O príncipe era apenas um sapo!


Há um ano atrás, talvez até menos do que isso, seis meses, este texto seria impensável. Nunca simpatizei muito, nem pouco, com ele, ouvir o seu nome na mídia sempre me deu asco (Isso não é novidade, pois boa parte dos políticos, mormente os de direita, sempre me deram e dão asco). Eu sempre acreditei que ele era “apenas” mais um demagogo, como a maioria dos que compõem o parlamento, uma coisa porém é achar que alguém é hipócrita, agora, que além disso é também corrupto é outra coisa completamente diferente. Estamos falando de Demóstenes Torres, um promotor de justiça de carreira que se notabilizou por sua atuação no seu estado natal: Goiás e por conta desta sua atuação como promotor, foi Procurador Geral da Justiça, além de ter sido secretário de segurança pública naquele estado. Com isso ganhou visibilidade e logo foi eleito para o Senado. 

No Senado, e em decorrência disto no Congresso, era, até bem pouco tempo, afamado como um politico de conduta ilibada e era reputado, não sem motivos, como um homem da lei, um dos mais profundos conhecedores da lei. Não foi difícil chegar a ser um dos líderes da oposição, oposição esta acéfala, há muitos anos, e carente de membros de vulto. Como líder da oposição tinha a postura de impiedoso, que não negociava valores, era sempre destacado como um defensor da moralidade e parecia mais um pitbull diante da corrupção alheia, estava sempre no ataque, sem ceder um só centímetro. Como parecia, parecia, não ter sido contaminado pela praga da corrupção que assola o Parlamento Brasileiro, e por aparentar que era imune à esta doença que mina as instituições públicas, foi colocado pela mídia (Hoje se sabe que uma parte da mídia não o catapultou aos holofotes por reconhecê-lo como um político de honra, mas sim por fazer parte do mesmo esquema de corrupção que ela mesma chafurda) num patamar de destaque, microfones, holofotes, canetas e câmeras sempre lhe foram franqueados pela imprensa sempre em busca de suas declarações polêmicas e chocantes. Gozava de prestígio, prestígio esse advindo da imagem de homem honrado que sempre se esforçou por manter limpa.

Parece no entanto que o príncipe da moralidade na verdade é um sapo, como tantos outros, que coaxa muito bem nos charcos imundos e se sai muito bem nos pântanos da ilegalidade.

Este mesmo arauto e paladino da lei e da ordem, que mais parece um xerife do velho Oeste que é intolerante com o crime, ou no dizer da Veja: Um dos Mosqueteiros da Ética, foi flagrado por meio de escuta telefônica autorizadas pela justiça, conversando com o contraventor, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o que não faltavam entre os dois eram assuntos, já que as conversas, interceptadas e gravadas, entre os dois somam mais de trezentas ligações. Cachoeira teria dado de presente ao “douto' senador uma cozinha importada, avaliada em mais de R$ 30.000,00 no seu casamento.

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar até onde vai a participação do senador nos negócios do contraventor, que é bastante conhecido por explorar jogos de caça-níqueis e investiga ainda a hipótese de que Cachoeira teria habilitado vários celulares Nextel fora do país para não ser tão vulnerável aos grampos. Não se sabe como, mas um destes aparelhos foi parar nas mãos de Demóstenes.

Por razões que ainda são desconhecidas, há quase um mês que diariamente vêm à tona informações que dão conta de quão estreito é este laço entre o bicheiro e o senador, como exemplo disso a notícia de que o senador pediu ao empresário, leia-se bicheiro e contraventor, que pagasse seu táxi-aéreo. Fica até difícil saber se é um bicheiro que tem um senador ou um senador que tem um bicheiro, o que se pode dizer ao fim e ao cabo é que são porcos que se banqueteiam na lama, um verdadeiro “Festim de Corvos”, para usar o título de uma série bem em voga no mundo literário moderno.

Ainda que viva sempre à cata de escândalo, a imprensa, representada pela maioria dos seus órgãos representativos, ignorou por semanas a fio as denúncias que eram feitas diuturnamente, quando não podia ignorar, usava um tom mais ameno, ao contrário do que se podia imaginar que estaria protegendo o seu “queridinho”, hoje se sabe que estava protegendo a si mesma. Esta parte da imprensa, veículos que sempre foram ávidos por noticiarem bombasticamente as irregularidades no governo ou em partidos da base aliada ao Palácio do Planalto, emudeceu.

