Eu ainda tenho um sonho! Diferentemente do sonho do pastor e profeta Martin Luther King que sonhava com um novo dia, um novo mundo, meu sonho é mais singelo, meu sonho é um sonho de Natal, e neste sonho, não há os presentes desejados, e nunca alcançados, da infância: revólver de espoleta, trem elétrico, bicicleta de cross, Atari, etc, no meu sonho há apenas um desejo: que o Natal seja diferente do que é hoje. Não estou sendo nostálgico e pregando que os “Natais” passados teriam sido melhores do que os atuais, não é isso, estou dizendo que sonho com um Natal diferente de todos os que vivi, ou que existiram um dia.
No meu
sonho de Natal as discussões “teológicas” sobre qual dia Jesus
de fato nasceu é coisa de somenos importância, não importará se
nasceu em dezembro, o que é pouco provável, ou em janeiro ou ainda
em fevereiro, o que importará de fato, é que o dia seja reservado
para que o Deus que se fez carne seja adorado. No meu sonho de
Natal, nenhuma igreja deixará de guardar este dia, nenhum cristão,
seja conservador ou não, deixará de fazer uma pausa em meio à
vida, com suas nuances da correria da pós-modernidade, para refletir
sobre o que o dia significa, nenhuma igreja fará com que o seu credo
e suas convicções teológicas sejam maiores do que relembrar que
Deus se fez carne!
No meu
sonho de Natal, as ruas não estão tomadas de homens de roupas
vermelhas e gorros vermelhos com barbas, postiças ou não,
ostentando barrigas enormes, postiças ou não, vendendo sonhos,
todos postiços, para crianças que não podem pagar por eles. As
ruas estarão tomadas por pessoas comuns que deixarão seus
interesses próprios, nem que seja por um único dia, e sairão em
busca de outras pessoas, tão humanas quanto elas, que não tiveram
as mesmas oportunidades, para dividir um pouco do que receberam da
vida, como analogia pelo que o Criador fez ao encarnar Seu
filho para que sofresse as nossas dores. No meu sonho de Natal não
apenas neste dia as pessoas serão solidárias e tolerantes, no meu
sonho de Natal, o verdadeiro espírito do Natal tomará o ano
inteiro, as pessoas viverão os 365, ou 366, dias do ano como se
fossem cada um o Dia de Natal!
No meu
sonho de Natal, não há pinheiros verdes, com simulacros de neve,
que não cai aqui no nordeste, ostentando as salas de estar dos
lares, mas sim mandacurus verdes e cheios de água. Ainda que
ressaltem as dificuldades pelas quais passa o povo forte e sofrido do
sertão nordestino, ainda assim é um libelo de esperança, tal e
qual o salmista, “... restaura-nos, assim como enches o leito
dos ribeiros no deserto...” (Salmo 126, NVI) o povo nordestino
pode cantar cheio de esperança: “... mandacaru quando fulora”
na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão...”,
acompanhando a letra de uma canção do repertório da região. No
meu sonho de Natal, não há ilusões, pinheiros verdes e neve, ainda
que belos de serem vistos, são apenas figuras ilusórias que não
trazem esperança, mas sim frustração. No meu sonho de Natal as
pessoas não ouvirão as músicas melancólicas natalinas, algumas
produzidas apenas para serem mote comercial, ouvirão sim as canções
que foram cantadas pelos anjos no dia que Deus se fez carne,
só que ao invés de anjos cantando, teremos um coro de maltrapilhos,
desempregados, moradores de rua, prostitutas, bêbados, viciados e
tantos outros desajustados, que conscientes de suas limitações,
encontram na encarnação um motivo para viverem, para viverem
uma vida, ainda que medíocre e aquém do padrão de Deus, ainda
assim uma vida de esperança, esperança que tudo pode mudar, que
tudo vai mudar um dia, pois o Deus que se fez carne um dia
prometeu: “... estou fazendo novas todas as coisas...”
(Apoc. 21:5 NVI).
No meu
sonho de Natal não há duendes verdes que arrumam o trenó de Papai
Noel e separam os presentes para serem entregues na noite de Natal.
