A tarde já estava terminando, não se lembrava de nenhum crepúsculo como aquele, sem estar em casa, de banho tomado à espera do jantar e acompanhado de alguém, essas coisas no momento estavam muito longe de se tornarem reais para ele, pois estava só, faminto e muito cansado, o calor no ônibus era sufocante, não conseguiu manter-se alerta, pegou no sono, dormiu boa parte do trajeto, trajeto esse que ele não sabia qual era. Foi acordado pela trocadora que lhe indagou para onde ele ia, como não soube inventar uma mentira convincente, levantou suspeita, falou que tinha batido a cabeça no ferro do ônibus e que estava confuso, isso preocupou mais ainda os passageiros e o motorista que decidiu levá-lo para uma delegacia, não tinha jeito de menino de rua, além de fardado levava livros.
A idéia de ter que tratar com policiais numa delegacia o deixou nervoso, mas era muito tarde para recuar ou mesmo para continuar fugindo. Rendeu-se. Quando chegaram à delegacia, foi entregue pelo motorista aos policiais com a informação que ele estava perdido, não sabia onde morava e nem, obviamente, sabia voltar para casa. Anotou isto na memória, ele não era um garoto em fuga, era um garoto que saiu da escola para ir ao trabalho do pai e se perdeu, isso faria toda a diferença no futuro.
Era a primeira vez que entrava num distrito policial, só tinha visto um por dentro nos filmes e em alguns programas da televisão. Sabia que a partir daquele momento levava vantagem sobre seus irmãos e alguns colegas, pois estava passando por experiência que eles nunca passaram e talvez nunca passassem, logo ele teria muitas histórias para contar e eles se roeriam de inveja de suas aventuras.
Os policiais foram educados, reza uma lenda que naqueles tempos eles eram humanos, perguntaram onde estudava, quem era seu pai e onde trabalhava, onde ele morava, nome da mãe, etc. enfim queriam encontrar qualquer informação que pudesse ajudá-los a encontrar seus pais. A única coisa que não lhe perguntaram foi se ele queria ser encontrado. Ele sabia que se admitisse que não sabia onde seu pai trabalhava e onde morava seria considerado pelos homens como um menino bobo, mas o medo da surra fez com que ele escolhesse parecer tolo, negou qualquer informação que pudesse ajudá-los, propositadamente.
Achou até engraçado que os policiais não conseguissem localizar a escola que ele estudava pelo emblema que trazia no bolso da camisa, afinal de contas era uma escola pública. Ele sabia o nome e o bairro, mas não disse, os policiais eram adultos e eles se quisessem que descobrissem, afinal de contas eram investigadores, porém se deu conta que eles não se pareciam em nada com Baretta ou mesmo Kojak, e a diferença maior não era apenas a aparência exótica e sim a sagacidade, ou melhor, a falta dela.
Como não havia conselho tutelar e nem abrigo, foi conduzido pelo responsável pelo plantão para sua própria casa, para ele era o delegado, lá conheceu a mulher do policial, seus filhos e filhas. Foi muito bem tratado, tomou banho, deram-lhe uma roupa limpa, colocaram comida para ele. Depois ainda teve tempo de assistir a programas de televisão junto com os filhos da casa.
Depois de algum tempo a mulher conduziu todos para o quarto, deram-lhe uma cama e cobertor. Quando deitou ficou imaginando que talvez ficasse morando ali mesmo, com aqueles meninos e meninas como seus irmãos, não sabia dizer se gostaria disso, ainda não tivera tempo de pensar sobre o assunto. Pegou no sono, suas preocupações não o impediram de dormir, estava muito cansado e o dia tinha sido muito longo, o mais longo que já tivera até então.
Foi acordado pela dona da casa por volta da madrugada, ouviu vozes na porta da casa, eram algumas pessoas que queriam vê-lo, eram parentes de uma criança desaparecida e talvez essa criança fosse ele. Ao chegar à porta deu de cara com seu pai, que em lágrimas gritou de alegria ao vê-lo bem e sem nenhum machucado. Abraçaram-se durante muito tempo enquanto seu pai, que tinha pouco mais de 37 anos, chorava como criança.