A pergunta que se fazia dias atrás era: Por que é tão difícil encontrar o nome de Demóstenes Torres em certos jornais ou revistas? Por que não vemos manchetes sobre esta ligação do senador com o contraventor quando o assunto é tão palpitante até mesmo nas redes sociais? Por que a Veja, sempre tão ciosa em derrubar ministros no primeiro ano do governo de Dilma, com massacres semanais, manchetes que mais pareciam pedradas simplesmente se calou? Hoje já sabemos a resposta. A democracia corre perigo, não por golpes que estejam sendo arquitetados nos quartéis, mas sim por golpes que estão sendo arquitetados nas redações, tratando a verdade como mentira e a mentira como verdade, e a luta contra isso é quase hercúlea! Isso é perigoso e o resultado disso é uma sociedade distópica, como a que é vista em 1984 de George Orwell, até o Grande Irmão já existe.

Hoje já se sabe a resposta. A TV Record, do Grupo IURD, que sempre apanhou, aprendeu a bater e dedicou horas dos seus noticiários semanais para tentar aprofundar as ligações entre a Revista Veja, Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres, ainda que não imparcial, pelo menos tem servido para a divulgação das investigações, o que doutra forma o grande público poderia nem tomar conhecimento.

Pode-se tirar inúmeras lições deste fato, dentre elas eu diria que a mais grave é o quanto a mídia pode manipular os fatos, ao ponto de elevar alguém ao status que quiser, ela consegue tornar um corrupto num modelo de ética a ser venerado e seguido, bem como, pode denegrir a reputação de alguém sem máculas, até que o mesmo perca os amigos e a família. Quantos inocentes não já foram vítimas disso?

Mas há algo que ela não pode fazer e nunca poderá: Sustentar uma mentira, de forma que permaneça de pé para sempre, isso só pode ser feito pela verdade e a verdade, ainda que massacrada e mal-baratada sempre vencerá, quando todos os muros vierem abaixo, quando todas as muralhas ruírem, quando todos os castelos e pontes forem derribados, a única coisa que permanecerá de pé é a verdade, porque ela, mesmo na boca do Diabo, pertence a Deus, e a mentira não pode vencê-la! [“... Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido...” Lucas 12: 1 e 2].

A verdade está na essência do próprio Deus: “... eu sou o caminho,
a verdade e a vida!” João 14:6. (Grifo meu), e nunca nada do que disse poderá voltar atrás. Acautelai-vos, ó vós que tratais a verdade como mentira e a mentira como verdade!

Salmo Borderline (III)


"Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor.
Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem:
Todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando?
Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal.
Quem morreu não se lembra de ti. Entre os mortos, quem te louvará?
Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito.
Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários.
Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal, porque o Senhor ouviu o meu choro.
O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor aceitou a minha oração.
Serão humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos; frustrados, recuarão de repente".

Salmos 6:1-10 (NVI)

Cem anos de perdão


Quem nunca roubou não vai me entender. E quem nunca roubou rosas, então é que jamais poderá me entender. Eu, em pequena, roubava rosas.

Havia em Recife inúmeras ruas, as ruas dos ricos, ladeadas por palacetes que ficavam no centro de grandes jardins. Eu e uma amiguinha brincávamos muito de decidir a quem pertenciam os palacetes. "Aquele branco é meu." "Não, eu já disse que os brancos são meus." Parávamos às vezes longo tempo, a cara imprensada nas grades, olhando.

Começou assim. Numa dessas brincadeiras de "essa casa é minha", paramos diante de uma que parecia um pequeno castelo. No fundo via-se o imenso pomar. E, à frente, em canteiros bem ajardinados, estavam plantadas as flores.

Bem, mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entreaberta cor-de-rosa-vivo. Fiquei feito boba, olhando com admiração aquela rosa altaneira que nem mulher feita ainda não era. E então aconteceu: do fundo de meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria, ah como eu queria. E não havia jeito de obtê-la. Se o jardineiro estivesse por ali, pediria a rosa, mesmo sabendo que ele nos expulsaria como se expulsam moleques. Não havia jardineiro à vista, ninguém. E as janelas, por causa do sol, estavam de venezianas fechadas. Era uma rua onde não passavam bondes e raro era o carro que aparecia. No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.

