O Coiote é meu herói


Coiote, nome científico: Canis latrans, mamífero, membro da família Canidae. Encontrado apenas nas Américas do Norte e Central, geralmente vivem sós, seguindo um modo de vida anacoreta, podem também se organizar em matilhas, passando a viver de modo cenobita, isso acontece ocasionalmente quando a situação lhes convier. Vivem em média 6 anos. A palavra coiote é de origem Nahuatl.

Isso posto, passo a considerar um espécime em particular: Wile E. Coyote. Há pelo menos duas décadas que este belo ser vivente que é um misto de Einstein, gênio em física e outras ciências exatas, McGyver, dotado de alto índice de criatividade e Bocelli, de alma sensível e musical, tenta, tenta e tenta sem conseguir, é lógico, capturar o Papa-Léguas, uma codorninha esquelética, que se comunica de forma monossilábica, indícios de sua pouca cultura e de seu analfabetismo, além de sua dificuldade de relacionar-se.

O Coiote já empregou toneladas de material Acme, que com os resultados apresentados já mostrou ser uma das marcas mais ineficientes do mundo, e um sem número de tentativas de burlar as leis da Física, das quais ele é profundo conhecedor, me causando inveja pois só conheço a da inércia, pois ando muito de ônibus e já fiquei tarimbado com os solavancos provocados pelo belo asfalto recifense e pela perícia dos motoristas pernambucanos e a da gravidade, pois o que eu já cai não está na história, para pegar o pássaro mais rápido do deserto.

Chuck Jones, seu criador, faleceu no último dia 22 de fevereiro, de ataque cardíaco, sem que o Carnivorous vulgaris - nome que recebeu quando criado, em 1949 - conseguisse jantar o Papa-Léguas. Acho que ele era frustrado com algum objetivo perseguido e não alcançado, aí transferiu para o pobre Coiote. Alguns estudiosos, que não têm o que fazer, concluem que os problemas enfrentados pelo Coiote com suas engenhocas teriam sido inspirados na própria dificuldade do Jones com a utilização de eletrodomésticos. Ou seja ela era um palerma anti-tecnocrata e transferiu isso para o Wile. Vejo com bons olhos a depressão exarada nos olhos do pobre Coiote, acho que ele tem um quê do dinamarquês Kierkegaard. Alguns diriam que ele é melancólico, não sei ao certo, mas eu fico deprimido quando vejo a tristeza de forma tão concreta naquele olhar.

Bem, nuances subjetivas à parte, devemos levar em consideração o que alguns iluminados acham: trata-se da eterna busca do ser humano (no caso, representado pelo Coiote) pela sua felicidade, por aquilo que completaria sua existência(no caso, o Papa-Léguas, não sei como, pois a esquelética figura não tem carne para colocar num pastel). A angústia que nos é característica, ou o desespero humano de Kierkegaard, seria representada justamente pelo fato de o Coiote jamais capturar o Papa-Léguas. Aí tanto a teologia quanto a filosofia teriam muito a dizer, ficando a primeira com a possibilidade mais ampla de tratar do eterno para compensar as perdas neste mundo. A famigerada Teologia da Prosperidade não tem como dar uma resposta satisfatória ao Wile, pois a mesma atribuirá o seu insucesso aos pecados não confessados ou mesmo à falta da confissão positiva.

Outra corrente de pensamento, essa oriunda da Universidade Federal da Bahia, o que mostra a relevância dos estudos daquela instituição muito séria, diz que se trata da representação de duas correntes filosóficas: Wile Coyote é o platônico, aquele que vislumbra uma realidade que não existe, idealizando a codorninha numa frigideira. Papa-Léguas seria um arquétipo aristotélico: aquele que lida com a realidade presente, que acredita no que vê. Travar-se-ia, então, um duelo de percepções de mundo, na qual obviamente – basta verificar a quantidade de bigornas que já caíram sobre a cabeça do pobre Coiote ou mesmo a quantidade de dinamites e outros artefatos que já explodiram inadvertidamente sobre ele – a visão vencedora seria a do Papa-Léguas.

