a favor do pobre, do excluído, do oprimido, logo é tachado de esquerdopata, comunista, “agente do inferno”, e coisa parecida.

Os senhores já pararam para se perguntar sobre o que estaria por trás deste discurso ultraconservador? Há uma onda conservadora varrendo a Europa e os EUA, suscitando velhos rancores contra os imigrantes, os homossexuais, as minorias, a classe operária, etc.

No meio desta avalanche de intolerância, eis que uma voz destoante se faz ouvir mundo afora. Não de um pastor como foi nos dias de Luther King nos EUA, ou de Bonhoeffer na Alemanha, mas de um Papa, líder da instituição mais conservadora do mundo. Por ironia, justamente o primeiro Papa latino-americano se levanta contra tudo e contra todos os que insistem em ressuscitar um discurso que há décadas parecia ter sido abandonado e enterrado. Enquanto isso, a igreja evangélica, que por tanto tempo esteve na vanguarda na luta pelos direitos humanos passa a se aliar com o que há de mais retrógrado e ultrapassado. Que vergonha! Tudo em nome de nossos escrúpulos moralistas.

Conseguiram a façanha de diluir o puro Evangelho da graça num discurso de ódio e intolerância.

Esquecemo-nos dos colegas que foram perseguidos, torturados, e, alguns até mortos e desaparecidos, durante o regime militar. Justificamo-nos no fato de que o tal candidato defenda os mesmos valores. Será que ser a favor da tortura soa menos cruel quando se é contrário ao aborto? Será que ser a favor do armamento da população condiz com o que foi ensinado por Jesus? Afinal, bem-aventurados são os pacificadores ou os que pretendem armar a população? Ser pela família tradicional abona a conduta de quem se revela contrário aos direitos trabalhistas conquistados a duras penas? Se você, pastor, é contra tais direitos, recomendo que não aceite mais dízimos de décimo-terceiro ou de férias de seus membros.

Não ajamos como o profeta Natan que encorajou a Davi a construir o templo, afirmando-lhe categoricamente que Deus o havia escolhido para aquela empreitada. Porém, o Senhor não o tinha autorizado a fazer tal coisa, de modo que, mesmo constrangido, teve que retornar ao rei e dizer-lhe a verdade. Por causa do sangue que havia em suas mãos, Deus não o designou para edificar Sua casa, ainda que já houvesse levantado todos os recursos para tal, e recebido do Senhor a planta, caberia ao seu sucessor tocar a obra.

Quem somos nós para abençoar o que Deus não abençoou? Quem somos nós para encorajar o que contraria frontalmente a Sua vontade?

Sei que muitos alegarão que tudo não passa de manipulação da mídia esquerdista. Mas basta assistir aos inúmeros vídeos de discursos e entrevistas do candidato para verificar que exatamente assim que ele pensa. Ele mesmo afirma que o trabalhador terá que escolher entre ter seus direitos assegurados ou o emprego. Ele é quem diz com todas as letras que o Estado não é laico, mas cristão e que as minorias terão que se dobrar à vontade das maiorias. Ele diz que seria incapaz de amar um filho homossexual e que a homossexualidade é falta de p*rrada na infância. Diz que não empregaria uma mulher, já que esta engravida. Diz que educou seu filhos para que jamais namorassem negras. Diz que em seu governo os índios não receberiam nem mais um centímetro de terra. Se ele é a favor da família tradicional, por que disse que usava o apartamento para “comer gente”? Como defender quem diz que uma mulher não merecia ser estuprada por ser feia? Como apoiar quem defende o uso da tortura se somos seguidores de um Cristo torturado e morto numa cruz? Como apoiar quem diz que ordenaria que helicópteros metralhassem uma favela se os criminosos não se rendessem? Será que na favela só mora bandido? Com que cara visitaremos os presídios para pregar o amor de Cristo depois de apoiar que tem como slogan “bandido bom é bandido morto”?

O sangue de toda uma geração poderá cair em nossas mãos!

Se você é pastor de uma pequena congregação, talvez esteja indo na onda de grandes líderes que já manifestaram seu apoio a Bolsonaro. Não seja ingênuo. Muitos deles o fazem, não por convicção, mas por conveniência, movidos por interesses nem sempre louváveis (alguns até sórdidos).

Lembre-se de quem nos considerou fiéis, pondo-nos em seu ministério (1 Timóteo 1:12), e que um dia, teremos que prestar contas (Hebreus 13:17).

Por isso, deixo aqui uma recomendação que deveria perturbar o sono de todos os que levam a sério o ministério pastoral:

“Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho.” 1 Pedro 5:2,3

Não compete a pastor algum dizer em quem seu rebanho deve votar. Mas compete-nos instrui-los a reconhecer os riscos por trás de todo discurso de ódio e intolerância.

Jesus disse que enquanto o bom pastor dá a vida pelas ovelhas, o ladrão, ao ver o lobo, foge e deixa suas ovelhas à mercê do perigo. Portanto, cumpramos nosso papel. Pois cuidar das ovelhas que nos foram confiadas é a melhor maneira de dizer: TU SABES QUE TE AMO, SENHOR.

Hermes Carvalho Fernandes é pastor, escritor, conferencista e teólogo com doutorado em Ciências da Religião e editor do blog HermesFernandes.com
Fonte: Sangue nas mãos

"I have a dream!"

“Estou feliz em me unir a vocês hoje naquela que ficará para a história como a maior manifestação pela liberdade na história de nossa nação.



Cem anos atrás um grande americano, em cuja sombra simbólica nos encontramos hoje, assinou a proclamação da emancipação [dos escravos]. Este decreto momentoso chegou como grande farol de esperança para milhões de escravos negros queimados nas chamas da injustiça abrasadora. Chegou como o raiar de um dia de alegria, pondo fim à longa noite de cativeiro.

Mas, cem anos mais tarde, o negro ainda não está livre. Cem anos mais tarde, a vida do negro ainda é duramente tolhida pelas algemas da segregação e os grilhões da discriminação. Cem anos mais tarde, o negro habita uma ilha solitária de pobreza, em meio ao vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o negro continua a mofar nos cantos da sociedade americana, como exilado em sua própria terra. Então viemos aqui hoje para dramatizar uma situação hedionda.

Em certo sentido, viemos à capital de nossa nação para sacar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república redigiram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de Independência, assinaram uma nota promissória de que todo americano seria herdeiro. Essa nota era a promessa de que todos os homens, negros ou brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca pela felicidade.

É evidente hoje que a América não pagou esta nota promissória no que diz respeito a seus cidadãos de cor. Em lugar de honrar essa obrigação sagrada, a América deu ao povo negro um cheque que voltou marcado “sem fundos”.

