Al Nakba, uma tragédia sem fim

Nenhum povo quer ter que olhar para trás e reconhecer os horrores de sua própria história


O termo árabe “al nakba”, traduzido como “a catástrofe”, traz a conotação de uma miséria profunda e refere-se à expulsão de 750 mil palestinos do território onde foi criado o Estado de Israel em maio de 1948.

Mais recentemente, os estudos da área começaram a empregar o termo “Nakba contínua”, para referir-se ao fato de que o processo de expulsão, que teve seu auge em 1948, continua até os dias de hoje. Em 1967, outros 350 mil palestinos foram deslocados da Cisjordânia. Fora dos períodos de guerra, o deslocamento forçado ocorre por outros meios, seja através de leis e dispositivos discriminatórios, seja pela invasão e roubo de casas palestinas por colonos radicais – evento recorrente em Jerusalém oriental.

O primeiro a chamar atenção para o caráter contínuo da Nakba não foi um historiador, mas o escritor libanês, ex-combatente da liberdade, ou fida’i em árabe, Elias Khoury. Ferido ao redor dos vinte anos de idade, trocou o rifle pela caneta, e passou a coletar os fragmentos de histórias palestinas e a tecer narrativas que registram o longo, ininterrupto sofrimento e resiliência, desse povo.

Se o ano de 1948 marcou o ápice da Nakba, significou também a criação do Estado de Israel. A concomitância e intrínseca relação entre os dois eventos gerou enormes disputas historiográficas. A versão dos chamados “velhos” historiadores israelenses, foi retratada pela imagem de um David israelense contra um Golias árabe. O jovem Estado de Israel, nascido das cinzas do holocausto europeu, teria enfrentado uma terrível força árabe, cujo desejo seria eliminar o país e lançar os judeus ao mar. A guerra de 1948, segundo tal narrativa, seria uma guerra de defesa. Os palestinos teriam fugido a mando de seus líderes, para dar lugar à entrada dos exércitos árabes.

Um dos primeiros historiadores palestinos, ‘Arif al-‘Arif, era na ocasião o comissário-assistente do distrito de Ramallah e foi encarregado de receber o negociador da ONU, o conde sueco Folke Bernadotte, na terceira semana de julho de 1948, pouco após a queda e o massacre de Lydd e Ramla. Sessenta mil habitantes dessas duas cidades tinham sido forçados a uma marcha da morte em que centenas deles pereceriam desidratados e exauridos antes de chegar a Ramallah. O Conde Bernadotte tinha sido informado pelos oficiais israelenses que os palestinos fugiram a mando de seus líderes.

‘Arif al-‘Arif conta que ele prontamente levou o Conde Bernadotte para encontrar alguns desses líderes nas cavernas onde tinham se refugiado, para ouvir seus relatos. Foram encontros como esse que certamente fizeram com que Bernadotte reportasse à ONU que “nenhum acordo será justo e completo se não for garantido o reconhecimento do direito dos refugiados árabes a voltarem para suas casas, de onde foram desalojados”. O Conde Bernadotte foi assassinado poucos meses depois pelo grupo extremista Lehi, comandado na época por Yitzhak Shamir, que passaria de “terrorista procurado” pelas autoridades inglesas a primeiro-ministro de Israel, em 1983.

O mito do êxodo voluntário dos palestinos perdurou por três décadas, não obstante Folke Bernadote, ‘Arif al-‘Arif, e o historiador Walid Khalidi, que na década de 1950 foi o primeiro a comprovar a sua falsidade com pesquisas em arquivo. Como a alegação era de que as altas lideranças árabes haviam emitido ordens pela rádio para que os palestinos fugissem, Walid Khalidi revirou o acervo das gravações radiofônicas árabes de 1948, mantido no Museu Nacional de Londres, onde não encontrou nenhum registro de qualquer ordem nesse sentido.

Ser antissionista é ser antissemita?

 

O lobby israelense e seus ferrenhos apoiadores não lutam contra o antissemitismo que alegam existir, eles lutam contra a crítica à Israel. 

