Paris, 1792, o oficial Claude Joseph Rouget de Lisle da divisão de Estrasburgo, compôs uma canção com um forte teor revolucionário, o canto, originalmente, foi concebido para encorajar os soldados que combatiam nas fronteiras, na região do rio Reno. Ela obteve, surpreendemente, sucesso imediato e em pouco tempo, por intermédio de viajantes, chegou à Provença, no sudeste da França. O auge da popularidade desta canção foi no período conhecido como Revolução Francesa, especialmente entre as unidades do exército de Marselha, estas, um mês depois de sua composição a cantaram durante toda uma marcha que fizeram até Paris, e a tornaram conhecida naquele grande centro urbano, que também era a capital do país. Desde então, passou a ser associada à cidade de Marselha. ficando por isso conhecida como La Marseillaise (A Marselhesa), não demorou muito para que se tornasse o Hino Nacional da França.
Ainda que tenha sido banida em alguns momentos posteriores, hoje (2011) ainda é o hino oficial francês, mostrando que a canção venceu afinal.
Martinho Lutero, monge alemão, da Ordem dos Agostinianos compôs uma canção para encorajar os seus seguidores, e os partidários de suas ideias teológicas, na luta contra o Império e a Igreja de Roma. A ideia central desta canção foi concebida nas semanas que antecederam a convocação de Lutero para ir a Worms, se defender diante do Imperador e dos emissários do Papa e em decorrência, defender o movimento reformado que acabava de nascer na Alemanha, quaisquer vacilos, ou tropeços, sabiam os líderes do movimento, certamente que seriam fatais, e que poderiam acarretar na morte prematura de uma ideologia e de seu mentor . Segundo John Fox, no seu famoso Livro de Mártires Cristãos, no capítulo História da Vida e Perseguições de Martinho Lutero, este foi dissuadido por seus amigos a não comparecer diante do Imperador, que não era simpático à causa reformada, o que poderia acarretar em condenação à morte, Fox assim descreve o ocorrido:
“... Veio de modo contrário às expectativas de muitos, tanto dos adversários como dos amigos. Os seus admiradores deliberaram juntos, e muitos trataram de persuadi-lo para que não se aventurasse ao perigo de ir a Roma, pois consideraram que tantas vezes não se havia respeitado a promessa de segurança para as pessoas nesta condição. Ele, após ter ouvido todas as suas persuasões e conselhos, respondeu-lhes do seguinte modo: “No que a mim me diz respeito, uma vez que me chamaram, resolvi e estou certamente decidido a ir a Worms, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo; sim, mesmo sabedor de que há ali tantos demônios para resistir-me, em número tão grande como o das telhas que cobrem as casas da cidade de Worms”.
Segundo ainda algumas “lendas pias”, Lutero teria dito: “Se cada telha dos Castelos de Worms fosse um demônio, mesmo assim, eu iria, pois Castelo Forte é o nosso Deus!”, desta forma a canção que ele compôs foi chamada assim.
Existem controvérsias sobre quase tudo na vida de Lutero e sobre o momento exato em que foi escrita esta música, não poderia deixar de ser. Alguns historiadores defendem que ela tenha sido produzida durante o exílio forçado no Castelo de Wartburgo, quando também iniciou a tradução da Bíblia para o alemão, feito que, segundo autoridades germânicas, fixou o idioma, igualando-o ao feito de Camões com a obra os “Lusíadas” na língua portuguesa.
Wittenberg, 1517, mais precisamente no dia 31 de outubro, há exatos 494 anos, este padre agostiniano, que também era professor de teologia, o já citado alemão Martinho Lutero, escreveu em latim, para a comunidade teológica, algumas de suas inquietações e de seus questionamentos quanto à postura da igreja católica, dos bispos e da maioria dos padres, naquilo que ele considerava desvios e afastamentos da teologia e eclesiologia sadias, foram tantos questionamentos que quando deu por si já tinha chegado a 95. Como forma de conclamar os alunos e seus pares para um debate que redundasse numa melhoria da práxis teológica, ele fixou estas ideias, chamadas no jargão teológico de então de Teses, às portas da catedral do castelo de Wittenberg. Certamente que Lutero jamais imaginou que o seu ato resultaria num dos estopins da Reforma Protestante, não foi o único e nem foi o primeiro, mas certamente que foi um dos mais importantes.
