Eu não sei direito como tudo isso começou. Pudera também, eu não tinha mais de 5 anos quando me veio o primeiro vislumbre de uma tragédia que talvez acabasse com tudo. Tragédia para nós porque seria um ganho e tanto às novas criaturas que dali por diante iriam cercá-lo.
Aquela casa, preciso confessar, sempre me intrigou um pouco. Eu lembro do céu e sua cor inexistente, lembro do branco amarelado que assumiu naquele dia em que eu estava sentada em uma escada de pedra, vendo a rua movimentar-se lá embaixo. Estava tudo muito calmo, claro e silencioso. De alguma forma eu gostava daquilo. Eu gostava muito daquilo.
Lembro-me que o vi chegar com aquele sorriso deslumbrante que só ele conseguia ter. Ele abriu o portão de ferro lá embaixo para adentrar o quintal de sua casa e eu me alegrava de vê-lo chegar, ainda mais do jeito que estava ali. Seu corpo estava mais forte, ele parecia muito mais saudável do que das outras vezes que eu o vira e vestia um terno cor-de-vinho incrivelmente bonito, lhe caía muito bem. Ao ver aquela imagem à minha frente, dirigindo-se a mim foi que eu comecei a pensar… Ora, mas por que ele estava vestido daquela forma? Não era normal, todas as vezes que eu passava algum tempo naquela casa eu o via vestindo roupas simples e confortáveis que sempre foi o que mais combinou com ele.
Uma atmosfera caseira e extremamente aconchegante. Eu notei cada detalhe de seu terno, da bengala em sua mão e da cartola cobrindo sua cabeça calva. Ele parecia um daqueles senhores de filmes antigos, perfeitamente arrumado e adereçado. Isso com certeza não era normal apesar de eu ter apreciado bastante tal mudança.
Foi então que eu entendi. Seus pés calçados naqueles sapatos engraxados e brilhantes vieram em minha direção lentamente, subindo a escada de pedra sem fazer barulho algum. Mirei cuidadosamente o rosto enrugado e doce daquele homem sorrindo pra mim e uma dor inexplicável tomou conta do meu peito, comecei a me sentir mal, um aperto imenso se formou dentro de mim. Eu queria sorrir também mas não conseguia.
Queria retribuir aqueles olhos tão cálidos mas os meus só refletiam pânico, eu sentia que seria abandonada. Foi assim que da mesma forma silenciosa na qual apareceu, ele sumiu. O céu branco amarelado daquele dia calmo foi ficando cada vez mais brilhante e me cegou, até que eu vi meu avô sumir no meio da escada de pedra, em seus passos até mim. Quando tudo escureceu, eu já tinha me dado conta de que ele não estava mais comigo. E pensei na alegria que Papai do céu devia estar sentindo naquele momento, por ter aquele homem tão precioso ao seu lado agora.
Mysha Pepper (Retirado de seu blog com permissão)
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1 comentários:
Sua capacidade de descrever seus sonhos cada dia fica melhor. Pense mesmo no que vai ser, mas, eu acho que deveria pensar no quê te falei no domingo. Beijo carinhoso.
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