Em 23 março de 2007, Henry Sobel, rabino, figurinha carimbada na mídia brasileira, referência nacional, não só para a Comunidade Judaica, mas também para todas as demais religiões e até mesmo para não religiosos, foi detido na cidade de Palm Beach, nos Estados Unidos, acusado de furtar gravatas de uma loja da rede Louis Vuitton. Após passar uma noite sob custódia, pagou fiança de cerca de 3.680 dólares e foi liberado. De acordo com o boletim de ocorrência, Sobel foi flagrado por câmeras de segurança da loja cometendo o crime; em seu carro a polícia encontrou outras quatro gravatas, das marcas Louis Vuitton, Giorgio's, Gucci e Giorgio Armani. As cinco gravatas juntas têm valor estimado de 680 dólares.
Em 09 de janeiro de 1944, Henry Sobel nasceu em Lisboa, descendente de pais belgas, sua família muda-se para New York, quando ele era ainda criança, lá ele concluiu o curso para o rabinado em 1970. Neste mesmo ano ele aceitou o convite para ser o líder espiritual da Congregação Israelita Paulista, passando a morar no Brasil. Sobel tem apenas uma filha, Alisha, nascida em 1983. Como líder da CIP, Sobel tem sido um porta-voz da comunidade judaica no Brasil.
Sua atuação o levou a ser considerado uma das maiores lideranças religiosas do país, sendo consultado sobre diversos assuntos pela mídia. Também estabeleceu uma ponte entre as religiões cristãs e o judaísmo, participando de inúmeras cerimônias e eventos ecumênicos. Junto com o já falecido arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e do também falecido pastor presbiteriano unido Jaime Wright, participou de maneira destacada no projeto secreto de reunir toda a documentação da ditadura militar brasileira, que resultou em 1985 na publicação do livro "Brasil: Nunca Mais" – um marco na história dos direitos humanos no país, em que a tortura e os torturadores foram expostos com base no farto material reunido.
Em 1975, quando o regime estava cada mais recrudescido, e a coisa pegava – e pegava mesmo – o rabino Henry Sobel enfrentou com muita coragem a ditadura militar e enterrou o jornalista Vladimir Herzog no jazigo da família, e não no “limbo” – espaço nos cantos dos cemitérios reservado aos suicidas na religião judaica – indicando com isso que não aceitava a teoria do suicído que a ditadura havia divulgado sobre a morte do jornalista. Além deste ato, realizou uma cerimônia ecumênica na Catedral da Sé, em memória de Herzog. Sobel sempre foi corajoso e denunciou profeticamente a linha-dura do regime militar.
Este flagrante de furto de gravatas numa loja em Miami é algo infinitamente menos perigoso do que enfrentar a ditadura militar brasileira. Quando da divulgação do fato, pediu o seu afastamento do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e foi aceito.
O que exaspera são os comentários irônicos em blogs, que não perderam tempo em se aproveitar da notoriedade de Sobel, o principal foco de piadistas covardes foi, como de costume, o site de relacionamentos Orkut. Algumas comunidades foram criadas, entre elas a Free Henry Sobel (liberte Henry Sobel), cujo mote é “Ele é o nosso Winono Ryder!”, mencionando episódio em que a atriz Winona Ryder foi flagrada roubando roupas em uma loja, também nos Estados Unidos. Em outra comunidade, na Henry Sobel Nunca me Enganou, a enquete é "por que o Henry Sobel roubou as gravatas?" Entre as alternativas, respostas como: "ele esqueceu a carteira em casa e ia pagar depois"; "porque ele achou que as gravatas eram de graça"; "por causa da paz entre os povos"; "foi tudo uma armação da Palestina"; "porque ele é judeu"; "um cristão que colocou as gravatas no bolso dele" e "porque as gravatas eram lindas demais". Porém algumas pessoas mais inteligentes e avessas às mediocridades de plantão manifestaram solidariedade, em comunidades como a O sotaque do Henry Sobel, que, em sua descrição, esclarece que "existe para fins humorísticos e pacíficos, portanto qualquer tópico com discussões racistas, anti-semitas e derivados serão execrados" e que tem como base o sotaque característico que o rabino mantém apesar de estar há tanto tempo no Brasil.
Por conta disso Sobel foi internado no Hospital Albert Einstein. Em nota divulgada à imprensa, o hospital informou que o rabino já vinha fazendo uso 'imoderado' de medicamentos hipnóticos e diazepnícos por conta de 'insônia severa' nos últimos dias. Segundo a nota, estes medicamentos são 'causadores potenciais de quadro confusão mental e amnésia'. No início da tarde, o hospital divulgou o primeiro boletim médico informando que Sobel foi internado por apresentar 'descontrole emocional' e 'transtornos de humor'. A nota, assinada pelos médicos José Henrique Gernann e Flávio Huck, diz que Sobel foi internado nesta madrugada' devido ao episódio de transtorno de humor, representado por descontrole emocional e alterações de comportamento'.