Existem controvérsias sobre quase tudo na vida de Lutero e sobre o momento exato em que foi escrita esta música, não poderia deixar de ser. Alguns historiadores defendem que ela tenha sido produzida durante o exílio forçado no Castelo de Wartburgo, quando também iniciou a tradução da Bíblia para o alemão, feito que, segundo autoridades germânicas, fixou o idioma, igualando-o ao feito de Camões com a obra os “Lusíadas” na língua portuguesa.
Wittenberg, 1517, mais precisamente no dia 31 de outubro, há exatos 494 anos, este padre agostiniano, que também era professor de teologia, o já citado alemão Martinho Lutero, escreveu em latim, para a comunidade teológica, algumas de suas inquietações e de seus questionamentos quanto à postura da igreja católica, dos bispos e da maioria dos padres, naquilo que ele considerava desvios e afastamentos da teologia e eclesiologia sadias, foram tantos questionamentos que quando deu por si já tinha chegado a 95. Como forma de conclamar os alunos e seus pares para um debate que redundasse numa melhoria da práxis teológica, ele fixou estas ideias, chamadas no jargão teológico de então de Teses, às portas da catedral do castelo de Wittenberg. Certamente que Lutero jamais imaginou que o seu ato resultaria num dos estopins da Reforma Protestante, não foi o único e nem foi o primeiro, mas certamente que foi um dos mais importantes.
Lutero, por ser um poeta com forte pendor musical, sempre atentou para a música e suas influências no âmbito da nova comunidade eclesial que surgia, mesmo à contragosto, de seu movimento. À época, as músicas utilizadas na liturgia eram polifônicas, elas se apresentavam com mais de uma melodia, e todas estas melodias eram cantadas e executadas ao mesmo tempo, o que era muito complexo de ser feito, muito embora fosse belíssimo de ser apreciado. Além disso, não só por conta dos dotes musicais, mas também pelo mínimo de cultura e conhecimento necessários aos executores, esta atmosfera musical só era acessível aos membros mais elevados da alta hierarquia da igreja. Poucas pessoas eram habilitadas para cantar e, muito poucas, tocavam algum instrumento. Lutero, com sua noção de igualdade e desclericização, entendia que as pessoas na igreja deveriam cantar algo mais simples, de fácil acesso e canções menos complexas de serem executadas, popularizando dessa forma o estilo canto coral, essa preocupação era não só para a adoração, mas também para a catequese, já que o povo iletrado aprendia por meio daquilo que cantava.
O estilo que ajudou a tornar popular, ele não criou, é conhecido como canto congregacional, que nada mais é que uma canção apresentada numa melodia só, porém a harmonia é dividida para quatro vozes (baixo, tenor, contralto e soprano). Assim ele proporcionou que qualquer pessoa, por mais simples que fosse, pudesse manifestar sua adoração a Deus através do canto, o que no passado só era acessível aos letrados clérigos da igreja romana, por isso mesmo, eram envoltos em mistério e muitas vezes sacralizados. As letras das canções hinos foram traduzidas do latim para o alemão, e para as línguas nativas dos países que aderiram a esta prática, o que até então só era cantado por poucos, passou a ser cantado por todos.
A Lutero são atribuídas várias canções e peças musicais, todas foram compostas para serem cantadas na igreja, nenhuma, porém, supera a famosa e emblemática “Castelo Forte é o nosso Deus” (Ein' feste Burg ist unser Gott), que aparece em todos os hinários evangélicos brasileiros e que só é cantada no dia 31 de outubro nas igrejas históricas, nas demais, que não são diretamente herdeiras da Reforma, nem isso acontece. O poeta romântico Heinrich Heine foi um dos que primeiro a chamou de “Marselhesa da Reforma”: por ser o símbolo de uma época de libertação religiosa e intelectual, e como não poderia deixar de ser, revolucionária.