Em geral, quando se inicia um debate crítico a respeito da política do Estado de Israel, suas ações militares e de intervenção em território da Palestina ou mesmo em outras regiões do Oriente Médio, surgem diversos comentários de seus apoiadores em sua defesa, para explicar e justificar as barbáries cometidas pela “única democracia do Oriente médio”. Dentre esses comentários, surgem diversas acusações, sendo a mais grave acusar de antissemita todos os que se opõem ao Estado e a política de Estado de Israel.

Toda crítica política ao sionismo é tomada como sinônimo de antissemitismo, segundo intelectuais sionistas e apoiadores. De fato, dentre algumas críticas ao Estado de Israel, existem manifestações antissemitas de organizações neonazistas e, entre outras, de organizações que se declaram islâmicas. O ponto central é contextualizar ao leitor como cada conceito se encaixa nessa discussão, para não serem mal interpretados ou tirados de contexto como comumente tem ocorrido.

De acordo com Santos (2018, p. 12) “Sionismo é um movimento político com aspirações nacionalistas, que afirma o direito à existência de um Estado Judaico” e que historicamente propõe a erradicação da diáspora judaica, tendo como seu principal teórico o judeu Theodor Hetz (1860-1904). Dentro do movimento sionista, três locais foram pensados para construção do Estado: Argentina por ter uma das maiores comunidades judaicas do mundo, Uganda por estar sob mandato britânico na época de negociações com o movimento sionista e a Palestina por também estar sob mandato britânico e ser uma região historicamente importante para os judeus.

Hetz teorizou e concentrou essas ideias em sua principal obra O Estado Judeu (1896). Essa ideia ganha força frente aos violentos atentados e perseguições contra judeus no ocidente sobretudo na Inglaterra, Alemanha, França e Rússia que se intensificaram durante os séculos XVIII e XIX. Essas perseguições a judeus ficaram conhecidas como pogroms.[i]

Antissionismo é um termo utilizado por ativistas sociais dos Direitos Humanos, movimentos que se opõem à ideia de criação de um Estado nacional judaico na Palestina histórica e sobretudo que se opõem à política do Estado de Israel. Antissemitismo é o preconceito e discurso de ódio contra semitas, englobando principalmente o ódio contra judeus. Os Semitas englobam várias etnias como judeus, árabes hebreus, arameus, fenícios e assírios.

Durante o século XX a máquina de propaganda israelense se apropriou do termo “antissemita” como preconceito cometido apenas contra judeus excluindo os outros povos semitas. Em protesto a isso alguns autores preferem utilizar o termo “judeofobia”. Um judeu étnico, por lógica, nunca poderá ser antissemita, mas pode manifestar oposição política e religiosa ao sionismo. Muitos judeus étnicos e religiosos ortodoxos rejeitam veemente o Estado judeu ou como preferem chamar o Estado sionista. A comunidade judaica no pós-Segunda Guerra Mundial passou por uma de suas maiores rupturas da história quando se tratou de apoiar a criação do Estado de Israel e consequentemente a política de imigração para a Palestina onde se tornaram colonos.

A ideia de que durante 2000 anos os judeus anseiam retornar à Terra Santa é falso e desmentido pela comunidade judaica tradicional. Rabinos fiéis a interpretação da Torá afirmam constantemente em seus protestos contra o sionismo que o retorno à Terra Santa, segundo o livro sagrado, só poderia ocorrer por ocasião do advento do Messias.

“Os judeus piedosos que criticam publicamente o sionismo creem que devem agir assim por causa de obrigações impostas pela Torá. A primeira é impedir a profanação do nome de Deus. Como o Estado de Israel pretende atuar em nome de todos os judeus do mundo, inclusive em nome do judaísmo, esses judeus sentem-se obrigados a explicar publicamente, principalmente aos não judeus, o que consideram uma interpretação fraudulenta. A segunda obrigação deriva do preceito de preservar a vida humana. Ao ressaltar a rejeição judaica ao sionismo, eles esperam afastar os judeus da animosidade que, em sua opinião, o Estado de Israel provoca entre as nações. Desejam evitar que os judeus de todo o mundo se transformem em reféns das políticas israelenses e de suas consequências. Afirmam que o Estado de Israel deve ser conhecido como o “Estado sionista” e não como “o Estado judeu” ou “Estado hebreu”.[ii]

Essa tentativa de assimilar antissionismo a antissemitismo é uma grande ferramenta por parte do Estado de Israel e seus aliados para silenciar qualquer crítica direcionada aos mesmos como se fossem críticas ao judaísmo e aos judeus. Isso não passa de uma forma discursiva genial para silenciar os críticos do sionismo israelense. Interessante observarmos que esse tipo de silenciamento tem se tornando uma política por parte do Estado sionista e seus apoiadores.