Mas nós nos recusamos a acreditar que o Banco da Justiça esteja falido. Nos recusamos a acreditar que não haja fundos suficientes nos grandes depósitos de oportunidade desta nação. Por isso voltamos aqui para cobrar este cheque –um cheque que nos garantirá, a pedido, as riquezas da liberdade e a segurança da justiça.

Também viemos para este lugar santificado para lembrar à América da urgência ferrenha do agora. Não é hora de dar-se ao luxo de esfriar os ânimos ou tomar a droga tranquilizante do gradualismo. Agora é a hora de fazermos promessas reais de democracia. Agora é a hora de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o caminho ensolarado da justiça racial. É hora de arrancar nossa nação da areia movediça da injustiça racial e levá-la para a rocha sólida da fraternidade. Agora é a hora de fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação passar por cima da urgência do momento e subestimar a determinação do negro. Este verão sufocante da insatisfação legítima do negro não passará enquanto não chegar um outono revigorante de liberdade e igualdade. Mil novecentos e sessenta e três não é um fim, mas um começo.

Os que esperam que o negro precisasse apenas extravasar e agora ficará contente terão um despertar rude se a nação voltar à normalidade de sempre. Não haverá descanso nem tranquilidade na América até que o negro receba seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a abalar as fundações de nossa nação até raiar o dia iluminado da justiça.

Mas há algo que preciso dizer a meu povo posicionado no morno liminar que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso lugar de direito, não devemos ser culpados de atos errados. Não tentemos saciar nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio.

Temos de conduzir nossa luta para sempre no alto plano da dignidade e da disciplina. Não devemos deixar nosso protesto criativo degenerar em violência física. Precisamos nos erguer sempre e mais uma vez à altura majestosa de combater a força física com a força da alma.

A nova e maravilhosa militância que tomou conta da comunidade negra não deve nos levar a suspeitar de todas as pessoas brancas, pois muitos de nossos irmãos, conforme evidenciado por sua presença aqui hoje, acabaram por entender que seu destino está vinculado ao nosso destino e que a liberdade deles está vinculada indissociavelmente à nossa liberdade.

Não podemos caminhar sozinhos.

E, enquanto caminhamos, precisamos fazer a promessa de que caminharemos para frente. Não podemos retroceder. Há quem esteja perguntando aos devotos dos direitos civis ‘quando vocês ficarão satisfeitos?’. Jamais estaremos satisfeitos enquanto o negro for vítima dos desprezíveis horrores da brutalidade policial.

Jamais estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados da fadiga de viagem, não puderem hospedar-se nos hotéis de beira de estrada e nos hotéis das cidades. Não estaremos satisfeitos enquanto a mobilidade básica do negro for apenas de um gueto menor para um maior. Jamais estaremos satisfeitos enquanto nossas crianças tiverem suas individualidades e dignidades roubadas por cartazes que dizem ‘exclusivo para brancos’.

Jamais estaremos satisfeitos enquanto um negro no Mississippi não puder votar e um negro em Nova York acreditar que não tem nada em que votar.

Não, não estamos satisfeitos e só ficaremos satisfeitos quando a justiça rolar como água e a retidão correr como um rio poderoso.

Sei que alguns de vocês aqui estão, vindos de grandes provações e atribulações. Alguns vieram diretamente de celas estreitas. Alguns vieram de áreas onde sua busca pela liberdade os deixou feridos pelas tempestades da perseguição e marcados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês têm sido os veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que o sofrimento imerecido é redentor.

Voltem ao Mississippi, voltem ao Alabama, voltem à Carolina do Sul, voltem a Geórgia, voltem a Louisiana, voltem aos guetos e favelas de nossas cidades do norte, cientes de que de alguma maneira a situação pode ser mudada e o será. Não nos deixemos atolar no vale do desespero.

Digo a vocês hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho.

É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e corresponderá em realidade o verdadeiro significado de seu credo: ‘Consideramos essas verdades manifestas: que todos os homens são criados iguais’.

Tenho um sonho de que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da irmandade.

Tenho um sonho de que um dia até o Estado do Mississippi, um Estado desértico que sufoca no calor da injustiça e da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e de justiça.

Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter.

Tenho um sonho hoje.

Tenho um sonho de que um dia o Estado do Alabama, cujo governador hoje tem os lábios pingando palavras de rejeição e anulação, será transformado numa situação em que meninos negros e meninas negras poderão dar as mãos a meninos brancos e meninas brancas e caminharem juntos, como irmãs e irmãos.

Tenho um sonho hoje.

Tenho um sonho de que um dia cada vale será elevado, cada colina e montanha será nivelada, os lugares acidentados serão aplainados, os lugares tortos serão endireitados, a glória do Senhor será revelada e todos os seres a enxergarão juntos.

Essa é nossa esperança. Essa é a fé com a qual retorno ao Sul. Com esta fé poderemos talhar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar os acordes dissonantes de nossa nação numa bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé podemos trabalhar juntos, orar juntos, lutar juntos, ir à cadeia juntos, defender a liberdade juntos, conscientes de que seremos livres um dia.

Esse será o dia em que todos os filhos de Deus poderão cantar com novo significado: “Meu país, é de ti, doce terra da liberdade, é de ti que canto. Terra em que morreram meus pais, terra do orgulho do peregrino, que a liberdade ressoe de cada encosta de montanha”.

E, se quisermos que a América seja uma grande nação, isso precisa se tornar realidade.

Então que a liberdade ressoe dos prodigiosos picos de New Hampshire.

Que a liberdade ecoe das majestosas montanhas de Nova York!

Que a liberdade ecoe dos elevados Alleghenies da Pensilvânia!

Que a liberdade ecoe das nevadas Rochosas do Colorado!

Que a liberdade ecoe das suaves encostas da Califórnia!

Mas não só isso – que a liberdade ecoe da Montanha de Pedra da Geórgia!

Que a liberdade ecoe da Montanha Sentinela do Tennessee!”

Que a liberdade ecoe de cada monte e montículo do Mississippi. De cada encosta de montanha, que a liberdade ecoe.

E quando isso acontecer, quando deixarmos a liberdade ecoar, quando a deixarmos ressoar em cada vila e vilarejo, em cada Estado e cada cidade, poderemos trazer para mais perto o dia que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestante e católicos, poderão se dar as mãos e cantar, nas palavras da velha canção negra, “livres, enfim! Livres, enfim! Louvado seja Deus Todo-Poderoso. Estamos livres, enfim!”.