Então não pude mais. O plano se formou em mim instantaneamente, cheio de paixão. Mas, como boa realizadora que eu era, raciocinei friamente com minha amiguinha, explicando-lhe qual seria o seu papel: vigiar as janelas da casa ou a aproximação ainda possível do jardineiro, vigiar os transeuntes raros na rua. Enquanto isso, entreabri lentamente o portão de grades um pouco enferrujadas, contando já com o leve rangido. Entreabri somente o bastante para que meu esguio corpo de menina pudesse passar. E, pé ante pé, mas veloz, andava pelos pedregulhos que rodeavam os canteiros. Até chegar à rosa foi um século de coração batendo.

Eis-me afinal diante dela. Para um instante, perigosamente, porque de perto ela é ainda mais linda. Finalmente começo a lhe quebrar o talo, arranhando-me com os espinhos, e chupando o sangue dos dedos.

E, de repente - ei-la toda na minha mão. A corrida de volta ao portão tinha também de ser sem barulho. Pelo portão que deixara entreaberto, passei segurando a rosa. E então nós duas pálidas, eu e a rosa, corremos literalmente para longe da casa.

O que é que fazia eu com a rosa? Fazia isso: ela era minha.

Levei-a para casa, coloquei-a num copo d'água, onde ficou soberana, de pétalas grossas e aveludadas, com vários entretons de rosa-chá. No centro dela a cor se concentrava mais e seu coração quase parecia vermelho.

Foi tão bom.

Foi tão bom que simplesmente passei a roubar rosas. O processo era sempre o mesmo: a menina vigiando, eu entrando, eu quebrando o talo e fugindo com a rosa na mão. Sempre com o coração batendo e sempre com aquela glória que ninguém me tirava.

Também roubava pitangas. Havia uma igreja presbiteriana perto de casa, rodeada por uma sebe verde, alta e tão densa que impossibilitava a visão da igreja. Nunca cheguei a vê-la, além de uma ponta de telhado. A sebe era de pitangueira. Mas pitangas são frutas que se escondem: eu não via nenhuma. Então, olhando antes para os lados para ver se ninguém vinha, eu metia a mão por entre as grades, mergulhava-a dentro da sebe e começava a apalpar até meus dedos sentirem o úmido da frutinha. Muitas vezes na minha pressa, eu esmagava uma pitanga madura demais com os dedos que ficavam como ensangüentados. Colhia várias que ia comendo ali mesmo, umas até verdes demais, que eu jogava fora.

Nunca ninguém soube. Não me arrependo: ladrão de rosas e de pitangas tem 100 anos de perdão. As pitangas, por exemplo, são elas mesmas que pedem para ser colhidas, em vez de amadurecer e morrer no galho, virgens.

Neurastenia


Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Ave-Maria!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza ...

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza ...

Chuva ... tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento ... tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!! ...

Florbela Espanca
 - O Livro das Mágoas

A Glória se foi!


Na Bíblia existem alguns textos que são atemorizantes, mormente no Primeiro Testamento, dentre estes eu citaria 1º Samuel 4.21, sempre me aproximei deste texto, bem como de seu contexto, com um misto de temor e reverência, nele está registrado que: “... Ela deu ao menino o nome de Icabode, e disse: “A glória se foi de Israel”, porque a arca foi tomada e por causa da morte do sogro e do marido”.

Sempre que o leio, faço uma pausa silenciosa para marcar a gravidade dos fatos e não deixar que a essência do que foi lido se perca no ar, para que a superficialidade da leitura não me faça tratar esse acontecimento com banalidade ou futilidade. O texto é grave, assustador e não é uma ideia minha, mas sim o próprio Deus quem pensa assim, basta continuar lendo os acontecimentos seguintes para que se chegue a essa conclusão com facilidade. Tem muita coisa acontecendo aqui e que não podem ser relegadas à meras notas de rodapé. 

Sempre me indaguei, e nos últimos anos com mais ênfase e frequência, onde foi que perdemos o medo por tal coisa? Onde foi que sepultamos o temor e a reverência? Onde foi que escondemos o terror que deveríamos sentir ao saber que podemos perder a presença da Glória de Deus em nosso meio?

