Massacre na Palestina

Apenas a criação de um Estado palestino soberano e independente pode interromper décadas de hostilidades. É preciso que os assuntos mais espinhosos sejam abordados com urgência e coragem.


Imagino Gaza como refém do horror. Quantos funerais devem estar ocorrendo todos os dias... Quantas famílias destroçadas, sem casa, sem comida, sem esperança... Quantas mães choram a morte dos filhos, quantas ficaram com a lembrança do rostinho sorrindo, talvez com um brinquedo ou uma roupa... As bombas trazem o fim e o luto, dia e noite. Mais de 1 milhão de 2,4 milhões dos moradores de Gaza estão desalojados ou deslocados internamente.

Enquanto isso, o mundo silencia. Não se justifica vingar o massacre de civis com a matança da população. É desumano, criminoso. Impor a morte aos homens sem vínculos com extremistas, às crianças, às mulheres e aos idosos, como resposta à barbárie cometida por um grupo, equivale a tratar os palestinos como escória humana. Matar bebês, meninos e meninas em bombardeios é exterminar gerações inteiras. Para muitos, trata-se de genocídio.

Defender a causa palestina não é compactuar com as atrocidades cometidas pelo Hamas. Não consigo dimensionar o terror experimentado pelos moradores do sul de Israel em 7 de outubro. Assisti ao filme de 43 minutos com gravações feitas pelas câmeras corporais dos próprios extremistas do Hamas, com imagens captadas pelas Forças de Defesa de Israel ou pelo circuito interno de segurança nas casas dos kibbutzim. Estive no sul de Israel, em março passado; visitei um kibbutz, um ambiente pacato, onde a paz predominava boa parte do tempo. Eu me solidarizo com a população do sul de Israel.

Mas, também, estendo meus pensamentos aos palestinos de bem, a imensa maioria, vítimas de bombardeios massivos que, como o embaixador Ibrahim Alzeben me disse, são vítimas de uma "política da terra arrasada". Todos os dias recebo imagens e vídeos de Gaza. Um menino de uns dois ou três anos treme compulsivamente; um homem abraça a filha, uma garota de uns seis anos, e ambos choram compulsivamente; um palestino em prantos embala os restos mortais da mãe, envoltos em um cobertor. O mundo precisa chorar por Gaza e deter essa atrocidade, que somente alimenta o ódio e o desejo de vingança. Os palestinos de Gaza estão condenados à desesperança.

Apenas a criação de um Estado palestino soberano e independente pode interromper décadas de hostilidades. É preciso que os assuntos mais espinhosos sejam colocados à mesa e abordados com urgência e coragem: a partilha de Jerusalém, o retorno dos refugiados, o fim dos assentamentos judaicos e da ocupação israelense, a autodeterminação dos palestinos. Chega de mortes, de luto, de crimes abomináveis. Os dois povos podem e devem conviver em paz. Concordo com Avi Issacharoff, jornalista israelense criador da premiada série Fauda. Uma solução baseada em dois Estados seria capaz de ferir de morte o Hamas. Levaria progresso e esperança a Gaza e aos demais palestinos.

Rodrigo Craveiro
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/11/6651989-artigo-massacre-na-palestina.html

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