Fonte do texto: Discurso de Martin Luther King
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Em 28 de agosto de 1963, o pastor e líder do movimento contra a segregação racial nos Estados Unidos Martin Luther King discursou sobre seu sonho de uma América (e um mundo) com igualdade entre negros e brancos. O discurso foi proferido em Washington, durante uma marcha que reuniu cerca de 250 mil pessoas contra as políticas racistas e pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Suas palavras ecoaram em um contexto de divisão e segregação racial no país que se colocava como moderno e como liderança mundial. Enquanto os norte-americanos possuíam as mais avançadas tecnologias e armas, negros eram impedidos de dividir espaços com brancos, o casamento entre negros e brancos era proibido e jovens afrodescendentes tinham acesso limitado à educação. Na Guerra Fria, os Estados Unidos faziam a propaganda de que aquele era o regime e o país onde todos gostariam de viver – exceto os negros, que tinham de se limitar aos assentos reservados nos ônibus. Desde que o pastor proferiu seu discurso há 50 anos, muitas leis segregacionistas foram derrubadas no país e muitos direitos foram garantidos aos negros. Ainda assim, as palavras do homem que virou símbolo da luta por vias não-violentas ainda têm a mesma força e urgência das décadas passadas.
A tradução é de Clara Allain.

Promete Mysha!


Promete que não vai crescer distante
Promete que vai ser pra sempre assim
Promete esse sorriso radiante
Todas as vezes que você pensar em mim

Promete cuidar bem dos seus cachinhos
E sempre me abraçar quando eu chegar
Promete sorrir sempre com os olhinhos

E cantar cantigas na sala de estar

Que eu prometo ser pra sempre o seu
Porto seguro
Eu prometo dar-te eternamente o meu amor

Promete aproveitar cada segundo
Desse tempo que já passa tão veloz
Me lembro quando você chegou nesse mundo
Sorrindo aos poucos quando ouvia a minha voz

E hoje corre pela sala
Brinca de existir
Giz de cera, pega-pega
Eu só sei sorrir
Ao imaginar você crescer

Para um pouco com a bagunça
Deixa eu te olhar
Que o tempo voa e olha só
Você sabe falar
E diz tudo que eu preciso escutar

Laialaiá

Promete ser pra sempre o meu menino
Me deixar cantar pra te fazer dormir
Que eu prometo que vou te cuidar pra sempre
Eu te amo infinito
Meu guri.

Composição: Ana Vilela




"The Sound of Silence" - The Maccabeats


Não vou colocar a letra da música, ela é por demais conhecida e uma belíssima canção de Paul Simon, quero entretanto, ressaltar o enredo do clipe e as imagens fortes que ele apresenta, sob uma crítica contundente ao universo interconectado que estamos vivendo. Cabe aqui uma pergunta: essa profusão de tecnologia é um avanço mesmo ou apenas uma forma de nos tornarmos menos humanos? Cada um responda como puder!

Clamor!


"Muito tempo depois, morreu o rei do Egito. Os israelitas gemiam e clamavam debaixo da escravidão; e o seu clamor subiu até Deus. Ouviu Deus o lamento deles e lembrou-se da aliança que fizera com Abraão, Isaque e Jacó. Deus olhou para os israelitas e viu qual era a situação deles. (…) [Deus disse ainda a Moisés]: "Eu sou o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó". Então Moisés cobriu o rosto, pois teve medo de olhar para Deus. Disse o Senhor: "De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, e também tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso desci para livrá-lo das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel: a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus. Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem. (Êxodo 2:23-25; 3:6-9 – Nova Versão Internacional)
Do dicionário: clamar (lat clamare) 1 Bradar, gritar, proferir em altas vozes. 2 Protestar, vociferar. 3 Exorar, implorar.4 Exigir, reclamar.

Em várias passagens a Bíblia afirma que Deus ouve o clamor do Seu povo e age em seu favor. O clamor do povo de Deus move o Seu Coração e O faz agir de forma absoluta, transformando a realidade, mudando a situação! O texto de Êxodo, acima, é um dos exemplos.

Mais do que uma oração de intercessão ou de petição, o clamor é uma oração de exigência, de protesto, diante de uma situação real que contraria o projeto de Deus e Sua promessa. O clamor revela principalmente, indignação! Deus ouve o clamor e se move porque o clamor representa também uma disponibilidade de mudança e de obediência à Sua Vontade por parte de quem clama!

O clamor significa total dependência à vontade de Deus e confiança em Seu Amor. Afinal, clamar é decorrente da percepção que todas as tentativas feitas por nós mesmos resultaram em fracasso, a realidade continua opressiva e a vida insuportável. O verdadeiro clamor surge desta percepção da realidade e da nossa incapacidade de mudar essa realidade por nós mesmos! Esgotaram-se todos os recursos humanos disponíveis. Nada resta senão clamar diante de Deus e abrir-se à Sua ação.

Não se trata de desespero! mas de profunda esperança na ação amorosa de Deus, e disponibilidade de agir conforme Deus dará, através do Seu Espírito, a inspiração e a direção para o movimento de mudança, estando Ele mesmo agindo conosco!

Portanto, o clamor não significa passividade na espera do agir de Deus, mas disposição e abertura da mente para perceber e acolher a orientação de Deus, e agir conforme tal orientação. Os israelitas clamaram e Deus levantou Moisés para comandar a ação do povo; Moisés fez sua parte, admoestando o Faraó e conclamando o povo; Deus fez sua parte agindo diretamente contra o Egito; o povo fez sua parte, dispondo-se a caminhar rumo ao desconhecido – uma nova terra, prometida por Deus – permitindo que Deus o guiasse através do deserto, por longo tempo... a nova realidade não acontece de imediato, implica em uma nova caminhada e disposição de caminhar!

Há momentos em nossa vida que precisamos clamar. Há momentos na vida da comunidade e da Igreja em que precisamos clamar! Não tenhamos medo de fazer isso, de protestar diante de Deus, pois Deus tem um compromisso conosco, o compromisso da Paternidade e da Maternidade. Clamar não é “cobrar de Deus”, mas afirmar que estamos dispostos a assumir nossa parte em Sua ação transformadora da realidade, que vamos agir, não mais sozinhos, mas com Ele!

A humanidade, e portanto a Igreja de Deus, vive hoje situações realmente complicadas. Quando analisamos friamente a realidade sentimo-nos impotentes. Há elites que governam tudo e impõem os valores da morte para garantirem sua vida. Como no antigo Egito! É necessário clamar diante de Deus! e seguir com Ele um novo caminho!

Podemos estar vivendo uma situação de vida complicada, com sérios problemas de saúde, com dificuldades financeiras, totalmente impotentes diante da situação. É necessário clamar diante de Deus e estar atento ao Seu mover, com disposição para seguir Sua orientação, e fazer o que nos couber fazer!

