The Dark Night Of The Soul

Upon a darkened night
the flame of love was burning in my breast
And by a lantern bright
I fled my house while all in quiet rest

Shrouded by the night
And by the secret stair I quickly fled
The veil concealed my eyes
while all within lay quiet as the dead

Oh night thou was my guide
of night more loving than the rising sun
Oh night that joined the lover
to the beloved one
transforming each of them into the other

Upon that misty night
in secrecy, beyond such mortal sight
Without a guide or light
than that which burned so deeply in my heart
That fire t'was led me on
and shone more bright than of the midday sun
To where he waited still
it was a place where no one else could come

Within my pounding heart
which kept itself entirely for him
He fell into his sleep
beneath the cedars all my love I gave
From o'er the fortress walls
the wind would his hair against his brow
And with its smoothest hand
caressed my every sense it would allow

I lost myself to him
and laid my face upon my lover's breast
And care and grief grew dim
as in the morning's mist became the light
There they dimmed amongst the lilies fair
there they dimmed amongst the lilies fair
there they dimmed amongst the lilies fair.


Sobre uma noite escura
A chama do amor estava queimando em meu peito
E como uma lanterna brilhante
Eu fugi de minha casa enquanto todos dormiam

Ocultada pela noite
E pela escada secreta eu rapidamente fugi
O véu escondia meus olhos
Enquanto tudo dentro dormia quieto como a morte

Oh noite, és minha guia
Da noite mais amada do que o sol
Oh noite que une o amante
Com aquela que ama
Transformando um no outro

Sobre esta noite mística
Em segredo, além da visão mortal
Sem guia ou luz
Que queimava tão profundo em meu coração
Aquele fogo me guia
E se mostra tão brilhante quanto o sol do meio-dia
Para onde ele ainda espera
Era um lugar onde ninguém poderia chegar

Dentro do meu coração batendo
Que se mantém inteiramente para ele
Ele dormiu
Embaixo dos cedros, todo meu amor que eu dei
Das paredes seguras
O vento colocaria seu cabelo contra sua sobrancelha
E com sua mão lisa
Acariciado cada sensação minha que permitiria

Eu me perdi para ele
E coloquei minha face no peito de meu amante
E o cuidado e o pesar cresceram escuros
Como a névoa de manhã se tornou a luz
Lá eles entre os lírios claros
Lá eles entre os lírios claros
Lá eles entre os lírios claros.

[Composição: Loreena McKennitt]

[Muitas vezes nossas almas entram numa noite escura, que parece que nunca vai alvorecer, parece eterna, se há algo de aproveitável nesta situação, não é o momento quando saímos dela, se é que saímos alguma vez, mas sim com quem estivemos durante a travessia por tantas sombras, se seguramos na mão certa, a mão de Abba, na hora que o medo nos assola].

Parábolas Modernas (II)

O filho mais novo de um abastado fazendeiro, de larga fama e dono de terras que só conseguia percorrer ao trote largo de um cavalo durante três dias, resolveu fugir do controle paterno, decidiu que o melhor que podia fazer era viver longe dos conselhos dos pais, estava cansado da vida “pacata” que a vida familiar lhe impunha e foi viver dissolutamente em outros lugares, como centenas de anos fizera anteriormente o outro filho da parábola de Jesus. Após consumir tudo o que tinha levado, sem amigos, estes o deixaram tão logo acabou o dinheiro, sem comida, faminto e doente, resolve voltar para casa, mas certo de que não merecia perdão, escreve ao pai uma pequena carta na qual dizia que tomaria o trem para um destino bem distante, porém, o mesmo passaria defronte à fazenda paterna ao meio-dia, caso este o perdoasse e ainda o quisesse em casa, estendesse na árvore na frente da casa grande um cobertor branco, se visse o cobertor, ele desceria na estação mais próxima e voltaria para casa, caso não visse o cobertor saberia que não deveria descer e então passaria direto para outros destinos, ressaltava ainda que os pais não tinham nenhuma obrigação de recebê-lo em casa, visto que os envergonhara muito.

Ao se aproximar da região na qual estava localizada a casa grande da fazenda, aquele rapaz, com o coração apertado, pegou sua mochila surrada, com seus poucos andrajos, levantou-se sem esperança alguma, pensou consigo mesmo que o pai poderia nem ter lido a carta, poderia até já ter morrido, ou, quem sabe, a carta poderia ter sido extraviada, ou entregue num destino errado, estava preparando o espírito para qualquer coisa que o pai quisesse fazer, inclusive tratá-lo como apenas um empregado, o menor dos subalternos.