O hino é baseado no livro de Salmos, capítulo 46, principalmente no versículo sete. Este salmo, que é uma canção da liturgia judaica começa assim: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. Lutero não a traduziu diretamente do hebraico, antes fez uma paráfrase, que, nada mais é que uma adaptação do original com a intenção de tornar a letra acessível a qualquer pessoa, em qualquer nível cultural, originando este tão famoso “Coral da Reforma”. Lutero também é autor da melodia, ele mesmo compôs os arranjos que deveriam acompanhar esta música, segundo alguns estudiosos, ele fez isso de maneira magistral. São elogiados por estes estudiosos o vigor, a profundidade e a nobreza da linha melódica. Eu não entendo de música, por isso elogio a letra e dou meu testemunho de que ao ouvir a introdução deste hino, assumo um rigor marcial, tal impacto que ele causa em mim, mas isso é tema para outro tipo de artigo. Quem é que não se emociona com versos como esse?
“Com o seu poder defende os seus
Em todo o transe agudo”.
Em todo o transe agudo”.
“E nada nos assustará
Com Cristo por defesa”.
A canção “tornou-se um hit” ainda na infância do movimento reformista, expandiu-se muito rapidamente, como tudo que era associado a Lutero, e chegou, em pouco tempo, a tornar-se o hino nacional da Alemanha protestante. Lutero, bem como os seus seguidores, não só cantava em todas as ocasiões possíveis, como incentivava que a mesma fosse cantada nos lares, nas ruas, no campo, em viagens, etc. O quanto ela foi importante à época, para infundir coragem aos que se sentiam fracos e para incentivar os que “guerreavam” na feroz batalha contra ardilosos inimigos, para que alcançassem vitórias, é de longe, incalculável.
Ela sempre recebeu da parte de numerosos compositores tratamento especial. Podemos citar dentre eles o incomparável organista barroco alemão, Johann Sebastian Bach, com a cantata BWV 80 (Ein' feste Burg ist unser Gott), o pianista alemão, do período romântico, Felix Mendelsshon-Bartholdy, com a Sinfonia da Reforma, Beethoven dela fez um cânon para vozes masculinas; Meyerbeer usou-a em sua ópera “Os Huguenotes”, Wagner na célebre “Marcha do Imperador”, que escreveu para comemorar o regresso do Imperador Guilherme, que voltava vitorioso do confronto Franco-Prussiano, e Debussy que apresentou-a no n° 3 de suas peças a dois pianos intituladas “Em preto e branco”. Isto para só citar as algumas das principais apropriações desta renomada peça de Lutero.
Fazendo coro com alguns historiadores, afirmo que é inconcebível celebrar e comemorar a Reforma Protestante sem que este hino seja cantado, eu senti falta do som tão familiar no filme Lutero. A certeza que a canção luterana nos traz de que Deus é um escudo e o refúgio forte para todos os homens, e que os defende de toda a investida maligna do inimigo, que vive rodeando como um leão que ruge, a torna uma canção que supera todas as limitações cronológicas. Lutero afirma que aquele que ama, e teme o Deus Altíssimo, pode perder tudo nesta vida, mas, certamente, com Jesus Cristo irá viver eternamente. Os defensores da Teologia da Prosperidade bem que poderiam de vez em quando cantar essa música em suas igrejas.
Pois é isso. Que Halloween que nada! hoje é dia da Reforma Protestante. Hoje é dia de celebrar a coragem de Lutero, Calvino, Zwínglio e tantos outros anônimos que acabaram sofrendo o martírio. Hoje é dia de dizer: Sou protestante! Graças a Deus.
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