Não tenha receio! Deus te ama! Clama diante de Deus contra aquilo que te oprime, que te traz indignação! O Senhor ouvirá o teu clamor! e te dará forças para um novo caminhar, pois caminhará contigo!

Luiz Caetano, ost
Fonte: Paróquia Episcopal Anglicana São Paulo Apóstolo

“... derrota não é coisa de cristão...”


"Se levante do chão
Erga a sua cabeça,
Siga para o alvo
Que produz salvação,
Se levante do chão
Erga sua cabeça
Derrota não é coisa de cristão”.

Esta música da cantora “gospel” Thalyta, que foi tão tocada nas rádios e cantada nas igrejas na década de 90 não seria muito apreciada por alguns personagens da história da Fé, acho que Calvino, especialmente Kierkegaard, São João da Cruz e Santo Atanásio, além do próprio São Paulo não a apreciariam e nem endossariam tal teologia.

Um personagem em especial teria motivos de sobra para rejeitar esta música. Eu o chamaria de “Capitão Nascimento da Fé: Elias, o Tesbita. O estereótipo ideal para profeta no Primeiro Testamento. Ele é sem dúvidas, um dos personagens mais emblemáticos das escrituras sagradas, israelita, homem de princípios inegociáveis e de uma integridade invendável, tem sido, por séculos, admirado por cristãos, judeus e islamitas por seu engajamento na luta contra o domínio de Satã (que para ele poderia ser manifestado tanto pelas estruturas políticas, quanto pelas práticas das falsas religiões.), o seu engajamento foi muito além do discurso e da pregação imprecatória.

Alguns momentos de sua vida, como a luta com os profetas de Baal no Carmelo são dignas de um best seller ou de um filme que, facilmente levaria umas 15 estatuetas da Academia, alguns outros, bem mais intimistas, expondo uma humanidade que surpreende, seriam “extirpados” das escrituras, se isso fosse possível, por alguns pregadores modernos, mormente os defensores do modo da “Vida Vitoriosa”, pois contraria aquilo que ensinam nos púlpitos e nas redes de TV. Para estes, os cristãos fiéis, só vivem nas montanhas, nunca no “vale”, metáfora que utilizam para fases de depressão e dificuldades.

O capítulo 19 de I Reis começa dizendo que Acabe (Segundo os cronistas bíblicos, o pior rei do norte que Israel já teve, seguidor de cultos da fertilidade canaanitas por influência de sua esposa Jezabel, que por sua índole, teve o nome transformado num adjetivo que caracteriza tudo o que é de idólatra e pernicioso) contou a Jezabel o que Elias fizera aos seus favoritos: “... e como havia matado todos aqueles profetas à espada. Por isso Jezabel mandou um mensageiro a Elias para dizer-lhe: "Que os deuses me castiguem com todo o rigor, caso amanhã nesta hora eu não faça com a sua vida o que você fez com a deles". 1 Reis 19:1-2 (NVI aqui e em todas as citações neste texto).

Não podíamos esperar outra reação de Elias que não fosse tomar a espada e conclamar o povo que o seguisse numa revolução espiritual que teria 100% de chance de ser bem sucedida, afinal de contas Deus estava do seu lado e já provara isso no Carmelo, mas o que vemos Elias fazer é uma outra coisa: “... Elias teve medo e fugiu para salvar a vida...”, 1 Reis 19:3. Deixa eu ver se eu li direito: Elias, o destemido, que aniquilou mais 400 profetas de Baal teve medo da ameaça de uma meretriz e ainda por cima fugiu? Acho que vou tirar Elias da minha lista de heróis.

O texto fala que ele teve medo e resolveu fugir! Isso não combina com “Gigantes espirituais”, isso combina mais com seres humanos que são susceptíveis às dificuldades da vida, sejam elas espirituais, sejam emocionais, sejam afetivas. Fuga aqui não deve tomada como figura de linguagem para alguma patologia psicológica, o medo o fez deslocar-se centenas de quilômetros até um lugar onde julgasse estar distante o suficiente do alcance da rainha perversa.

O que atrapalha a linha de raciocínio é que este rapaz tinha alcançado uma das maiores vitórias, ou talvez a maior que um profeta ousou acreditar que poderia lograr, ele além de ter uma prova visível e inconteste de que Deus estava com ele, ainda saiu-se vencedor ao aniquilar um clero reunido em “Assembleia Nacional”!

Alguém poderia chamá-lo de covarde, e é exatamente o que ele é nesta passagem, nada mais do que um covarde. Não foi corajoso para matar um clero inteiro? E agora fraqueja? Já escutei e li pessoas dizendo que Deus não usa covardes, que não podemos ter medo e nem temor, acho que quem pensa isso nunca meditou, não estou falando de ler rápido, nesta passagem da escritura.

E para piorar a situação, pois é, podia ficar pior, diz ainda o texto que: “... e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte. "Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados." (1 Reis 19:4). Elias, o profeta de Deus, instrumento poderoso nas mãos de Yavé, deseja a morte! Já tentaram desculpar e atenuar o texto dizendo que não era “não propriamente a morte física, mas a morte espiritual”, onde que se pode inferir isso aqui? O que ele pede é a morte mesmo, além de medo e de ter agido com desespero e fugido, motivado pelo medo, o seu esgotamento o conduz a desejar a cessação da vida, término de sua atividade na terra. Em nenhum momento o texto fala de que ele intentou ou dá margem para acreditar que ele intentaria contra a própria vida, mas o que fica bem claro é que ele sente uma angústia tão intensa, que acredita que só a morte seria capaz de por fim a essa dor. Este tipo de sentimento só conhece e entende quem já “andou por vales de sombra da morte”.

Muitos defensores da TP (Teologia da Prosperidade) diriam que Elias está “em pecado”! “Quem já viu um homem de Deus pedir para morrer? Melhor é confessar e deixar o pecado, porque depressão é do Diabo e Deus nos criou para sermos vitoriosos e não para andarmos de cabeça baixa!”. Entra em cena então um outro sintoma em Elias: “… Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu...” (1 Reis 19:5). O estado depressivo de Elias, além da fatigante viagem, lhe deu sono, letargia, ou no dizer dos Pais do Deserto: Acédia[1]. Esse é um mal que aflige também o homem moderno, e os cristão, que não são imunes às enfermidades da mente e nem da alma, quando acometidos por alguma delas são instigados pelo Positivismo pós-moderno e pós-evangélico a ignorar estes males, pois “o crente tem que decretar a vitória e esmagar a cabeça de Satanás!”. A TP não permite aos seus seguidores a aceitação de que podem sofrer de depressão ou de outro transtorno qualquer, muito menos será tolerado o tratamento por um psiquiatra ou terapia de grupo. Só há duas saídas: confessar o pecado ou ser exorcizado!

