397 d.C. Roma, a maior metrópole do mundo civilizado de então, que não me escutem os chineses, estava em declínio, o seu zênite havia passado e o ocaso já se levantara no horizonte, os bárbaros estavam fazendo festa, pois as fronteiras do império estavam desguarnecidas, as muitas intrigas rasgaram a túnica que nunca foi inconsútil. Foi então que esse mundo em ruínas morais e sociais passou a conhecer a alma de Aurelius de Tagaste(atual Argélia), mais conhecido como Agostinho, ou Santo Agostinho, o filho de Mônica, através de sua obra Confissões, escrita enquanto o mesmo ainda era pastor(bispo) da diocese de Hipona, com frase escritas para a eternidade, tais como: “... porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso...”. (Estou usando a versão da Martin Claret, 2002, São Paulo, uma péssima tradução, não aconselho a ninguém comprar nenhum livro desta editora, a tradução parece que foi feita por um programa de computador, em uma palavra: medíocre).
2006 d.C. O mundo pseudo-civilizado de então: os EUA estão em fase de declínio, o que normalmente acontece com todos os impérios, tudo o que sobe, desce. Craig Groeschel, pastor de uma igreja norte-americana em evidência, escreveu Confissões de um pastor(publicado no Brasil pela Editora Mundo Cristão, 2007), claro que sem os arroubos da genialidade literária e da profundidade filosófica e retórica de Agostinho, exigir isso seria demais também, não é mesmo? O título criou uma expectativa muito grande em mim, que não foi correspondida, bastante irreal, pude perceber ao término da leitura, senti-me frustrado, pois esperava muito mais, fechei o livro com um pouco de sabor de cabo de guarda-chuva na boca, não que uma curiosidade mórbida me motivasse a saber os pecados de alguém, mas sim por desejar ouvir dificuldades iguais às minhas nas palavras de outra pessoa para descobrir que não sou o único que sofre tais defeitos de fábrica. O título soou um pouco marketeiro por isso, não correspondendo com a proposta do autor, não deixa de ser um bom livro, mas não para mim, queria mais, muito mais.
Resolvi então escrever esta série de artigos, que provavelmente só eu lerei afinal de contas eu escrevi para mim, seria mais ou menos como uma dissertação de confessionário, muito embora minha tradição eclesiástica não contemple esse tipo de ritual. Não tenho a pretensão de seguidores e nem de leitores, escrevê-lo por si só já é um feito, mais que isso seria arrogância.
Não pretendo nessas confissões seguir uma linha de raciocínio, mas apenas colocar pensamentos dispersos, qual colcha de retalhos, seria o que os iluminados chamam de brainstorm. Caso pareça que não tem começo nem fim, você estará coberto de razão e não peço desculpas por isso.
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