Um dia olhou para ela e se deu conta de algo que esperava há muito tempo, mas que não achava que chegaria tão cedo, tinha virado realidade: ela não era mais uma menininha, já estava deixando a puberdade para trás, estava “virando” uma moça. A imagem daquela menina loirinha, de sorriso meigo e cativante, existia apenas na mente dele e nas fotos que guardava com carinho numa pasta de seu computador pessoal, a mania de caixas e mais caixas com fotos ele deixou de lado há muito tempo.
Com certa nostalgia lembrou-se dela andando de gatinhas pela casa, derrubando tudo o que vinha à mão, inclusive os livros que ele guardava com tanto ciúmes. Lembrou-se também da mania que havia adquirido quando ela nasceu, um verdadeiro vício: gostava de colocar apelidos nela, toda semana era um novo, às vezes eram dois na mesma semana, nem bem um começava a “pegar” e ele já vinha com outro. Ele fazia testes, um dia talvez algum caísse como uma luva.
Por conta da cor rósea, quase vermelha com que ela nasceu, ele lhe deu a alcunha de colorau. Por ser muito pequena na época, talvez ela nem sequer se lembre desse apelido, apenas ouviu dizer que um dia foi chamada assim, como todos os outros que se seguiram, este também era volátil e logo saiu do uso e ficou nos anais da curta história de vida dela.
Por conta do cabelo loiro que ela tinha, e pelo costume que têm os nordestinos de chamarem os loiros de galegos (galegos eram os habitantes da região chamada de Porto Gale, depois Portugal), ele a chamava de galeguinha, esse teve um ciclo de vida maior, chegou até à adolescência, mas também caducou e feneceu.
Quando ela cresceu mais um pouco e já tentava se portar como uma moça, não mais como uma criança ele passou a chamá-la de menininha, era uma forma carinhosa de dizer-lhe que não crescesse ou que para ele, ela nunca cresceria, seria sempre a sua menininha. Esse é o preferido dele, ainda a chamava assim quando ela ultrapassava a adolescência.
Quando ela já estava na puberdade ele passou a chamá-la de Mysha Nokoy, que em japonês significa Filha Querida, por solicitação dela mesma, que por ser fã de animes passou a ser aficionada pela cultura nipônica. Esse pegou mesmo, ele achava estranho pronunciar o nome dela na frente das pessoas, tanto que se acostumou com esse apelido.
Como ele se tornou apaixonado por literatura afegã, hábito surgido após ler Cidade do Sol, O Caçador de Pipas e O livreiro de Cabul, obras que só se tornaram conhecidas no mundo ocidental por conta da queda do regime talibã que dominou com mão de ferro aquele país, passou a adotar o hábito de usar os mesmos termos usados naquela língua para referir-se às pessoas muito amadas. Naquele idioma quando alguém quer demonstrar o amor que sente por outra pessoa ela diz: "... você é a noor dos meus olhos!". Ou seja, você é a luz, o brilho do meu olhar. Não se tornou afegão, mas dizia com a alma para ela: Você é a noor dos meus olhos.
Assistindo à Menina de Ouro, película que o fez chorar demais, aprendeu que em gaélico, língua dos irlandeses, povo de origem celta, cultura esta que ele amava demais, em todos os aspectos possíveis, principalmente a literatura, a música e até mesmo a espiritualidade, existe uma forma especial de demonstrar apreço por alguém, basta dizer: "... Mo Cuishle..." que quer dizer: Minha querida, meu sangue! Ele ansiava que isso fosse gravado no coração dela, vivia fazendo com que ela nunca esquecesse, tentava impregnar a mente dela com esta verdade tão profunda: você é minha querida, você é meu sangue! Pensava sempre em tatuar no braço: Mysha mo cuishle, noor dos meus olhos!
Não importa que nome, que alcunha venha chamá-la, o amor incondicional que sente é suficiente para lidar com ela de várias facetas, ou sem faceta alguma. Para ele, o que importa é que a ama, os apelidos foram e são apenas formas carinhosas de chamar a atenção dela para este fato: Amada por Deus e menininha do papai!
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