Há quem diga que: “... Quando não damos importância à casa do Senhor, à Palavra de Deus, não oramos, não jejuamos, não nos preocupamos com nossa intimidade e comunhão com Deus; o diabo nos ataca. Ele está sempre pronto para isso! Porém, se nós temos a nossa aliança com Deus intacta, o que é o diabo para nos tocar?”. Acho que esta hermenêutica é falha diante de um fato como esse, Elias vinha de uma “cruzada” de evangelização, talvez a maior do Primeiro Testamento, se não ganhou almas como os apóstolos do Novo Testamento ou os evangelistas da Igreja Primitiva, pelo menos livrou Israel de quase meio milhar de ímpios, os resultados foram por demais positivos, a Glória de Deus foi manifesta por meio dele, a comunhão era real, portanto, falar de depressão como fruto de pecados não confessados neste texto é não apenas impróprio, bem como agir de má-fé.

Poucos entenderiam o que aconteceu com Elias, e só quem passou por isso pode compreender o que a alma dele sofria naquela ocasião, só quem já foi vítima de um medo incompreensível, pode entender a fuga covarde empreendida por ele, que representa bem mais do que pensamos, representa uma falta de confiança que Deus poderia guardá-lo de todo mal. A vontade de morrer, a letargia são familiares a quem já ansiou por ter algo que lhe desse esperança, algo que lhe trouxesse a vontade de viver de novo. Quando o dia amanhece e nada nele demonstra que vale à pena estar vivo, ou quando as sombras do crepúsculo trazem mais do que escuridão, trazem o medo e angústia de mais uma noite sem esperança, sem nada que possa aquietar a mente e o espírito. Quando deitar e dormir é mais questão de “apagar a mente” do que repousar.

E o que dizer aos sinceros cristãos que são vítimas de tais males? Eles estão em dias com a sua vida piedosa e a sua espiritualidade está sadia, mas a mente não está. O que dizer-lhe então? Que a depressão não é doença, mas sim sintoma de pecado não confessado, ou então que há maldição hereditária sobre sua vida? Será isso mesmo o que Deus pensa?

A tratativa de Deus com Elias foi primeira profilática: "… Levante-se e coma..." (1 Reis 19:5), já ouvi asneiras sobre este texto de que: “... Toda vez que lemos na Bíblia, o Senhor mandando alguém se levantar é porque Ele quer que esta pessoa esteja na posição correta para ser usado. [...] A segunda ordem de Deus a Elias é comer. Mas comer o quê? A Palavra do Senhor...”, pode ser bonito este fraseado, mas isso é malbaratar as Escrituras, isso é alegoria, método espúrio de interpretação. Deus mandou o anjo “cuidar” de Elias, animá-lo, alimentá-lo, ajudá-lo a ter disposição para andar e sair daquele lugar. Isso é o que deve ser feito, ajudar, auxiliar, amparar e cuidar de quem está sofrendo, apontar o dedo acusadoramente é seguir um caminho oposto ao traçado pelo próprio Deus.

Por último o que vemos é que, após uma experiência apofática, que é uma forma de afirmar os Atributos de Deus por meio da negação, que Elias teve, Deus tratou do seu medo, seu desânimo, sua depressão e sua acédia: “... "O que você está fazendo aqui, Elias?" (1 Reis 19:9).

Não vou torcer e nem maltratar o texto sagrado ao fazer alegorias baratas sobre o que significa a caverna que Elias se abrigou ou cada fenômeno natural por ele presenciado. Antes vou resumir numa palavra apenas o método terapêutico divino: Elias ouviu a voz de Deus!

Num mundo tão sem referência, tão “pós-moderno”, dizer que a solução para alguns dos males que nos acomete é ouvir a Voz de Deus soa tragicômico! Qual a “voz” devemos ouvir? A da IURD, a da Internacional, a da Mundial, a de Malafaia, a de Bento XVI, qual afinal de contas?

A Bíblia, somente ela, crendo na promessa de Jesus: “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir”. (João 16:13).

Quando vier o medo, sinta-o! quando tiver vontade de fugir e não houver saída fuja! quando sentir-se depressivo e sem ânimo e só quiser dormir, durma! mas quando a voz de Deus vier, levante-se e ouça tudo o que Ele disser, só assim encontraremos a cura.

[1] - “A acédia é um tédio que acabrunha; i. é, que deprime de tal modo a alma do homem que não lhe apraz fazer nada; assim como tudo o que é ácido é ao mesmo tempo frio. Por isso, a acédia produz um certo tédio de agir,como claramente o diz a Glosa àquilo da Escritura (Sl 106, 18): A alma deles aborreceu toda a comida, que a acédia é um torpor da alma, que desiste de começar o bem”. P. D. Mézard, O. P. in: Meditationes ex Operibus S. Thomae citado em Permanência).  

Amazing Grace II


Um vídeo de www.centralchristian.com. Música de Brent Rowan.
Vídeo original: http://www.youtube.com/watch?v=wjvINLSetaw&feature=related

Parábolas Modernas (III)

Podia-se dizer que ele, o garoto, tinha um talento especial, algo realmente fora do comum: talhar com perfeição objetos em madeira, talhava animais, casas, paisagens, carros, etc, porém, sua maior especialidade era mesmo barcos, esculpia cada um melhor do que o outro, cada detalhe era retratado minunciosamente, passava horas ajustando o leme ou mesmo uma hélice, que as pessoas nunca talvez vissem, já que não levantavam o barco para olhar embaixo, mesmo assim ele fazia questão de apurar aos mínimos detalhes.

Um dia recebeu do pai um pedaço de madeira de lei, a melhor que já tivera em mãos, perfeita para a feitura de um barco, ele passou dias e mais dias apenas olhando para a madeira, criava em sua mente a figura do barco, só depois iria torná-la real, não ousava aproximar-se dela sem algo de concreto em mente, não queria estragá-la, ela era perfeita demais. Era como se o barco já estivesse ali, o que de fato ele queria fazer era tirar de cima do barco aquilo que impedia de ser visto como de fato era.

Alguns dias depois, após realizar algumas tarefas da escola, procurou o local mais ermo perto de sua casa, com a madeira numa mão e as ferramentas na outra, sentou-se debaixo de uma árvore e começou a tornar concreto algo que já existia em sua mente, apenas em sua mente, havia chegado ao esboço mental definitivo de seu projeto, e o tornaria real naquele dia.