No meu sonho de Natal há anjos, que passam o ano inteiro sendo
enviados por Deus para guardarem os Seus e os protegerem de todo o
mal, que tocam os corações sofridos e as feridas abertas com um
bálsamo de amor e compaixão. No meu sonho de Natal estes anjos,
alguns tão humanos quanto nós, dividem a sua alegria com crianças
em orfanatos, bebês em hospitais para portadores de HIV ou câncer,
idosos em asilos, enfermos em leitos de hospital e encarcerados na
prisão, e aceitam levar consigo um pouco das dores destes para que o
peso do fardo não seja tão grande assim.
No meu
sonho de Natal, os shoppings centers, templos consagrados ao deus
Mamon, não abrem, são proibidos de funcionarem, desta forma não
poderão vender ilusões, não estarão disponíveis para que
mulheres solitárias, sedentas de atenção e carinho comprem bolsas
e calçados, dos quais nem precisam, como forma de se presentearam
para minimizar o vazio que sentem na alma, não estarão disponíveis
para que homens da meia idade se sentem às mesas dos bares, envoltos
em fumaças de cigarros, e afoguem suas mágoas e suas frustrações
do ano todo em barris de chope e em conquistas sedutoras, vãs e
vazias, de moçoilas ávidas por aventuras e dinheiro fácil, não
estarão disponíveis para que adolescentes e jovens, que não se
encontraram ainda na vida, não enxergaram um caminho real e cheio de
propósito para seguirem, se enfastiem de diversão, drogas, bebidas
e de relacionamentos fugazes e vãos, como forma de diminuírem a
tristeza que sentem na alma por não terem uma vida com objetivo e
concretude, No meu sonho de Natal estes templos orgiásticos,
reservados apenas para aqueles que tem, estarão fechados, para que
todos possamos aprender que ser é muito mais importante do
que ter. No meu sonho de Natal, todos, absolutamente todos
aprenderão que o vazio na alma, só pode ser preenchido pelo Deus
que se encarnou, pois como disse um santo do passado: “...
fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto
não repousar em Ti”, não são as futilidades da vida que
preencherão este vazio.
No meu
sonho de Natal as redes de televisão estão proibidas de venderem
ilusões, não poderão exibir comerciais que induzam as pessoas a
fazerem compras de supérfluos, de supérfluos que não podem pagar,
de supérfluos que não precisam. Não poderão enganar as pessoas,
induzindo-as que para serem aceitas nas muitas tribos que a sociedade
criou precisam fumar aquele cigarro, beber aquele refrigerante ou
aquela cerveja, usarem aquela roupa ou terem aquele carro. As pessoas
aprenderão que só serão aceitas, e só aceitarão o outro,
incondicionalmente, quando todos, absolutamente todos, nos amarmos
como Jesus nos ensinou e mandou que fizéssemos, qualquer coisa
diferente e distante disso é frustração, pois será uma caricatura
de amor, e um amor caricaturesco não preenche o vazio e a
necessidade que o ser humano tem de ser amado. No meu sonho de Natal
as pessoas não farão dívidas impagáveis, não entrarão no ano
seguinte devendo mais do que são capazes de pagar, simplesmente
porque foram induzidas pela insaciabilidade do comércio. Cada uma
comprará aquilo que de fato precisa e pode pagar, aquelas que
precisam de algo pelo qual não podem pagar, esperarão o dia em que
poderão comprar ou receberão de outrem.
No meu
sonho de Natal não há presentes para pobres ou ricos, todos saberão
que aquele dia é do Deus que se fez carne, logo é Ele que
deve receber presentes, e como o conceito de valores do mesmo é
diferente do conceito secular, precisarão pois refletir sobre o que
colocar diante dEle, e saberão então que o que mais O agrada é
“... um coração quebrantado e contrito...” (Salmo 51:17
NVI), então todos nós, independentemente de cor, raça, credo,
status quo, etnia e local de nascimento, depositaremos diante
de sua manjedoura aquilo que temos de mais precioso: nossas vidas,
nossas almas, nossos corações e nossos sonhos!
Espero
dormir e sonhar este singelo sonho de Natal, e espero que a noite
seja longa, e quando acordar, espero descobrir que não foi um sonho,
mas sim que uma revolução espiritual aconteceu e que o meu sonho se
tornou realidade, pois foi um sonho que me foi dado por Aquele que
se fez carne e habitou entre nós.
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