Habacuque, um profeta existencialista, que viveu entre 600 e 300 a.C., era um homem de fé, ainda que arrazoando com Deus, ainda que duvidando d'Ele. Chegou pois a questionar a intervenção divina na história humana, quando indagou em suas pressuposições kierkegaardianas: "Até quando clamarei eu e tu não me escutarás?..."Era um homem cansado e desenganado.
Clamores contemporâneos! Queixas hodiernas! Reclamos de alguém que anseia pelo advento do Reino de Deus. Quando Deus perguntou a Caim onde estava Abel, usou uma figura muito vívida "...a voz do sangue de teu irmão clama a mim desde a terra..." Ele ouviu os brados metafóricos, os gritos lancinantes por justiça, feitos por uma voz silenciosa, muda, inaudível. São dois brados, são dois gritos, são dois protestos antitéticos, de um lado o profeta de Deus que ainda tem voz para reclamar, do outro o sangue do mártir que já não pode falar nem clamar, a violência calou sua voz.
O sangue clama porque não há quem grite em seu lugar, não há quem fale por si, então ele sobe em clamor até Deus. Tertuliano dizia que o sangue dos mártires cristãos, vítimas da sanha sanguinária e da violência gratuita do Império Romano, servia de insumo para um novo semear do Espírito Santo.
Mártir, um termo que bem pode ser interpretado como testemunha, é todo aquele que morreu por uma causa, dando sua morte como legado da vida e das idéias que defendeu, como combustível que impulsiona aqueles que testemunham sua morte e sua vida. Foi assim com os primeiros cristãos, com os atraiçoados da Guanabara, com os curdos, com os judeus durante quase toda sua história, com os afegãos, com os kosovares, com os palestinos e agora com o povo Xukuru.
Mártires de todos os dias, do cotidiano, mortes banais, pois caem rápido demais no esquecimento. Quando alguém fala em nome de outro que foi imolado, o sangue dele descansa em paz, mas quando calamos por medo ou omissão, seu sangue sobe até Deus. Como Habacuque, sinto-me cansado de ter que ir ao Monumento Tortura Nunca Mais, pois não tenho ido para depositar flores, tenho ido com muitos outros cúmplices e conspiradores da paz em busca de justiça, para gritar que a violência ainda não acabou.
Somos famintos de sede e de justiça, ainda temos voz, por isso não podemos deixar que o sangue dos mártires precise subir até Deus, falemos por eles, pelo povo iraquiano, curdo, afegão, xucuru, atikum, palestino e os nossos irmãos que são sacrificados todos os dias pela violência. "Venha o Teu reino".
Clamores contemporâneos! Queixas hodiernas! Reclamos de alguém que anseia pelo advento do Reino de Deus. Quando Deus perguntou a Caim onde estava Abel, usou uma figura muito vívida "...a voz do sangue de teu irmão clama a mim desde a terra..." Ele ouviu os brados metafóricos, os gritos lancinantes por justiça, feitos por uma voz silenciosa, muda, inaudível. São dois brados, são dois gritos, são dois protestos antitéticos, de um lado o profeta de Deus que ainda tem voz para reclamar, do outro o sangue do mártir que já não pode falar nem clamar, a violência calou sua voz.
O sangue clama porque não há quem grite em seu lugar, não há quem fale por si, então ele sobe em clamor até Deus. Tertuliano dizia que o sangue dos mártires cristãos, vítimas da sanha sanguinária e da violência gratuita do Império Romano, servia de insumo para um novo semear do Espírito Santo.
Mártir, um termo que bem pode ser interpretado como testemunha, é todo aquele que morreu por uma causa, dando sua morte como legado da vida e das idéias que defendeu, como combustível que impulsiona aqueles que testemunham sua morte e sua vida. Foi assim com os primeiros cristãos, com os atraiçoados da Guanabara, com os curdos, com os judeus durante quase toda sua história, com os afegãos, com os kosovares, com os palestinos e agora com o povo Xukuru.
Mártires de todos os dias, do cotidiano, mortes banais, pois caem rápido demais no esquecimento. Quando alguém fala em nome de outro que foi imolado, o sangue dele descansa em paz, mas quando calamos por medo ou omissão, seu sangue sobe até Deus. Como Habacuque, sinto-me cansado de ter que ir ao Monumento Tortura Nunca Mais, pois não tenho ido para depositar flores, tenho ido com muitos outros cúmplices e conspiradores da paz em busca de justiça, para gritar que a violência ainda não acabou.
Somos famintos de sede e de justiça, ainda temos voz, por isso não podemos deixar que o sangue dos mártires precise subir até Deus, falemos por eles, pelo povo iraquiano, curdo, afegão, xucuru, atikum, palestino e os nossos irmãos que são sacrificados todos os dias pela violência. "Venha o Teu reino".
Diário de Pernambuco Edição de Sexta-Feira, 7 de Março de 2003
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