Quem o visse esculpindo aquele barco, acharia que ele encontrava-se em transe, tal a concentração que estava. Aquele ato para ele era de tamanha importância, era como a concepção de um filho, era como dar à luz a algo que só existia na sua mente. A forma geral do barco foi concebida naquele dia, o casco, as escotilhas, os mastros, a figura entalhada na proa pontiaguda, a popa quadriculada, o calado, a quilha, os detalhes à bombordo e à estibordo.

Passou dias e mais dias concentrado em cada detalhe que não havia dado forma final ainda, os objetos no convés, as escotilhas, os salva-vidas, as velas, o timão, a âncora. Aquele não seria mais um barco, aquele seria O Barco ou, parafraseando os modernos e beligerantes babilônios, seria o “Pai de todos os barcos”.

Quando a sua obra-prima enfim estava terminada, ele a colocou à mostra, em cima de um móvel na sala. Todos que entravam na casa eram convidados a admirar aquela obra, e todos eram unânimes em admitir que nunca tinham visto nada comparado com aquele barco, era realmente especial.

Um dia, chovia torrencialmente, a água em abundância escorria pelas ruas e formava correntezas nos bueiros e canaletas ao lado das vias públicas, pareciam lagos, para uma mente de criança cheia de aventuras, eram mares em fúria, e foi assim, para saciar a sede de aventuras e para testar seu maior feito que ele pegou o lindo barco e colocou debaixo do braço e se encaminhou para a rua, procurou o local onde a água estava em maior quantidade, e encontrou uma poça enorme, perto de uma pequena ladeira, o fluxo da água era pequeno para a quantidade que se acumulava aí, logo, havia bastante água.

Ele colocou o precioso objeto na água, com um misto de ansiedade e preocupação, queria ver se seu invento se portaria da forma que ele planejara, mas tinha medo que algo o estragasse. O barquinho balançou de um lado para o outro, assim que tocou na água, mas portou-se bem, era perfeito, flutuava sem problemas.

Absorto em admiração, ele não se deu conta que o barquinho dirigia-se perigosamente para uma canaleta que ladeava uma escadaria, e que se entrasse ali, ele dificilmente o alcançaria. Foi exatamente o que aconteceu, quando o fluxo da água puxou o barquinho para aquela descida, ele tentou esboçar uma reação, mas já era tarde, o barquinho descia velozmente por aquela canaleta, ele levantou-se e correu em desabalada carreira, no meio da chuva, da lama, os olhos se fechando por conta da quantidade de água em seu rosto, de repente o barquinho sumiu, havia caído dentro de um bueiro, e certamente estava sendo levado por correntes subterrâneas para algum córrego distante.

Ninguém pode imaginar o quão destroçado ele ficou, perdera alegria da vida, perdeu a vontade de esculpir de novo, perdeu o prazer de olhar os objetos que fizera, as madeiras, algumas de boa qualidade se empilhavam no seu quarto, nem olhava para elas, todos os dias seu pai trazia uma nova, queria trazê-lo de volta daquela apatia, mas parecia inútil.

Meses depois, andava aleatoriamente no comércio da cidade, tinha ido à contragosto com a mãe para comprar presentes de Natal, seu olhar vago, pulava de uma vitrine à outra sem demonstrar o mínimo interesse, até que parou defronte a uma loja de brinquedos, seu olhar parecia de vidro, tudo estava inerte e desinteressado, porém sua atenção foi capturada de forma instantânea, depositado sobre um expositor, dentro de uma vidraça estava o mais belo barco de madeira que ele já vira, imponente, proa em riste por conta da posição que se encontrava, uma luz no teto da vidraça ressaltava ainda mais os seus detalhes, suas cores e formas. Ficou encantando, entrou tomado de ansiedade e nervosismo, pediu para ver o barco, tomou-o em suas mãos, nem ouvia nada, nem via mais nada, virou diversas vezes até que teve certeza, era o seu barco perdido.

Virou-se para o vendedor da loja e já foi decretando, do alto da inocência de um garoto que ainda não foi apresentado ao mundo dos adultos:

- Esse barco fui eu que fiz, eu o perdi na chuva, ele caiu num bueiro, agora eu o encontrei, vou levá-lo comigo.

O vendedor perplexo com aquela revelação, sem saber exatamente o que fazer, tira o barco das mãos da criança e proclama no mesmo tom:

- Não duvido que tenha feito, mas esse aqui foi comprado de um fornecedor, e a menos que pague o valor de R$ 300,00, ele não sairá desta vitrine.

Convencer um garoto que perdeu um barco a pagar pelo mesmo não seria uma tarefa fácil, saiu da loja arrastado pela mãe, sua desolação era total perdia o mesmo barco pela segunda vez.

Quando o pai chegou do trabalho, com mais uma tora de madeira, correu chorando ao seu encontro e gritou que havia encontrado o barquinho, que ele deveria ir buscá-lo, já que sua mãe havia se negado a retirar o objeto da loja.

O pai sentou, ouviu toda a história que a mãe contou e pôs um fim definitivo à história:

- Não é correto ir lá e pegar este barquinho, mesmo que saibamos que foi você que fez, vou todos os dias trabalhar um pouco mais, vou juntar dinheiro, no fim do mês eu lhe dou o valor total e você poderá ir à loja e pegar o seu barquinho.

Isso resolvia em parte o problema, faltavam mais de 15 dias para o fim do mês, será que o barquinho iria ficar aquele tempo todo esperando por ele?

No outro dia, assim que voltou da escola foi à loja e pediu que o vendedor reservasse o barquinho para ele, o vendedor disse que poderia por um dia, mas não por quinze dias. Ele então passou a vigiar o barco todos os dias, ficava na frente da vitrine o dia todo, quando algum cliente demonstrava interesse pelo barquinho, ele o dissuadia apresentando defeitos que só ele mesmo via, dizia às vezes que a madeira mão prestava, que iria rachar, isso durante quinze dias, quinze longos dias.

No último dia do mês, quando já não suportava a ansiedade que o consumia, viu seu pai entrar em casa, com o semblante abatido e cansado, fruto das longas jornadas que fizera nos últimos dias, sentar no sofá, olhá-lo nos olhos e colocar a mão no bolso da camisa e lhe entregar algumas notas surradas de dinheiro, com o adorno da frase:

- Vá buscar o seu barco!

Nenhum criança foi mais feliz naquele dia que aquele garoto, saiu em desabalada carreira em direção à loja, esta ainda estava aberta, todos os funcionários estavam cientes do drama daquela criança, e resolveram estender o horário de atendimento naquele dia, todos fingiam estar ocupados, mas acompanhavam emocionados quando aquele menino entrou na loja, foi ao caixa, depositou as notas sobre o balcão e disse com voz embargada:

- Eu vim buscar meu barquinho!

