Richard Shaull

"Não sabeis que hoje caiu um grande homem?" Estas palavras ditas há séculos pelo rei-poeta Davi, bem poderiam ter sido ditas para Richard Shaull em 25/10/2002. Um dos precursores da Teologia da Libertação. Ele teve uma passagem controvertida nas igrejas presbiterianas brasileiras. Através de seu discurso profético, conseguiu que os evangélicos discutissem o tema da responsabilidade social da igreja, durante o regime ditatorial de 60, quando falar de social era coisa de comunista nos ambientes conservadores do protestantismo indígena.

Foi um dos ícones do ecumenismo no Brasil. Conseguiu que cabeças importantes daquela década lessem autores europeus e americanos, que não se enquadravam no leito de Procrusto do evangelicalismo de então. Os jovens precisavam de referências, precisavam de um profeta, e encontraram em Shaull essa pessoa. Gente como Rubem Alves, João Dias, Áureo Bispo, e tanto outros beberam de suas palavras, e na hora em que foram requisitados, se fizeram presentes, na luta contra o autoritarismo que imperava nos meios eclesiásticos.

Rubem Alves, amigo e discípulo fiel, escreveu: "... Agora ele ficou encantado. Partiu. É certo que plantarei uma árvore para ele no meu lugarzinho solitário, no alto de uma montanha, à beira de um vulcão, junto com as árvores de outros conspiradores... quando não houver ninguém por perto, as árvores conversarão entre si...".

Richard Shaull, antes de vir para o Brasil, havia sido expulso da Colômbia pelos católicos, e aqui foi expulso pelos protestantes, e mesmo assim, teimava em anunciar para todos os lados os seus ideais de ecumenismo. "... Para que sejam um..." era sua singela oração. Tal como a flor perfuma a mão que a arranca, Shaull brinda seus algozes com amor e defende o direito deles de falar e pensar. Para gente como ele o escritor sagrado diz: "... homens dos quais o mundo não era digno..." - Até breve profeta!

Diário de Pernambuco Edição de Sexta-Feira, 24 de Janeiro de 2003