Vasculhando a Internet, esse oceano de besteiras e mediocridades, deparei-me, ainda, com uma quarta versão sobre nosso desenho, muito semelhante à segunda: a caçada do Papa-Léguas seria uma mera representação da busca do homem – o Coiote – pela mulher perfeita, ideal – o Papa-Léguas, como mulher perfeita não existe o insucesso dele seria algo corriqueiro e trivial, além do mais(creio que daqui a pouco irão falar da fixação homoerótica do Wile pelo Beep-beep). Evidentemente, creio que as mulheres ficam lisonjeadas com a comparação, outras talvez nem tanto: ser comparada com um galináceo de pernas finas. Visto que, de fato, há homens que merecem dezenas de bigornas sendo despejadas sobre suas cabeças vazias, mas receio que Jones não tenha pensado nisso quando criou o Papa-Léguas... Na visão de um grupo norte-americano de estudos de mitologia, o Rhesus Monkey, tanto o Papa-Léguas como o Wile Coyote (assim como o Pernalonga) seriam os chamados “heróis pregadores de peças”, uma mera repetição de toda a mitologia já criada pelo homem.

Seja qual for o significado que se deseje atribuir à esta eterna caçada, o interessante é que o desenho do Papa-Léguas está alicerçado sobre regras bastante rígidas. Se olharmos atentamente e fizermos um (divertido) esforço de memória, veremos que essas “leis” jamais foram burladas.

Aqui estão os “dez mandamentos” de Chuck Jones para Wile E. Coyote e Papa-Léguas. Depois, é só rever o desenho e fazer uma espécie de jogo dos sete erros, sabendo, de antemão, que eles não existem!
  1. O Papa-Léguas não pode sacanear o Coiote; ele só deve correr e fazer “beep-beep”;
  2. O Coiote não pode ser afetado por nenhuma força externa: seu fracasso deve advir unicamente do uso de produtos Acme ou de sua própria estupidez;
  3. Wile E. Coyote poderia acabar com sua caçada a qualquer momento – não fosse ele um fanático. Entretanto, ele jamais desistirá, já que está sempre certo de que sua próxima tentativa será bem sucedida. Acho que ele é persistente, isso é admirável, não desiste nunca, um ideal que deveria ser perseguido por todos, uma característica que foi imitada por Luís Inácio;
  4. Está vetado qualquer diálogo, com exceção de “beep-beep!”, creio que mesmo não havendo esse veto a coisa não mudaria muito, pois o bicho não sabe falar nada mesmo, é uma besta pré-histórica monossilábica;
  5. O Papa-Léguas nunca deve deixar a estrada, parece-me que ele já leu o livro: Uma vida com propósitos, está bastante focado num objetivo. Acrescento ainda que antipatizo muito com ele, mas estou tentando ser imparcial: essa coisinha magricela além de tudo é sádica, adora ver o Coiote se lascar;
  6. Toda a ação deve se passar no habitat dos dois personagens: o deserto americano. Afinal de contas, lá tem tudo o que um desenho animado precisa: estradas, montanhas, cactos, desfiladeiros... Todos eles prontos para desafiar a Física convencional. Além de representar o cenário perfeito para sandices, que ao meu ver é um perfeito sinônimo da sociedade semi-pensante norte-americana. Não à toa que um presidente de raciocínio lento tenta dar uma de cowboy;
  7. Todas as ferramentas, armas e outros artefatos devem ser de origem Acme. Talvez o motivo seja o encontrado pelo pessoal do Cartoon Network: eles oferecem melhores linhas de crédito! No Brasil seriam substituídos por Walita e CCE;
  8. Sempre que possível, fazer da gravidade o pior inimigo do Coiote;
  9. O Coiote sempre sai mais humilhado do que ferido de suas armações, quem não sairia com um roteirista sádico, de tendências chauvinistas que privilegia alguns seres em detrimento de outros, à despeitos dos esforços empreendidos?;
  10. O público, no final das contas, é solidário ao Coiote. Para mim ele é meu grande herói, maior até mesmo que o Homem-Aranha. É o animal da triste figura, amado e admirado, independente de seus erros e acertos.
Wile, eu sou teu fã.

Pentecostes, libelo da unidade!

A colheita do trigo no Israel antigo era marcada pela festa de Pentecostes, embora judaica o nome é grego, significa cinqüenta dias, que eram contados a partir da Páscoa. Era dia de santa convocação no qual nenhum trabalho manual poderia ser feito, exceto os da própria festa. Dia de júbilo e ações de graças pela abundante colheita, sinal da providência divina para a subsistência de Seu povo. Era a festa mais freqüentada, pois a época do ano propiciava viagens longas, o fluxo de pessoas em Jerusalém era maior até mesmo que na Páscoa.