Após o reconhecimento o colocaram no carro de um vizinho e ele foi espremido no banco de trás entre seu pai ainda em prantos e alguns parentes e amigos dele. Contou a mesma mentira que contara na delegacia, tinha saído de casa com a intenção de fazer uma surpresa ao seu pai indo para o trabalho dele, o alívio de tê-lo encontrado foi tão grande que ninguém lhe perguntou como esperava fazer surpresa ao pai se este estava dormindo em casa quando ele saiu da escola.
Quando o veículo começou a subir a ladeira que conduzia ao seu bairro, os homens que estavam levando-o colocaram revólveres para fora e começaram a atirar, disparavam para o alto, acordando aqueles que porventura tivessem adormecido e gritavam a plenos pulmões: - Nós achamos o menino, nós achamos o menino!
Quando o veículo parou na porta de sua casa sua mãe, irmãos e outros parentes correram para abraçá-lo, ele nunca tinha visto tanta gente reunida por sua casa. Contaram-lhe depois que no bairro ninguém dormiu naquela noite, alguns homens junto com seu pai tinham montado equipes de buscas e tinham descido as encostas da montanha armados e com lanternas em busca de alguma pista que pudesse levá-los a ele, as mulheres e as crianças sentavam ou deitavam nas calçadas com cobertores e tomando café, não queriam dormir, não enquanto ele não fosse achado. Foram às rádios, às estações de televisão e às delegacias, numa delas por influência do filho do patrão de seu pai souberam que numa delegacia no município vizinho tinha um garoto que correspondia à descrição dada. Não demoraram então a encontrá-lo, ele passou desaparecido por cerca de 12 horas, 12 angustiantes horas para seus pais.
Com esta aventura recebeu a alcunha dos vizinhos de “Perdido no espaço”, em referência a um programa de televisão exibido à época. Detestava o apelido, talvez o maior castigo pela aventura tão funesta.
O que mais chamou à atenção de seus irmãos foi que na manhã seguinte, ainda com o efeito da aventura vivida e do fato de ter se tornado celebridade da noite para o dia ainda teve tempo de perguntar-lhes: - Vocês viram àquele programa de humor ontem? Consideraram uma piada de mau gosto.
Ao final todos se salvaram, inclusive a surra prometida, motivo da fuga, nunca foi dada. A sua empreitada planejada, executada e abortada por força maior alcançou o objetivo inicial: não levar uma surra.
A idéia de ter que tratar com policiais numa delegacia o deixou nervoso, mas era muito tarde para recuar ou mesmo para continuar fugindo. Rendeu-se. Quando chegaram à delegacia, foi entregue pelo motorista aos policiais com a informação que ele estava perdido, não sabia onde morava e nem, obviamente, sabia voltar para casa. Anotou isto na memória, ele não era um garoto em fuga, era um garoto que saiu da escola para ir ao trabalho do pai e se perdeu, isso faria toda a diferença no futuro.
Era a primeira vez que entrava num distrito policial, só tinha visto um por dentro nos filmes e em alguns programas da televisão. Sabia que a partir daquele momento levava vantagem sobre seus irmãos e alguns colegas, pois estava passando por experiência que eles nunca passaram e talvez nunca passassem, logo ele teria muitas histórias para contar e eles se roeriam de inveja de suas aventuras.
Os policiais foram educados, reza uma lenda que naqueles tempos eles eram humanos, perguntaram onde estudava, quem era seu pai e onde trabalhava, onde ele morava, nome da mãe, etc. enfim queriam encontrar qualquer informação que pudesse ajudá-los a encontrar seus pais. A única coisa que não lhe perguntaram foi se ele queria ser encontrado. Ele sabia que se admitisse que não sabia onde seu pai trabalhava e onde morava seria considerado pelos homens como um menino bobo, mas o medo da surra fez com que ele escolhesse parecer tolo, negou qualquer informação que pudesse ajudá-los, propositadamente.
Achou até engraçado que os policiais não conseguissem localizar a escola que ele estudava pelo emblema que trazia no bolso da camisa, afinal de contas era uma escola pública. Ele sabia o nome e o bairro, mas não disse, os policiais eram adultos e eles se quisessem que descobrissem, afinal de contas eram investigadores, porém se deu conta que eles não se pareciam em nada com Baretta ou mesmo Kojak, e a diferença maior não era apenas a aparência exótica e sim a sagacidade, ou melhor, a falta dela.