Alguns poderão me dizer que nunca perderemos essa Presença Divina, já que o Espírito Santo nos foi enviado até à Segunda Vinda de Jesus! Digam isso para os piedosos Pais da Igreja que abandonaram as cidades e foram para o deserto (Gr. êremós, de onde origina o termo ermitão no nosso vernáculo) em busca dessa Presença Divina que não encontravam mais dentro da Igreja, digam isso para os piedosos medievais que ansiaram por um avivamento genuíno na Igreja, que atravessaram uma Era das Trevas, na terminologia do historiador da Igreja Justo Gonzalez, acreditando que um dia a Igreja seria restaurada e que viveram, e morreram, lutando por isso. 

31 de Dezembro, estava numa igreja qualquer, num bairro qualquer, numa cidade qualquer, num estado qualquer, não interessa a denominação, nem localização, isso é tão sintomático em nosso meio que tais identificações só serviriam para nos ajudar a transferir o fato para outrem, sem o ato digno de uma auto-avaliação que permitisse uma retomada de rumo. O culto estava maçante, havia começado às 20h00 e deveria se estender até às 0h00, mais de 1.000 pessoas dentro do templo, conversando e deixando o tempo passar e outro tanto lá fora alheio a tudo o que estava acontecendo dentro da nave, envolvidos por qualquer coisa, menos pela consciência da Presença de Deus. 

Em determinada hora, quando eu achava que não poderia haver mais agressões à liturgia, ao bom senso e aos ensinamentos da Sagradas Escrituras, eis que o pastor presidente daquela igreja vai ao púlpito e convida a prefeita da cidade, a mãe, que outrora foi prefeita, e o pai, que sempre serviu como secretário da esposa e era conselheiro da filha, para que tomassem assento na tribuna de honra, quase no presbitério, eu me cocei no banco, ameacei me levantar e ir embora, mas por educação com quem tinha me convidado, fiquei sentado, calado, mas não menos indignado por isso. 

Eu até achei que não ia chegar a tanto, mas quando aquele pastor entregou o microfone para que a prefeita desse uma “saudação” à igreja, eu não me contive, me levantei e fui respirar o ar puro de fora da nave, era muito para o meu estômago. E para piorar, pois é isso ainda era possível, um dos membros da igreja que é vereador, da base aliada da prefeita, foi buscar água numa bandeja para servir à família da prefeita. Nada demais que faça isso, desde que servisse às outras 500 pessoas dentro da igreja que estavam sedentas! 

Eu, e pelo menos metade das pessoas que estávamos ali, as demais estavam mais interessadas em mostrar a roupa nova e os penteados, a julgar pela forma como desfilavam dentro do átrio, queríamos ouvir da voz de Deus, queríamos entender a Sua vontade para nós no ano que iria iniciar, mas o que ouvimos foi um discurso politico num ano eleitoral. Imagine o que ainda será feito durante este ano, quantos “Aleluias” não serão ouvidos nos átrios das igrejas, exclamados por políticos, que só visam a glória pessoal, enganando os membros das igrejas, que não são mais tão inocentes assim. 

Depois eu soube que esta igreja conseguiu um grande terreno para construir uma das maiores naves de igreja do país, a maior do estado, uma mega estrutura, e que a família da prefeita era dizimista e estava ajudando na construção do templo e com a distribuição de empregos para membros daquela igreja. 

Eu me perguntei naquela noite, é esse o preço da Glória de Deus? Ter o privilégio de ter autoridades nos cultos festivos, receber dízimos “gordos”, membros da igreja com cargos comissionados nas secretarias da prefeitura? Por que nos contentamos com tão pouco? Por que trocamos a Glória de Deus por elogios e louvor dos homens? 

Cada vez mais eu me convenço de que tem algo errado, cada vez mais eu me convenço de que um cristianismo profético, que tem que ser exercido, não é o que é banalizado em nosso meio, mas sim o conceito Bíblico do termo: denúncia dos descaminhos do povo de Deus e um convite à retomar o caminho que esteja dentro da vontade de Deus. 

Que moeda falsa, ouro de tolo! Enquanto isso, a Glória se foi, e não vemos, com desespero e tristeza, nenhuma evidência que a mesma vá voltar, não enquanto agirmos assim.