Cinqüenta dias após a ressurreição de Jesus, que ocorreu na Páscoa e modificou para os cristãos o conceito da mesma, e dez dias após a sua ascensão; outro fato marcante na história da Igreja alterou o sentido de mais uma festa judaica: A descida do Epírito Santo, que ocorreu na festa de Pentecostes, daí o adjetivo Pentecostal para doutrinas ou costumes daqueles que enfatizam a manifestação do Espírito através de dons[Em grego o substantivo é charismata, e o adjetivo em português é carismático] e sinais, tais como línguas estrangeiras, curas, profecias. Pentecostes pra os cristãos significa presença divina no meio da Igreja, cumprimento da promesssa de Jesus de enviar outro Consolador para guiar sua Igreja e principalmente significa a unidade do Corpo de Cristo, ou pelo menos devera significar.

John Wesley, presbítero anglicano, um dos que mais influenciou as igrejas advindas da reforma em sua pregação, hinologia e principalmente na busca de santidade pessoal como decorrente de uma nova vida com Jesus, cria que a manifestação do Espírito levava o cristão à unidade: "... Se o teu coração é igual ao meu, dá-me a mão e meu irmão serás...".

Cabe-nos, portanto, às vésperas do Pentecostes, refletir sobre a ação do Espírito Santo: Unidade, ele veio para unir o corpo de Cristo. Numa época de tantas divisões em nome do Espirito, vem à tona a questão: Poderia o Espírito da Unidade, patrocinar divisões no Corpo de Cristo?

A busca por dons do Espírito não pode ofuscar a missão principal dele: Unir. É notório que a Igreja nunca foi uma túnica inconsútil, mas querer anunciar Jesus com Salvador, sem buscar a unidade dela é inútil, ou porque não dizer escândalo. Não há motivo algum que justifique as divisões na Igreja, ainda mais quando esses motivos são personalistas, são projetos pessoais de mesquinharia espiritual. Dilaceram mais uma vez o Corpo de Cristo, dividem-no, confundem-no, escandalizam. Ao contrapor os Frutos do Espírito com as Obras da Carne, Paulo fala aos Gálatas que uma dessas obras é a divisão, considera-a como carnal, pecado, jamais liga as divisões com o Espírito da Unidade. O mesmo Apóstolo Paulo, escrevendo aos Coríntios, adverte-os que: "... Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá...", o contexto desse texto é de divisão e cisma na Igreja, e não de suicídio, como pensam alguns. Paulo aqui sentencia que os divisonistas estão sob o juízo divino. Advertência assustadora!

A busca da unidade e as implicações que vêm juntas devem dominar todos os esforços cristãos. Como dizia Karl Barth: "... onde não há comunhão com os irmãos não pode haver comunhão com o Salvador..." O Espírito une, nada que divida e esfacele o Corpo pode vir do Espírito!

O Rabino Sobel e o Rabino Joshua



Em 23 março de 2007, Henry Sobel, rabino, figurinha carimbada na mídia brasileira, referência nacional, não só para a Comunidade Judaica, mas também para todas as demais religiões e até mesmo para não religiosos, foi detido na cidade de Palm Beach, nos Estados Unidos, acusado de furtar gravatas de uma loja da rede Louis Vuitton. Após passar uma noite sob custódia, pagou fiança de cerca de 3.680 dólares e foi liberado. De acordo com o boletim de ocorrência, Sobel foi flagrado por câmeras de segurança da loja cometendo o crime; em seu carro a polícia encontrou outras quatro gravatas, das marcas Louis Vuitton, Giorgio's, Gucci e Giorgio Armani. As cinco gravatas juntas têm valor estimado de 680 dólares.

Em 09 de janeiro de 1944, Henry Sobel nasceu em Lisboa, descendente de pais belgas, sua família muda-se para New York, quando ele era ainda criança, lá ele concluiu o curso para o rabinado em 1970. Neste mesmo ano ele aceitou o convite para ser o líder espiritual da Congregação Israelita Paulista, passando a morar no Brasil. Sobel tem apenas uma filha, Alisha, nascida em 1983. Como líder da CIP, Sobel tem sido um porta-voz da comunidade judaica no Brasil.