Todos queriam atendê-lo, o misto de alegria e emoção havia tomado a todos, os que não choravam, enxugavam discretamente as lágrimas furtivas.

Com os olhos marejados de lágrimas quentes, que mais pareciam grossas gotas de mercúrio, que rolavam por sua face, toma o barquinho entre as mãos, olha cada detalhe, cada mínimo detalhe e pronuncia com voz embargada de emoção:

- Barquinho você agora é meu duas vezes, primeiro porque eu te fiz, segundo porque eu te comprei!

A quem pertencemos duas vezes?

[Escutei esta estória quando eu tinha pouco menos de 10 anos, depois disso que nunca mais ouvi-la, eu mesmo a contei várias vezes, resolvi registrá-la para que não se perca].

Parábolas Modernas (II)

O filho mais novo de um abastado fazendeiro, de larga fama e dono de terras que só conseguia percorrer ao trote largo de um cavalo durante três dias, resolveu fugir do controle paterno, decidiu que o melhor que podia fazer era viver longe dos conselhos dos pais, estava cansado da vida “pacata” que a vida familiar lhe impunha e foi viver dissolutamente em outros lugares, como centenas de anos fizera anteriormente o outro filho da parábola de Jesus. Após consumir tudo o que tinha levado, sem amigos, estes o deixaram tão logo acabou o dinheiro, sem comida, faminto e doente, resolve voltar para casa, mas certo de que não merecia perdão, escreve ao pai uma pequena carta na qual dizia que tomaria o trem para um destino bem distante, porém, o mesmo passaria defronte à fazenda paterna ao meio-dia, caso este o perdoasse e ainda o quisesse em casa, estendesse na árvore na frente da casa grande um cobertor branco, se visse o cobertor, ele desceria na estação mais próxima e voltaria para casa, caso não visse o cobertor saberia que não deveria descer e então passaria direto para outros destinos, ressaltava ainda que os pais não tinham nenhuma obrigação de recebê-lo em casa, visto que os envergonhara muito.

Ao se aproximar da região na qual estava localizada a casa grande da fazenda, aquele rapaz, com o coração apertado, pegou sua mochila surrada, com seus poucos andrajos, levantou-se sem esperança alguma, pensou consigo mesmo que o pai poderia nem ter lido a carta, poderia até já ter morrido, ou, quem sabe, a carta poderia ter sido extraviada, ou entregue num destino errado, estava preparando o espírito para qualquer coisa que o pai quisesse fazer, inclusive tratá-lo como apenas um empregado, o menor dos subalternos.

Ele podia esperar qualquer coisa menos aquilo de fato viu: Não apenas na árvore defronte da casa tinha cobertor, mas em cada árvore da fazenda, seja grande ou pequena, cada uma tinha um cobertor branco, como que dizendo-lhe: - Você é bem-vindo! Ele não conseguiu contar quantas árvores estavam marcadas, as lágrimas não deixaram, na estação da cidade, na qual havia tomado um trem indo embora, uma comitiva de empregados e parentes já o esperava para uma festa, era o filho do patrão que estava de volta, o herdeiro tinha chegado e isso era o que interessava, nada mais.

A vida sem amor


A inteligência sem amor te faz perverso.
A justiça sem amor te faz implacável.
A diplomacia sem amor te faz hipócrita.
O êxito sem amor te faz arrogante.
A riqueza sem amor te faz avarento.
A docilidade sem amor te faz servil.
A pobreza sem amor te faz orgulhoso.
A beleza sem amor te faz ridículo.
A autoridade sem amor te faz tirano.
O trabalho sem amor te faz escravo.
A simplicidade sem amor te deprecia.
A oração sem amor te faz introvertido.
A lei sem amor te escraviza.
A política sem amor te deixa egoísta.
A fé sem amor te deixa fanático.
A cruz sem amor se converte em tortura.
A vida sem amor... não tem sentido!


Se (If) Rudyard Kipling

Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.

Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.

De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.

Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!

[Para você, meu filho Ulrich Zwínglio, neste dia em que completas 18 anos. Parabéns garoto!]

Mensagem para você, meu filho!

Não acho que esta música seja de teu gosto, um adolescente de 16 anos não deve gostar de músicas melancólicas, a não ser os “emos” e pelo que me consta você não é emo, mas mesmo estes não devem gostar dela, talvez a achem “brega”. Por isso peço licença para começar esta carta reproduzindo um verso composto por um grande cantor: Antônio Marcos, que era um gênio, mas também era um desajustado, um inconformado, provavelmente morreu infeliz e incompreendido:

"... Como vai você, eu queria saber da sua vida,
peço alguém pra me contar sobre os seus dias,
anoiteceu e eu preciso só saber..."

Essa música ele cantava com a alma, muito melhor que o insosso Roberto Carlos. Pena que você nunca o viu cantar, pena mesmo! Utilizo-me desta parte da música como uma forma de expressar o quanto eu sinto saudades de você. Há 16 anos ela tem sido o “hino” que eu canto em cada aniversário teu, o clamor de minha garganta em cada dia dos pais em que a tua ausência é tão presente e o grito inaudível de meu peito em cada dia das crianças. Sei que você nem se considera mais sequer adolescente e deve ser como todos os demais garotos de tua idade, como eu mesmo fui um dia, livre e independente, certamente que não desejaria presentes e nem aceitaria recebê-los hoje, afinal de contas hoje é apenas “Dia das Crianças”, por isso que para marcar esta data eu te escrevo esta mensagem, que há 200 anos estaria numa garrafa lançada ao mar, há 100 anos seria uma missiva entregue pelo carteiro à cavalo, há 10 anos seria um telegrama e hoje é “postada” num blog, mas todas expressariam, como esta, o amor incondicional de um pai que tem por sobrenome saudade. Há muito tempo que não paramos para conversar, já se passaram tantos anos desde a última vez.

A vida tem sido tão difícil, marcada por sonhos irrealizados e que nunca se realizarão e planos que foram lançados no mar do esquecimento para não lancetarem tanto, ela é tão corrida, ela passa tão rápido, ou deixamos que ela passe tão rápido, que eu chego a me perguntar se vale a pena viver oitenta anos em vinte.