Salmo Borderline (II)


"Escuta, Senhor, as minhas palavras, considera o meu gemer.
Atenta para o meu grito de socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que imploro.
De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança.
Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar.
Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal.
Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta.
Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo.
Conduze-me, Senhor, na tua justiça, por causa dos meus inimigos; aplaina o teu caminho diante de mim.
Nos lábios deles não há palavra confiável; suas mentes só tramam destruição. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam sutilmente.
Condena-os, ó Deus! Caiam eles por suas próprias maquinações. Expulsa-os por causa dos seus muitos crimes, pois se rebelaram contra ti.
Alegrem-se, porém, todos os que se refugiam em ti; cantem sempre de alegria! Estende sobre eles a tua proteção. Em ti exultem os que amam o teu nome.
Pois tu, Senhor, abençoas o justo; o teu favor o protege como um escudo."

Salmos 5:1-12 (NVI)

Das vantagens de ser bobo


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

Amazing Grace II


Um vídeo de www.centralchristian.com. Música de Brent Rowan.
Vídeo original: http://www.youtube.com/watch?v=wjvINLSetaw&feature=related

Diante da Lei


Em frente da Lei está um porteiro e junto deste chega um homem vindo do campo que lhe pede que o deixe entrar. O porteiro, todavia, diz que, de momento, não lhe pode permitir a entrada. O homem, em seguida, pergunta se poderá entrai mais tarde. 'É possível', responde o porteiro, 'mas neste momento não' Como a porta que conduz à Lei está aberta, como de costume, e o porteiro se afasta para o lado, o homem inclina-se para espreitar através da entrada. Quando o porteiro se apercebe desta tentativa, ri-se e diz: 'Se está tão tentado, experimente entrar sem a minha autorização. Mas repare que sou muito forte e, no entanto, sou apenas o porteiro mais baixo.

De sala para sala encontrará um porteiro em cada porta, sendo cada um deles mais possante que o anterior. E o aspecto do terceiro homem é já, mesmo para mim, uma presença insuportável.' Estas são dificuldades que o homem vindo do campo não esperava encontrar, devendo a Lei, segundo ele, ser acessível a todos em qualquer altura; contudo, ao olhar mais de perto para o porteiro, envolto na sua capa de peles, com o seu enorme nariz pontiagudo e uma barba comprida e fina à tártaro, decide que é melhor esperar até ter autorização para entrar. O porteiro dá-lhe um banco e deixa-o ficar sentado ao lado da porta. Ali se conserva à espera durante dias e anos. Faz muitas tentativas pata que o deixem entrar e fatiga o porteiro de tanto o importunar. Este inicia frequentemente breves conversas com ele, fazendo-lhe perguntas acerca da sua casa e de outros assuntos, mas essas perguntas são postas num tom bastante impessoal, tal como fazem os grandes senhores, e acabam sempre com a afirmação de que a entrada ainda lhe não é permitida. O homem, que se fornecera de muitas coisas para a sua viagem, desfaz-se de tudo o que possui, ainda que valioso, na esperança de subornar o porteiro. Este aceita as ofertas, dizendo, no entanto, quando as guarda: 'Aceito isto apenas para evitar que pense que deixou alguma coisa por acabar.' Durante todos estes longos anos, o homem observa o porteiro quase incessantemente. Esquece-se dos outros porteiros e este parece-lhe a única barreira entre ele próprio e a Lei. Nos primeiros anos, amaldiçoa em voz alta a sua ma sina; mais tarde, à medida que vai envelhecendo, apenas resmunga para consigo. Alcança a segunda meninice e, desde que no demorado estudo que fez do porteiro aprendeu a conhecer mesmo as pulgas que pousavam na sua gola de pele, pede as pulgas que o ajudem a persuadir o porteiro a mudar de ideias. Finalmente, os seus olhos já vêem mal e não sabe se o mundo que o rodela é realmente escuro ou se são os seus olhos que o enganam. Todavia, mesmo no meio da escuridão, consegue distinguir um fulgor que jorra indistintamente da porta da Lei. Mas a sua vida agora aproxima-se do fim. Antes de morrer, tudo o que suportou durante todo o tempo em que permaneceu à espera se condensou no seu espírito numa pergunta que jamais pusera ao porteiro. Chama este com um gesto, visto que já não pode erguer o seu corpo entorpecido.

O porteiro tem de se curvar bastante para o ouvir, dado que a diferença de estatura entre eles se tinha acentuado muito em desfavor do homem. 'Que é que deseja saber agora?', pergunta o porteiro. 'Você é insaciável.' 'Todos procuram alcançar a Lei', responde o homem; 'como se explica, portanto, que, durante todos estes anos, ninguém a não ser eu tenha procurado o acesso a ela?' O porteiro sente que o homem está próximo do fim e que tem dificuldade em ouvir, pelo que lhe segreda ao ouvido: 'Ninguém excepto você pode entrar por esta porta, pois esta porta foi-lhe destinada. Vou agora fechá-la.'» 