Como não havia conselho tutelar e nem abrigo, foi conduzido pelo responsável pelo plantão para sua própria casa, para ele era o delegado, lá conheceu a mulher do policial, seus filhos e filhas. Foi muito bem tratado, tomou banho, deram-lhe uma roupa limpa, colocaram comida para ele. Depois ainda teve tempo de assistir a programas de televisão junto com os filhos da casa.
Depois de algum tempo a mulher conduziu todos para o quarto, deram-lhe uma cama e cobertor. Quando deitou ficou imaginando que talvez ficasse morando ali mesmo, com aqueles meninos e meninas como seus irmãos, não sabia dizer se gostaria disso, ainda não tivera tempo de pensar sobre o assunto. Pegou no sono, suas preocupações não o impediram de dormir, estava muito cansado e o dia tinha sido muito longo, o mais longo que já tivera até então.
Foi acordado pela dona da casa por volta da madrugada, ouviu vozes na porta da casa, eram algumas pessoas que queriam vê-lo, eram parentes de uma criança desaparecida e talvez essa criança fosse ele. Ao chegar à porta deu de cara com seu pai, que em lágrimas gritou de alegria ao vê-lo bem e sem nenhum machucado. Abraçaram-se durante muito tempo enquanto seu pai, que tinha pouco mais de 37 anos, chorava como criança.
Após o reconhecimento o colocaram no carro de um vizinho e ele foi espremido no banco de trás entre seu pai ainda em prantos e alguns parentes e amigos dele. Contou a mesma mentira que contara na delegacia, tinha saído de casa com a intenção de fazer uma surpresa ao seu pai indo para o trabalho dele, o alívio de tê-lo encontrado foi tão grande que ninguém lhe perguntou como esperava fazer surpresa ao pai se este estava dormindo em casa quando ele saiu da escola.
Quando o veículo começou a subir a ladeira que conduzia ao seu bairro, os homens que estavam levando-o colocaram revólveres para fora e começaram a atirar, disparavam para o alto, acordando aqueles que porventura tivessem adormecido e gritavam a plenos pulmões: - Nós achamos o menino, nós achamos o menino!
Quando o veículo parou na porta de sua casa sua mãe, irmãos e outros parentes correram para abraçá-lo, ele nunca tinha visto tanta gente reunida por sua casa. Contaram-lhe depois que no bairro ninguém dormiu naquela noite, alguns homens junto com seu pai tinham montado equipes de buscas e tinham descido as encostas da montanha armados e com lanternas em busca de alguma pista que pudesse levá-los a ele, as mulheres e as crianças sentavam ou deitavam nas calçadas com cobertores e tomando café, não queriam dormir, não enquanto ele não fosse achado. Foram às rádios, às estações de televisão e às delegacias, numa delas por influência do filho do patrão de seu pai souberam que numa delegacia no município vizinho tinha um garoto que correspondia à descrição dada. Não demoraram então a encontrá-lo, ele passou desaparecido por cerca de 12 horas, 12 angustiantes horas para seus pais.
Com esta aventura recebeu a alcunha dos vizinhos de “Perdido no espaço”, em referência a um programa de televisão exibido à época. Detestava o apelido, talvez o maior castigo pela aventura tão funesta.
O que mais chamou à atenção de seus irmãos foi que na manhã seguinte, ainda com o efeito da aventura vivida e do fato de ter se tornado celebridade da noite para o dia ainda teve tempo de perguntar-lhes: - Vocês viram àquele programa de humor ontem? Consideraram uma piada de mau gosto.
Ao final todos se salvaram, inclusive a surra prometida, motivo da fuga, nunca foi dada. A sua empreitada planejada, executada e abortada por força maior alcançou o objetivo inicial: não levar uma surra.
2 comentários:
Você não deveria dar idéia, os meninos de hoje o considerariam um herói...
Adoraria seguir seu exemplo, mas acho que não tenho coragem, rs.
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