Um dia qualquer eu andava à esmo pelo centro da cidade quando de repente vi Rubem Fonseca (pelo menos eu até hoje acho que era ele) atrás de uma vidraça folheando um livro que eu podia jurar que era de Susan Sontag, mas bem podia ser de Philip Roth, como sou avesso à tietagem fiquei meio ressabiado em abordá-lo, mas acabei entrando só para vê-lo de perto, sem querer incomodá-lo, na verdade eu queria ver o que ele estava lendo. Para minha surpresa à porta junto ao Paulo Coelho estava José Saramago, não sei se os dois estavam se entendendo, pois apesar de falarem a mesma língua, habitam universos paradoxais. Pasmei! Encontrar um autor já era demais, encontrar três só poderia ser sonho. Eu sabia que não estava sonhando. Procurei o Rubem Fonseca, mas já não conseguia mais vê-lo, havia muita gente e muitos cercavam Coelho e Saramago e eu nem sequer ousei abordá-los, o primeiro por não gostar de seus livros e o segundo por conta de algumas questões sobre Deus que eu acho que levaria horas ou dias discutindo com ele, não para tentar convencê-lo, esse não é um papel para mim, mas para poder entendê-lo, talvez assim eu entendesse a mim mesmo. Tentei afastar-me, tentei, por que esbarrei em Orhan Pamuk e fiquei estático. Não era para menos ele estava ao lado do caçador de pipas Khaled Hosseini e de William “Mackenzie” Young, o que diziam mexeu profundamente com minha alma, cheguei às lágrimas.
Para disfarçar fui para os fundos do salão e me dei conta que só poderia estar ficando doido, já que eu tinha certeza de que não estava sonhando, pois vi dois barbudos, com paletós antigos, aparência austera, conversando numa língua estranha, eram Tolstoi e Dostoiévski, e ainda tinha o Amós Oz escrevendo uma carta, logo ele que tem essa mania, mas faz isso de forma admirável. Pensei em fugir, mas o careca do Stephen Covey e o enorme G.K. Chesterton estavam barrando literalmente meu caminho, o segundo procurava convencer o primeiro dos efeitos positivos do café, parei para observar as suas obras e teria me demorado dias por ali se não tivesse ouvido André Rieu executando prodigiosamente Amazing Grace. Ia me desesperar quando vi a angelical Flannery O´Connor, que me trouxe lucidez, aí quando o maltrapilho de Abba Brennan Manning me envolveu com suas palavras eu me senti em casa. Dei-me conta então que estava numa livraria e vi que não estava doido, nunca estivera tão lúcido em toda minha vida. Vi ainda C.S. Lewis e Tolkien conversando no Café, cada um apontava as falhas na adaptação de suas obras para o cinema, Enya e Nana Mouskouri conversando com um sujeito com roupas estranhas e uma peruca bizarra, eu acho que era Bach, na área de CD´s e Rubem Alves aprontando com Ian McEwan na área infantil, ele já havia aprontado umas boas com João Calvino na área técnica, dei muitas risadas.
Sempre que quero boas companhias vou lá, me sento e me delicio com essas adoráveis figuras. Se é verdade que o céu é reflexo de nossas maiores aspirações, espero que o meu seja igual a uma livraria, ciumento e egoísta por livros do jeito que sou, é capaz de eu não deixar ninguém entrar nele, nem São Pedro.
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