O afastamento de Sobel da Congregação Israelita Paulista deverá ser avaliado em Israel. A comunidade judaica quer levar para o Conselho Rabínico Mundial o caso do rabino. O fato de Sobel ter passado o shabat (descanso em hebraico) na cadeia provocou a ira dos judeus conservadores, que consideram o desrespeito a ele uma falta gravíssima. Pessoas próximas ao rabino dizem que ele vem apresentando quadro de 'senilidade e cleptomania', que é impulso mórbido para o furto.
Henry Sobel estava escalado para um encontro com o Papa Bento XVI, em maio. A prisão surpreendeu a Igreja Católica e o bispo auxiliar de São Paulo, dom Pedro Luiz Stinghini, disse que os judeus podem escolher para o encontro quem acharem melhor.
- Não consigo imaginar a cena - disse o bispo, ao comentar a acusação de furtos de gravatas.
Num comunicado assinado, Sobel diz que não admite que tentem desqualificar os valores morais que sempre defendeu, sempre foi favorável a uma negociação pacífica na luta entre israelenses e palestinos. Ele cometeu um erro – furtou gravatas. Porém não ousemos diminuir o que ele fez antes. Bastante constrangedora a cena dele, alquebrado, pedindo desculpas na mídia.
Em 33d.C.(data especulativa) um outro Rabino, chamado Joshua, mais conhecido pelo nome helenizado de Jesus, quando a sua popularidade estava começando a colocá-lo em perigo com as autoridades políticas judaicas, encontrava-se no Templo de Herodes: “... Algumas pessoas reuniram-se em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, disseram a Jesus:“Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu? ”Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. Então Jesus se levantou e disse:“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.”
A cena é bela demais: um homem abaixado, uma mulher atirada ao chão, rostos ferozes, lágrimas, salivas, suores, pedra, poeira, pó, e uma mão calejada de trabalhar alheia a tudo isso, escreve no chão. Assim o Evangelho de João nos coloca diante de uma cena teatral digna dos dramalhões mexicanos; dramática. Uma mulher apanhada em adultério, que pela Lei de Moisés, deveria ser apedrejada até a morte. Jesus é testado, querem mostrar que a sua tolerância tornou-se libertinagem. Antinomia. Queriam mostrar que Jesus era complacente.
Não vou enumerar as ações de Jesus que todos já sabem, mas quero enfatizar a última: Quando ele diz “não peques mais”, Jesus reconhece o comportamento pecaminoso daquela mulher. Não mascara a sua condição. No entanto, o remédio de Jesus é diferente (e quanto!) daquele que usamos diariamente. A compaixão dele é misericordiosa, nós só sabemos usar a acusação, a crítica, o julgamento, e quando não a morte. É nosso feitio julgar, é do feitio de Deus perdoar, amar, compreender. Isso é assim porque Deus olha para nós sempre com os olhos de futuro. Ele não olha para o que eu fui, ou o que eu sou, Ele olha para o que eu serei. Deus nos vê sempre como vasos em construção, necessitando de acabamento, por isso mesmo tolera nossas imperfeições, sabe que no final seremos aquilo que Ele quer que sejamos. Nós somos seres do passado. Vivemos com o olhar fixo no retrovisor da vida. Olhamos o outro e a nós mesmos sempre numa perspectiva de passado. Achamos que somos aquilo que fizemos, olhamos o que as pessoas fizeram ou fazem para decidir se as podemos amar. Deus nos ama não porque sejamos bonzinhos, estamos aprendendo a ser bonzinhos, porque Ele já nos ama. Jesus não morreu para que Deus nos amasse, mas sim porque Deus já nos amava. Os dedos de Jesus servem para escrever nossa história ainda que na areia, e nos ajudar a enxergar através da bruma, quando nossos olhos fraquejam. Os dedos de Jesus nunca foram apontados inquisitoriamente para alguém. Não foram feitos para isso, servem sim para apontar o nosso caminho, nossa estrada, nossa trajetória de vida após encontrá-lo. Quando encontramos Jesus no meio da poeira e das areias do tempo de nossas vidas destroçadas, a partir dalí ele só nos deixa ver o caminho que temos a percorrer, pois quanto ao caminho que percorremos tropegamente, quando tentamos olhá-lo mirando para trás, só enxergamos um monte, um jardim, três, cruzes.
Antes de atirar uma pedra em Sobel eu parei e pensei nesta cena do outro Rabino, mais moço, mais antigo e mais sofrido. Aprendo com ele a olhar para Sobel e dizer: "Por que te condenaria?". Vai Sobel em Shalom!, lembre-se apenas que somos "Maltrapilhos de Abba!".
Muitos estão prontos a apagar tudo o que ele fez pelos direitos humanos e em busca da paz e do diálogo por míseras gravatas, nós não podemos mudar o passado ruim e desapontador, creio que ele mesmo se pudesse apagaria esse incidente das gravatas, logo também não podemos apagar o passado de ética e luta pela paz além de uma biografia tão bela quanto a dele.
Somos errantes peregrinos, ansiosos para voltar para casa. D'us te dê Paz Sobel!. Pois perdão Ele já te deu há muito tempo.
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