Confissões de um ex-pastor(II)

O Kyrie eleison é um dos cânticos mais belos de todos os tempos da hinódia cristã, conciso, porém de uma densidade inigualável, o nome é a pronúncia do vocábulo grego Kyriós, na forma vocativa, com sentido exclamativo e significa Senhor! Cantado como mantra por algumas tradições orientais é repetido milhares de vezes por aqueles cristãos, que buscam o êxtase de forma diferente daquela que a tradição protestante ocidental está acostumada:
Senhor, tem piedade de nós,
Cristo, tem piedade de nós,
Senhor tem piedade de nós, sim, tem piedade de nós
!

Para essas tradições a Oração do Coração, como é chamada, é o centro de sua espiritualidade, a mesma está também disseminando-se por aqui no ocidente, quem quiser saber mais leia O Peregrino Russo da Paulus. Mesmo correndo o risco de parecer arrogante e ousado, eu compus um Kyrie, customizado, personalizado, para introduzir minhas orações, queixumes, monólogos e conversas particulares com Deus:
Sou um maltrapilho Abba!
Tem misericórdia de mim pecador.

Fiz uma síntese da oração do cego à beira do caminho com o elemento central da teologia espiritual de Brennan Manning, padre romano, casado, norte-americano, verdadeiro profeta e mentor de muitos teólogos protestantes, no belíssimo livro O Evangelho Maltrapilho da Editora Textus/Mundo Cristão, talvez o melhor livro que eu li nos últimos dez anos, melhor até mesmo que Maravilhosa Graça de Philip Yancey e Despertar da Graça de Charles Swindoll.

Nessas singelas palavras, não estou sendo hipócrita ao falar assim, não estou tentando dizer para Deus quem eu sou, isso Ele já o sabe muito bem, eu estou dizendo isso para mim, quando acordo, quando deito, quando abro um livro, quando viajo ou quando divago em pensamentos, que sou um mendigo, de vestes rotas, que anseio desesperadamente pelo carinho do meu Abba, meu Paizinho, que até mesmo esse declaração é fruto da graça dEle, que não mereço, por isso mesmo esse amor é tão grande, posso até mesmo dizer que injusto, não fiz nada, não faço nada, sou tão desajustado, tão complicado, tão imerecedor, pareço mais com o filho de Jônatas: Mefibosete, que mesmo sendo aleijado, mesmo sendo desprezado, um dia o rei mandou buscar no deserto de Lo-debar, trouxe-o à sua presença e o convidou para comer à mesa todos os dias. Como ele deve ter feito tantas vezes, sento-me no canto e fico quieto, mas Ele insiste em Se levantar e vir me abraçar. Ah! como é doce o Seu abraço, como é quente o Seu beijo nas minhas faces. Minhas lágrimas rolam pela face ruborizada, eles as enxuga e me oferece uma outra taça.

Sou tão orgulhoso, tão soberbo, que preciso repetir todos os dias que saí de Lo-debar, de uma vida num deserto interior, de vergonha e medo, depressão e desespero, porque o Rei mandou me buscar, não sai por minhas próprias forças. Digam o que disserem de mim, provavelmente em tudo terão razão, mas Ele mandou me buscar, segundo as Suas próprias palavras: "... para que eu use de bondade..." Ele não morreu no meu lugar para poder me amar, Ele morreu sim, por já me amar. Um amor que não cobra, um amor que perdoa, que não estabelece condições. Sou um maltrapilho Abba!...

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