Sua atuação o levou a ser considerado uma das maiores lideranças religiosas do país, sendo consultado sobre diversos assuntos pela mídia. Também estabeleceu uma ponte entre as religiões cristãs e o judaísmo, participando de inúmeras cerimônias e eventos ecumênicos. Junto com o já falecido arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, e do também falecido pastor presbiteriano unido Jaime Wright, participou de maneira destacada no projeto secreto de reunir toda a documentação da ditadura militar brasileira, que resultou em 1985 na publicação do livro "Brasil: Nunca Mais" – um marco na história dos direitos humanos no país, em que a tortura e os torturadores foram expostos com base no farto material reunido.

Em 1975, quando o regime estava cada mais recrudescido, e a coisa pegava – e pegava mesmo – o rabino Henry Sobel enfrentou com muita coragem a ditadura militar e enterrou o jornalista Vladimir Herzog no jazigo da família, e não no “limbo” – espaço nos cantos dos cemitérios reservado aos suicidas na religião judaica – indicando com isso que não aceitava a teoria do suicído que a ditadura havia divulgado sobre a morte do jornalista. Além deste ato, realizou uma cerimônia ecumênica na Catedral da Sé, em memória de Herzog. Sobel sempre foi corajoso e denunciou profeticamente a linha-dura do regime militar.

Este flagrante de furto de gravatas numa loja em Miami é algo infinitamente menos perigoso do que enfrentar a ditadura militar brasileira. Quando da divulgação do fato, pediu o seu afastamento do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e foi aceito.

O que exaspera são os comentários irônicos em blogs, que não perderam tempo em se aproveitar da notoriedade de Sobel, o principal foco de piadistas covardes foi, como de costume, o site de relacionamentos Orkut. Algumas comunidades foram criadas, entre elas a Free Henry Sobel (liberte Henry Sobel), cujo mote é “Ele é o nosso Winono Ryder!”, mencionando episódio em que a atriz Winona Ryder foi flagrada roubando roupas em uma loja, também nos Estados Unidos. Em outra comunidade, na Henry Sobel Nunca me Enganou, a enquete é "por que o Henry Sobel roubou as gravatas?" Entre as alternativas, respostas como: "ele esqueceu a carteira em casa e ia pagar depois"; "porque ele achou que as gravatas eram de graça"; "por causa da paz entre os povos"; "foi tudo uma armação da Palestina"; "porque ele é judeu"; "um cristão que colocou as gravatas no bolso dele" e "porque as gravatas eram lindas demais". Porém algumas pessoas mais inteligentes e avessas às mediocridades de plantão manifestaram solidariedade, em comunidades como a O sotaque do Henry Sobel, que, em sua descrição, esclarece que "existe para fins humorísticos e pacíficos, portanto qualquer tópico com discussões racistas, anti-semitas e derivados serão execrados" e que tem como base o sotaque característico que o rabino mantém apesar de estar há tanto tempo no Brasil.

Por conta disso Sobel foi internado no Hospital Albert Einstein. Em nota divulgada à imprensa, o hospital informou que o rabino já vinha fazendo uso 'imoderado' de medicamentos hipnóticos e diazepnícos por conta de 'insônia severa' nos últimos dias. Segundo a nota, estes medicamentos são 'causadores potenciais de quadro confusão mental e amnésia'. No início da tarde, o hospital divulgou o primeiro boletim médico informando que Sobel foi internado por apresentar 'descontrole emocional' e 'transtornos de humor'. A nota, assinada pelos médicos José Henrique Gernann e Flávio Huck, diz que Sobel foi internado nesta madrugada' devido ao episódio de transtorno de humor, representado por descontrole emocional e alterações de comportamento'.

O afastamento de Sobel da Congregação Israelita Paulista deverá ser avaliado em Israel. A comunidade judaica quer levar para o Conselho Rabínico Mundial o caso do rabino. O fato de Sobel ter passado o shabat (descanso em hebraico) na cadeia provocou a ira dos judeus conservadores, que consideram o desrespeito a ele uma falta gravíssima. Pessoas próximas ao rabino dizem que ele vem apresentando quadro de 'senilidade e cleptomania', que é impulso mórbido para o furto.

Henry Sobel estava escalado para um encontro com o Papa Bento XVI, em maio. A prisão surpreendeu a Igreja Católica e o bispo auxiliar de São Paulo, dom Pedro Luiz Stinghini, disse que os judeus podem escolher para o encontro quem acharem melhor.
- Não consigo imaginar a cena - disse o bispo, ao comentar a acusação de furtos de gravatas.

