Não o deixou mais
dormir.
Fez questão de
lembrar-lhe de todos os “perus” dados e tomados,
Lembrou-lhe do último
peru, tão caro e tão suado,
Mas, tomado sem esforço
algum.
Mandou que ele se
levantasse e lhe fez um café,
Uma xícara de um café
misturado com desilusão,
Uma xícara cheia de um
sentimento de vazio,
Uma xícara de
desamparo, uma xícara de angústia.
Em cada momento do dia
em que pôde se mostrar,
Ruller agiu com
maestria,
Não o deixou por um só
minuto,
Não o largou de jeito
nenhum.
No almoço, fez questão
de pôr a mesa,
Colocou os talheres, e
trouxe o prato fumegante,
Um prato amargo, que o
encheu de mais vazio,
A tarde sentou-se ao
seu lado e não saiu de perto,
O encheu de medo, de
tristeza e de amargura.
Quando achou que ele
tinha ido embora,
Quando achou que
entraria no carro e iria embora,
Embora para casa, em
busca de um pouco,
Um pouco apenas de
alívio para a dor que sentia,
Eis que Ruller, que
nunca o deixou e nunca o deixará,
Insistiu em mostrar-lhe
quem era mais forte,
De nada adiantaram seus
rogos,
De nada serviram seus
pedidos,
Suas súplicas caíram
no vazio,
Sua dor e angústia não
foram respeitadas,
Suas emoções foram
vilipendiadas,
Sentiu-se um menino, só
e desamparado.
Sentado num canto
qualquer,
Com alguém com o dedo
em riste,
Dedo acusador em riste,
diante de seu rosto,
Desfiando um terço de
lamentações,
Lamentações que
ignoram suas lágrimas.
Lamentações que o
encheram de mutismo,
Nada mais adiantava
falar,
Ruller o dominou mais
uma vez,
Sentiu-se impotente,
sentiu-se inadequado,
Sentiu que ninguém
pode compreendê-lo,
Ninguém o pode
discernir,
Ninguém o pode
conhecer,
Cada vez mais
angustiado,
Cada vez mais sozinho,
Cada vez mais vazio.
Ruller ainda não sabe,
Mas ele é apenas um
menino sozinho e indefeso,
Ruller não sabe, o
magoa, mas não sabe,
Ruller é apenas o
outro lado,
De um garoto que ele
não quer ser,
Mas, que se um dia
deixar de ser,
Levará consigo a sua
própria existência.
Ruller precisa viver,
para que ele também viva.
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