Podemos utilizar como exemplo de silenciamento o professor Steven Salaita[iii] que em 2014 teve sua oferta de emprego rescindida pela universidade de Illinois após uma série de tweets que direcionaram críticas ao Estado de Israel. Após muito lobby por parte do movimento sionista americano o professor não foi aceito em qualquer outra universidade, tempos depois o professor entrou na justiça e conseguiu reverter a situação entrando em acordo com a universidade e recebendo cerca de US $ 600.000.

A associação dos judeus com o Estado de Israel é quase que automática quando mencionada em mídias ou meios acadêmicos. Quando quaisquer opositores ferrenhos do sionismo gritam pelo fim do Estado de Israel e pedem a autodeterminação do Estado Palestino pluri étnico e laico logo são associados como inimigos do povo judeu espalhados pelo mundo. Os sionistas fizeram algo muito bem além de expulsar os palestinos de suas terras e serem responsáveis pela diáspora do povo descendente dos filisteus, souberam criar e reforçar a ligação da comunidade judaica mundial com o Estado de Israel se apresentando como a vanguarda dos judeus. A escola de pensamento e propagação das ideias sionistas não deve de modo algum representar o judaísmo, assim como a Al-Qaeda e o ISIS-Estado Islâmico não representam o Islã.

A filósofa judia Judith Butler vê nessas associações consequências extremamente negativas para o movimento judeu: “Nos Estados Unidos, fiquei alarmado com o número de judeus que, desanimados com a política israelense, incluindo a ocupação, as práticas de detenção por tempo indeterminado, o bombardeio de populações civis em Gaza, buscam negar sua condição de judeu. Eles cometem o erro de pensar que o Estado de Israel representa o judaísmo para nossos tempos, e que, se alguém se identifica como judeu, apoia Israel e suas ações. E, no entanto, sempre houve tradições judaicas que se opõem à violência estatal, que afirma a coabitação multicultural e defendem princípios de igualdade, e essa tradição ética vital é esquecida ou marginalizada quando qualquer um de nós aceita Israel como base da identificação judaica”.[iv]

Antissionismo não é de modo algum antissemitismo, pelo mesmo fato de ser antinazista não significa ser contra o povo alemão. Ser contra o sionismo israelense e sua política de apartheid, segregação, violação dos direitos humanos, limpeza étnica contra os palestinos, não pode ser considerado um ato “antissemita”. O lobby israelense e seus ferrenhos apoiadores não lutam contra o antissemitismo que alegam existir, eles lutam contra a crítica à Israel.

Gustavo Alves Lima é graduado em história pela Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA).

Notas
[i] Pogroms (em russo “destruição”): Eram massacres organizados para o aniquilamento de qualquer grupo ou classe, especialmente com a conivência do governo russo contra os judeus. O termo foi usado pela primeira vez fora da Rússia ao tempo dos levantes antijudaicos organizados pelas Centúrias Negras na Rússia no ano de 1905, mas é frequentemente aplicado às insurreições russas anteriores, a partir de 1881 (ROTH, 1966, p. 976).
[ii] Rabkin, Yakov M. Judeus contra Judeus – a História da Oposição Judaica ao Sionismo. Cotia, SP: Acatu, 2009. p.17
[iii] professor e intelectual palestino-americano que ficou conhecido por ganhar um processo contra a universidade de Illinois. https://www.thenation.com/article/archive/why-unhiring-steven-salaita-threat-academic-freedom/
[iv] Judith Butler responds to attack: ‘I affirm a Judaism that is not associated with state violence’ – Judith Butler on August 27, 2012 – Mondoweiss, Disponível: <http://mondoweiss.net/2012/08/judith-butler-responds-to-attack-i-affirm-a-judaism-that-is-not-associated-with-state-violence/>

Sobre sionismos, antissionismos e antissemitismos

Falta uma imaginação política capaz de propor e acreditar em futuros de coexistência e solidariedade para palestinos e judeus naquela região. 