Num comunicado assinado, Sobel diz que não admite que tentem desqualificar os valores morais que sempre defendeu, sempre foi favorável a uma negociação pacífica na luta entre israelenses e palestinos. Ele cometeu um erro – furtou gravatas. Porém não ousemos diminuir o que ele fez antes. Bastante constrangedora a cena dele, alquebrado, pedindo desculpas na mídia.

Em 33d.C.(data especulativa) um outro Rabino, chamado Joshua, mais conhecido pelo nome helenizado de Jesus, quando a sua popularidade estava começando a colocá-lo em perigo com as autoridades políticas judaicas, encontrava-se no Templo de Herodes: “... Algumas pessoas reuniram-se em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, disseram a Jesus:“Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu? ”Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. Então Jesus se levantou e disse:“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.”

A cena é bela demais: um homem abaixado, uma mulher atirada ao chão, rostos ferozes, lágrimas, salivas, suores, pedra, poeira, pó, e uma mão calejada de trabalhar alheia a tudo isso, escreve no chão. Assim o Evangelho de João nos coloca diante de uma cena teatral digna dos dramalhões mexicanos; dramática. Uma mulher apanhada em adultério, que pela Lei de Moisés, deveria ser apedrejada até a morte. Jesus é testado, querem mostrar que a sua tolerância tornou-se libertinagem. Antinomia. Queriam mostrar que Jesus era complacente.

Não vou enumerar as ações de Jesus que todos já sabem, mas quero enfatizar a última: Quando ele diz “não peques mais”, Jesus reconhece o comportamento pecaminoso daquela mulher. Não mascara a sua condição. No entanto, o remédio de Jesus é diferente (e quanto!) daquele que usamos diariamente. A compaixão dele é misericordiosa, nós só sabemos usar a acusação, a crítica, o julgamento, e quando não a morte. É nosso feitio julgar, é do feitio de Deus perdoar, amar, compreender. Isso é assim porque Deus olha para nós sempre com os olhos de futuro. Ele não olha para o que eu fui, ou o que eu sou, Ele olha para o que eu serei. Deus nos vê sempre como vasos em construção, necessitando de acabamento, por isso mesmo tolera nossas imperfeições, sabe que no final seremos aquilo que Ele quer que sejamos. Nós somos seres do passado. Vivemos com o olhar fixo no retrovisor da vida. Olhamos o outro e a nós mesmos sempre numa perspectiva de passado. Achamos que somos aquilo que fizemos, olhamos o que as pessoas fizeram ou fazem para decidir se as podemos amar. Deus nos ama não porque sejamos bonzinhos, estamos aprendendo a ser bonzinhos, porque Ele já nos ama. Jesus não morreu para que Deus nos amasse, mas sim porque Deus já nos amava. Os dedos de Jesus servem para escrever nossa história ainda que na areia, e nos ajudar a enxergar através da bruma, quando nossos olhos fraquejam. Os dedos de Jesus nunca foram apontados inquisitoriamente para alguém. Não foram feitos para isso, servem sim para apontar o nosso caminho, nossa estrada, nossa trajetória de vida após encontrá-lo. Quando encontramos Jesus no meio da poeira e das areias do tempo de nossas vidas destroçadas, a partir dalí ele só nos deixa ver o caminho que temos a percorrer, pois quanto ao caminho que percorremos tropegamente, quando tentamos olhá-lo mirando para trás, só enxergamos um monte, um jardim, três, cruzes.

Antes de atirar uma pedra em Sobel eu parei e pensei nesta cena do outro Rabino, mais moço, mais antigo e mais sofrido. Aprendo com ele a olhar para Sobel e dizer: "Por que te condenaria?". Vai Sobel em Shalom!, lembre-se apenas que somos "Maltrapilhos de Abba!".

Muitos estão prontos a apagar tudo o que ele fez pelos direitos humanos e em busca da paz e do diálogo por míseras gravatas, nós não podemos mudar o passado ruim e desapontador, creio que ele mesmo se pudesse apagaria esse incidente das gravatas, logo também não podemos apagar o passado de ética e luta pela paz além de uma biografia tão bela quanto a dele.

Somos errantes peregrinos, ansiosos para voltar para casa. D'us te dê Paz Sobel!. Pois perdão Ele já te deu há muito tempo.