[Fonte: Franz Kafka, em "O Processo", Cap. IX - Na Catedral].

Os publicanos modernos e os fariseus de sempre


Eu conversei com ele naquela tarde muito rapidamente, um simples aperto de mão, não o reconheci imediatamente, confesso que só depois que se retirou foi que eu me dei conta quem ele era. Vários foram os fatores que provocaram isso: Eu estava num lugar estranho para mim, no meio de dezenas de pessoas que não conhecia, eram muitos rostos e nomes novos para gravar, muitos apertos de mão e muitas tapinhas nas costas, ainda mais que aquela era a primeira vez que o reencontrava depois que o tinha conhecido, e mesmo assim só o tinha visto uma única vez, o primeiro contato que tive com ele, um ano antes, foi superficial e rodeado daquelas gentilezas vãs e vazias às quais somos cativos em virtude das relações familiares.

O reencontro se deu naquela mesma noite em meio às mesmas gentilezas fúteis e hipócritas das festas de fim de ano, eu estava no meio de pessoas que havia conhecido naquele dia, estava me sentindo meio perdido, não estava gostando das companhias e nem da festa, até que olhei para os lados e reparei que tinha alguém que não parecia adaptado ao contexto, não mais do que eu! Aproximei-me e após as gentilezas hipócritas iniciais, passamos a conversar sobre algumas questões mais profundas, como política e religião, tive que tolerar a pavonice do mesmo, pois não estava conversando comigo, mas sim tentando me impressionar com o conhecimento que tinha sobre alguns assuntos, e diga-se de passagem que o conhecimento que apresentava era muito superficial, isto nos levou a outras questões mais densas e de repente nos vimos conversando sobre dúvidas, sobre o tipo de fé que estávamos experimentando e sobre a nossa visão, em alguns pontos havia convergência, de igreja e religião. Acho que o fato de eu ser um ex-pastor e ele um ex-quase pastor nos aproximou mais um pouco.

Este meu novo amigo, que vou chamá-lo aqui de João Batista, por razões que só eu mesmo entenderei, vem de uma família numerosa, com grau de engajamento na igreja muito alto, casado com uma mulher que vem de uma família mais numerosa ainda, com alto grau de engajamento com igreja também, tem uma bela casa, uma esposa dedicada, filhos saudáveis e bonitos, uma condição financeira confortável, empregabilidade em alta, Se dá ao luxo de viajar de férias com a família todos os anos, filhos em escola de renome e goza do prestígio que o sobrenome lhe concede na região.

O pai dele é um dos homens mais conceituados dentro de uma denominação no estado em que mora, tem uma trajetória de vida de mais de 40 anos de serviços prestados à igreja, que incluí longas viagens a cavalo pelos rincões inacessíveis do estado, pregando o evangelho e abrindo congregações e igrejas, goza de um prestígio inabalável, sendo umas das figuras mais amadas e respeitadas na igreja, cheguei inclusive a ouvir de pessoas próximas aos dois que o pai do João Batista era um verdadeiro homem de Deus, que quando falava podia-se perceber que Deus falava por meio dele, tal a sua estatura espiritual, ouvi mesmo a sogra do João dizer que se o filho tivesse “puxado” ao pai, a filha dela não teria tantos problemas conjugais e seria muito mais feliz.

Eu poderia dizer que aquela era uma boa história para ouvir numa noite de Natal, poderia até mesmo dizer que seria como que um conto natalino, no meio de tantas histórias ruins de outras tantas famílias destroçadas, poderia, mas a história que me foi contada naquela noite não condiz em nada com as aparências. De repente o meu novo amigo, que percebi estar sob ligeira influência do álcool consumido horas antes daquele encontro, passou a me contar uma história, que para mim justificava a peregrinação por caminhos tortuosos e errantes que tinha sido a sua juventude e que culminava com a aridez desértica que vivia no auge da maturidade.