Nem parece que sou pai de um adolescente com essa idade, ainda não me acostumei com a idéia. Tenho apenas a certeza do que é difícil educar filhos desta faixa etária hoje em dia, são tantos desafios, tantas dificuldades, que às vezes bate um desespero, tenho lido muito sobre o assunto, procuro me informar para poder enfrentar bem as situações que podem me sobrevir, além de você ainda tenho a Mysha (caso não saibas, Mysha é o epíteto de Jessicah Rhebeccah, tua irmã) com 14 anos, uma linda garota, no mais amplo sentido da palavra, tanto interiormente, quanto exteriormente. Inteligente, culta, sensível, escreve bem demais, tem centenas de contos que eu vivo pedindo que ela publique, mas ela sempre procrastina, digo, protela, prorroga, vocês dois são dois universos diferentes, cada um com seu mundo, cada um com suas “certezas”. Você precisa ver o que ela fala de si mesma, as lutas que tem e, olha que dá vontade de rir, as paranóias de que é feia, uma verdadeira Cinderela que se acha Gata Borralheira! Dá uma olhada de leve no blog que ela mantém e depois ver as fotos no perfil dela no Orkut. Vá entender as mulheres! Conselho de pai, não tente, é uma roubada, para cada coisa que elas disserem, diga apenas hum, hum! E balance a cabeça afirmativamente, isso vai fazer com que te considerem atencioso e você não se meterá em problemas.

Só agora que já tens capacidade de me entender e compreender de fato é que te escrevo esta, e um dos motivos é para dizer o quanto lamento não ter visto você dar os primeiros passos, eu não estava à tua frente com os braços abertos te dando a confiança que precisavas nesta fase tão importante de tua vida, eu também não limpei as feridas, que as muitas quedas e os muitos tombos te causaram. Não pude também te ensinar as primeiras palavras, como também não ouvi sequer quais foram as que você primeiro pronunciou. Nunca troquei uma fralda sequer tua, nunca me levantei à noite para te colocar no braço até que a dor ou o desconforto te deixasse dormir. Nunca arranquei nenhum dente teu e nunca te coloquei para dormir ninando-te me meus braços.

Lamento profundamente o fato de não ter te ensinado a andar de bicicleta, nem sei se sabes, se aprendeste de alguma forma, também não te ensinei a jogar bola, muito embora eu nem saiba muito, sempre fui meio desajeitado, parece que nem tenho coordenação motora, nem sei se seria capaz de fazer isso, mas com certeza correr contigo atrás de uma bola teria sido um prazer imenso para mim..

Não te ensinei a jogar pião, bola de gude e construir e empinar pipas, coisas que eu sei que os meninos de hoje nem sabem que um dia existiram, pensam que são peças de museu, mas também poderia jogar contigo no computador ou em qualquer videogame irado desses modernos.

Não pude te levar à escola, nem no primeiro dia e nem outro dia qualquer depois, não pude ver teus jogos, tuas competições esportivas, nunca pude ir à escola para comemorar o Dia dos Pais ao teu lado.

Nunca te levei ao Santuário Maior dos Rubro-negros de Recife, a majestosa Ilha do Retiro, covil do Leão do Norte, se bem que neste momento as coisas não andam muito boas por aquelas bandas não. Nunca assistimos a jogos do Sport e nem tomamos sorvetes juntos.

Nunca te levei à igreja, você nunca me viu pregando ou ensinando e nunca pudemos falar de Deus e de Jesus. Nunca pude ler histórias (e estórias também) para você, como fazia para a tua irmã quando ela era menor. Nunca pude te contar minhas aventuras, como o dia em fugi de casa ou o dia em que toquei fogo numa plantação, mas isso fica para outro dia, eu já estou correndo o risco de entrar numa digressão, e em outro lugar eu já escrevi sobre isso.

Não fiz nada disso não foi por estar ocupado, talvez se esse fosse o motivo eu estaria agora feliz, pelo menos poderia recuperar o tempo perdido, mas não fiz nada disso porque você foi embora muito antes que eu pudesse fazer algo, foi embora sem um sorriso, sem uma lágrima, sem um choro e até mesmo sem um adeus.

O dia 31 de agosto de 1993 ainda está marcado à ferro e fogo em minha alma, deixou marcas indeléveis, que, acredito eu, são eternas. Neste dia, ainda que eu tivesse 25 anos, para mim foi o dia em que perdi a noção do “mundo maravilhoso de Alice”. Onde tive que enfrentar todos os meus medos, todos de uma só vez, onde a sombra começou a pairar sobre minha vida e a “noite escura” da alma chegou de vez.

Neste dia você nasceu e floresceu, neste dia você definhou e morreu.

Você foi como um presente de Deus, chegou quando disseram que era impossível que você viesse, e foi embora quando eu achava impossível que fosse verdade. 16 longos anos imaginando como seria toda uma vida, como seria ter você e Mysha, juntos, curtindo a infância de cada um e vivenciado cada momento e cada vitória, e dividindo o peso de cada derrota que por acaso sobreviesse.

Senti-me só no dia em sepultei você, perdido, ainda que muita gente estivesse ao meu lado, uma dor profunda como eu nunca havia sentido, como nunca senti depois, porém a dor nunca mais foi embora, resisti por muito tempo, depois me acostumei, caso ela vá embora eu creio que sentirei muita falta. Não é que ela virou amiga, apenas não sei como é existir sem ela.

Alguns anos depois senti a mesma solidão, o mesmo sentimento de desamparo e abandono à beira da sepultura do meu pai, você já o deve ter conhecido, é claro! Não sabes o quanto eu sonhei com vocês dois juntos, tenho certeza que ele te colocaria nas costas e te deixaria fazer cavalinho nele, seria um problema para mim, pois ele como um bom avô iria te colocar no mau caminho, como o pai de minha mãe me colocou. A dor que eu senti foi diferente, a dor que senti quando me despedi de você foi uma dor não natural, nenhum pai deveria enterrar um filho, nenhum pai!

A saudade dói, mas a saudade que sinto pode ser, parafraseando um escritor americano, um “rumor da outra vida” que um dia teremos juntos, quando nos reencontrarmos, então a tua presença e a presença eterna da Luz Divina preencherão todos os vazios que porventura ainda existam. Sobre os vazios que só Abba pode preencher, um santo do passado um dia disse: "Fizeste-nos para Ti, e inquieto estará o nosso coração enquanto não encontrar em Ti descanso". Você já deve tê-lo conhecido, é um cara esquisito que gostava de roubar pêras, por nome Santo Agostinho. Sei que já experimentas essa plenitude, sabes bem do que estou falando, muito melhor do que eu.

E então sentaremos na beira de um rio, pescaremos, andaremos e conversaremos, colocaremos os assuntos em dia. Mas neste dia, já não terei mais lágrimas para derramar, pois elas serão enxugadas por Abba, a saudade vai desaparecer e só alegria do reencontro dominará nossos corações. E aí esperaremos aqueles que virão depois de nós e então “estaremos juntos para sempre com o Senhor”.

Até breve Ulrich, até breve garoto, dê lembranças ao teu avô, diga-lhe que sinto muito a sua falta, até breve meu filho.