Vivemos um momento terrivelmente trágico na história global. Uma guerra no leste europeu entre Rússia e Ucrânia, a guerra civil síria que já vitimou 300 mil civis, uma guerra civil no Iêmen que já causou outras 150 mil mortes e, agora, uma nova etapa do conflito Israel-Palestina que já levou a milhares de mortos, especialmente de civis palestinos.

Palestinos e israelenses estão sofrendo e nenhuma dor deve ser diminuída. Palestinos e israelenses devem ter direito ao luto e a nossa solidariedade deve alcançá-los todos. Sem “mas”. Sem “porém”. Não são números, são vidas, histórias e famílias. Que o alcance irrestrito do luto, como refletiu Judith Butler, nos sirva para imaginarmos um futuro para o Oriente Médio de substancial igualdade, em que nenhuma vida mais seja perdida da forma como estamos assistindo.

Dito isso, precisamos achar, nesse doloroso momento, uma oportunidade para revisitarmos debates importantes do campo progressista que permanecem intocáveis e que, ao longo das décadas, se transformaram tickets ideológicos indispensáveis para que se receba a carteirinha de “esquerda de verdade”. A maioria desses dogmas, como é de se imaginar, são espantalhos mal compreendidos: sionismos, antissionismos e antissemitismos.

A dificuldade de escrever sobre uma temática tão delicada em um momento tão polarizado é que dificilmente um leitor radicalizado manterá uma postura intelectualmente aberta à posição do outro. Aprendi com os meus mais velhos: “ouvir não é escutar”. Ler para refutar é ler procurando o que há de errado na posição do outro. É ler procurando o viés de confirmação da própria posição. Ler para estabelecer pontes de diálogo, no entanto, é ler com disposição para a alteridade. Somente com esta última posição é possível fazer uma política de fato democrática.

MUDANÇA OU EXTINÇÃO
Criou-se um mito muito difundido de que judeus rejeitam quaisquer críticas ao Estado de Israel, pois estas seriam antissemitismo. Isso não é verdade, e quem compartilha dessa posição está equivocado.

Criticar Israel, seus governos e políticos, não é necessariamente antissemitismo. É possível, sim, condenar a ocupação de territórios palestinos, assim como é também possível criticar a lei básica do Estado-nação, que, aprovada em 2018, afirma que Israel é pátria “exclusiva do povo judeu”. Esse debate, na verdade, é imperativo. A comunidade judaica, em Israel e na diáspora, estava realizando-o quando foi surpreendida pelo massacre do último 07 de outubro. Antes disso, porém, semanalmente milhares de israelenses tomavam as ruas de Tel Aviv, e uma das palavras de ordem sempre presentes era: “não há democracia com ocupação!”.

Ainda hoje, após um traumático evento e em meio a uma guerra, há israelenses que levantam suas vozes sobre essa importante questão. O Standing Together é um exemplo disso. Um movimento popular árabe-judaico, com lideranças progressistas, de esquerda e socialistas, e que é, hoje, uma das maiores vozes contra a extrema-direita israelense e que luta contra ocupação dos territórios da Cisjordânia, contra o racismo e constrói propostas de solidariedade e coexistência entre os povos. No último dia 4 de novembro, a organização promoveu a Conferência de Solidariedade Árabe-Judaica que reuniu mais de 700 pessoas na cidade de Haifa. No último dia 7, o movimento também integrou uma grande manifestação em Tel Aviv contra o atual governo, por paz e pelo fim das ocupações já citadas.