Por trás daquele pai respeitado, marido exemplar e líder eclesiástico de larga fama, havia um histórico de um homem que há 25 anos não tem nenhum contato sexual com a esposa que mora sob o mesmo teto, rejeita-a, desde que ela tinha 30 e poucos anos, sem nenhum motivo aparente, nenhum dos dois é portador de enfermidades que pudessem “desculpar” este fato, além do que, mesmo após 25 anos de abstinência, ainda estão, os dois, numa faixa de idade em que seria absolutamente normal que tivessem uma vida sexual ativa, isso sem falar de deveres conjugais de ambas as partes, que, além disso, espancava os filhos com fios de náilon até que os mesmos desmaiassem de tanta dor, ou a esposa criasse coragem e interviesse se abraçando com o filho que era espancado, e os fazia permanecer dentro de casa por mais de uma semana, até que sarassem de suas feridas, sem poderem ir ao médico, sem poderem falar do ocorrido para ninguém, nem na escola, nem na vizinhança e muito menos na igreja, por conta do prestígio do pai, este mesmo líder, de conduta ilibada, já foi surpreendido por alguns filhos, o que lhes trouxe traumas terríveis que os acompanha até hoje, praticando zoofilia com animais domésticos (João Batista me contou que um dia, quando tinha pouco mais de 10 anos foi surpreendido pelo pai tentando ter relações sexuais com um animal doméstico, ele me contou que a reação do pai foi tão violenta que as chicotadas que recebeu por conta disso deixaram mais do que marcas, tiraram sangue de suas costas, ele me disse ainda não entender e nem aceitar a hipocrisia paterna, pois flagrou o pai aos 50 anos tentando fazer o que ele tinha tentado fazer aos 10 anos) e agora, por último está sendo ameaçado de morte por parentes de uma menina de menos de 15 anos que, o pai e o irmão delas são presidiários, segundo a mesma, desde os 12 anos foi abusada sexualmente seguidas vezes por ele. Todas as vezes que ele e os irmãos tentam conversar com o pai, ele não aceita nenhuma repreensão e relembra-os quem ele é e o que faz na igreja e faz questão de dizer que é um homem de Deus e que um ungido do Senhor não pode ser contestado e nem caluniado daquela forma.

João Batista me disse que a cúpula da igreja sabe de tudo, mas que preferiu se calar para não causar um escândalo, uma vez que o pai dele nega tudo. João me contou ainda que há tempos que sua relação com Deus estava seriamente abalada, que não acreditava mais na instituição igreja e nem nas autoridades que a governam, pastores, presbíteros e diáconos, e que desistiu inclusive do ministério pastoral na juventude por conta desta contradição dentro de sua própria casa. Além do álcool, já andou por caminhos de drogas, prostituição, adultério e devassidão, isso não antes de buscar em religiões, inclusive não cristãs respostas que ele não conseguiu encontrar na igreja em que nasceu.

Em meio às suas lágrimas, ele falou por mais de uma hora, escutei esta história tão esdrúxula, acreditando que Abba há de um dia restaurar aquela vida, de alguém que tem tanta raiva do farisaísmo que se tornou um publicano e pródigo, no sentido vulgar que este termo tem, para poder não levar uma vida de fingimento.

Peço que Deus primeiro cure o pai dele, que está cego e não sabe que precisa de ajuda da família, da igreja e de Deus, porque o meu amigo João está mais perto de Deus do que ele mesmo pensa, pois ele tem consciência do pecador que é e não tem trilhado por caminhos de fariseus, ainda que ande por caminhos, por demais tortuosos. Que Abba os cure, que Ele cure todos nós! Na Tua ira lembra-Te da misericórdia! É assim que eu oro.

Salmo Borderline (I)


"Responde-me quando clamo, ó Deus que me faz justiça! Dá-me alívio da minha angústia; Tem misericórdia de mim e ouve a minha oração.
Até quando vocês, ó poderosos, ultrajarão a minha honra? Até quando estarão amando ilusões e buscando mentiras? Pausa
Saibam que o Senhor escolheu o piedoso; o Senhor ouvirá quando eu o invocar.
Quando vocês ficarem irados, não pequem; ao deitar-se reflitam nisso, e aquietem-se. Pausa
Ofereçam sacrifícios como Deus exige e confiem no Senhor.
Muitos perguntam: "Quem nos fará desfrutar o bem? " Faze, ó Senhor, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!
Encheste o meu coração de alegria, alegria maior do que a daqueles que têm fartura de trigo e de vinho.
Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança".

Salmos 4:1-8 (NVI)