Muitos militantes de esquerda, no Brasil e no mundo, fazem referência a Israel como uma Estado “artificial”. Um Estado sem sociedade civil mobilizada, sem contradições, disputas políticas, sem divergências e lutas de classes. A realidade é muito mais rica que a vulgaridade dessas análises. Israel não é uma “entidade”, um bloco monolítico, como muitos querem fazer parecer. É uma sociedade em que, assim como a nossa, também possui suas resistências. O Standing Together, o Hadash, partido árabe-judaico socialista, o Partido Comunista de Israel, e tantas outras organizações de oposição mostram um pouco disso.

Reconhecendo isso e reconhecendo, também, que a fundação do Estado de Israel, em 1948, visou oferecer para o povo judeu – um povo perseguido durante dois mil anos no Ocidente – um lar nacional no seu território ancestral, pedir a sua extinção é, também, negar a este povo o seu direito de autodeterminação. É desconsiderar que, mesmo após 97 gerações expulsas de 109 regiões do mundo, judeus nunca abandonaram sua relação com aquele território. Para dizer o mínimo, isso é uma insensibilidade histórica. Usando as palavras corretas, o nome disso é antissemitismo.

Massacre na Palestina

Apenas a criação de um Estado palestino soberano e independente pode interromper décadas de hostilidades. É preciso que os assuntos mais espinhosos sejam abordados com urgência e coragem.


Imagino Gaza como refém do horror. Quantos funerais devem estar ocorrendo todos os dias... Quantas famílias destroçadas, sem casa, sem comida, sem esperança... Quantas mães choram a morte dos filhos, quantas ficaram com a lembrança do rostinho sorrindo, talvez com um brinquedo ou uma roupa... As bombas trazem o fim e o luto, dia e noite. Mais de 1 milhão de 2,4 milhões dos moradores de Gaza estão desalojados ou deslocados internamente.

Enquanto isso, o mundo silencia. Não se justifica vingar o massacre de civis com a matança da população. É desumano, criminoso. Impor a morte aos homens sem vínculos com extremistas, às crianças, às mulheres e aos idosos, como resposta à barbárie cometida por um grupo, equivale a tratar os palestinos como escória humana. Matar bebês, meninos e meninas em bombardeios é exterminar gerações inteiras. Para muitos, trata-se de genocídio.

Defender a causa palestina não é compactuar com as atrocidades cometidas pelo Hamas. Não consigo dimensionar o terror experimentado pelos moradores do sul de Israel em 7 de outubro. Assisti ao filme de 43 minutos com gravações feitas pelas câmeras corporais dos próprios extremistas do Hamas, com imagens captadas pelas Forças de Defesa de Israel ou pelo circuito interno de segurança nas casas dos kibbutzim. Estive no sul de Israel, em março passado; visitei um kibbutz, um ambiente pacato, onde a paz predominava boa parte do tempo. Eu me solidarizo com a população do sul de Israel.

Mas, também, estendo meus pensamentos aos palestinos de bem, a imensa maioria, vítimas de bombardeios massivos que, como o embaixador Ibrahim Alzeben me disse, são vítimas de uma "política da terra arrasada". Todos os dias recebo imagens e vídeos de Gaza. Um menino de uns dois ou três anos treme compulsivamente; um homem abraça a filha, uma garota de uns seis anos, e ambos choram compulsivamente; um palestino em prantos embala os restos mortais da mãe, envoltos em um cobertor. O mundo precisa chorar por Gaza e deter essa atrocidade, que somente alimenta o ódio e o desejo de vingança. Os palestinos de Gaza estão condenados à desesperança.

Apenas a criação de um Estado palestino soberano e independente pode interromper décadas de hostilidades. É preciso que os assuntos mais espinhosos sejam colocados à mesa e abordados com urgência e coragem: a partilha de Jerusalém, o retorno dos refugiados, o fim dos assentamentos judaicos e da ocupação israelense, a autodeterminação dos palestinos. Chega de mortes, de luto, de crimes abomináveis. Os dois povos podem e devem conviver em paz. Concordo com Avi Issacharoff, jornalista israelense criador da premiada série Fauda. Uma solução baseada em dois Estados seria capaz de ferir de morte o Hamas. Levaria progresso e esperança a Gaza e aos demais palestinos.

Rodrigo Craveiro
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/11/6651989-artigo-massacre-na-palestina.html