Ele podia esperar qualquer coisa menos aquilo de fato viu: Não apenas na árvore defronte da casa tinha cobertor, mas em cada árvore da fazenda, seja grande ou pequena, cada uma tinha um cobertor branco, como que dizendo-lhe: - Você é bem-vindo! Ele não conseguiu contar quantas árvores estavam marcadas, as lágrimas não deixaram, na estação da cidade, na qual havia tomado um trem indo embora, uma comitiva de empregados e parentes já o esperava para uma festa, era o filho do patrão que estava de volta, o herdeiro tinha chegado e isso era o que interessava, nada mais.

Parábolas Modernas (I)

Philip Yancey nos brinda em Maravilhosa Graça (São Paulo: Editora Vida, 2001), com um inigualável ensaio sobre a Graça Indizível, que ele chama de Um pai cego de amor, não creio que deva fazer quaisquer comentários à esta história, seria muita ousadia tentar acrescentar algo, acho que após a leitura, o melhor que se pode fazer é calar e deixar que no silêncio Abba fale. Depois que li esta história, a minha vida não foi mais a mesma, de uma forma ou de outra, ouso dizer que ela melhorou, em todos os aspectos, mudei minha visão de Deus, de meus irmãos e até mesmo daqueles que me fizeram alguma coisa de ruim. Sei que muitas vezes sou a filha, mas muitas vezes sou o pai cego de amor. De uma coisa eu sei: no dia em tomar o caminho de volta, meu Pai, Abba, estará na estação me esperando, e fará uma festa para me receber de volta, sem cobranças, sem julgamentos, só me resta pois receber o amor de Abba, sem tentar merecê-lo.
Uma jovem fora criada em um pomar de cerejas na parte superior de Traverse City, no Michigan. Seus pais, um tanto antiquados, costumavam reagir mal ao seu piercing no nariz, às músicas que ouvia e ao comprimento de suas saias; de vez em quando eles a repreendiam e ela fervia por dentro. "Odeio vocês!", gritou para o pai quando ele bateu a porta do quarto dela depois de uma discussão. Naquela noite, a jovem realizou um plano que mentalmente já ensaiara dezenas de vezes. Ela fugiu de casa.
A jovem havia visitado Detroit apenas uma vez, em uma viagem de ônibus com os jovens da igreja para assistir ao jogo dos Tigers. Os jornais de Traverse City descreviam em chocantes detalhes as gangues, as drogas e a violência na cidade de Detroit; ela concluiu que provavelmente seria o último lugar onde seus pais a procurariam. Talvez na Califórnia, ou na Flórida, mas não em Detroit.
No seu segundo dia ali, ela conheceu um homem dirigindo o maior carro que já vira na vida. Ele lhe ofereceu carona, pagou-lhe um almoço e arranjou um lugar para ela ficar. O homem deu-lhe alguns comprimidos que a fizeram sentir-se melhor do que jamais se sentira. Ela se sentiu ótima e concluiu: seus pais não permitiam que ela se divertisse.
A boa vida continuou durante um mês, dois meses, um ano. O homem com o carrão — ela o chamava de "chefe" — ensinou-lhe coisas de que os homens gostam. Sendo menor de idade, os homens lhe pagavam mais. Ela morava em um apartamento pequeno e podia encomendar o que precisava. Ocasionalmente, pensava nos pais em casa, mas a vida deles lhe parecia tão chata e provinciana que mal acreditava que fora criada ali.
Ela se assustou ao ver sua foto na embalagem de leite com os dizeres: "Vocês viram esta criança?". Agora, porém, com o cabelo tingido de loiro, e com toda a maquiagem que usava, ninguém a consideraria uma criança. Além do mais, a maioria dos seus amigos também fugira de casa, e ninguém dava com a língua nos dentes em Detroit.
Depois de um ano, os primeiros sintomas incipientes da enfermidade apareceram, e ela ficou surpresa com a crueldade do chefe. "Hoje em dia, a gente não pode facilitar", ele rosna; antes que a jovem percebesse, estava na rua sem um tostão. Ela ainda conseguia ganhar alguma coisa de noite, mas não lhe pagavam muito, e todo o dinheiro era usado para manter o vício. Quando chegou o inverno, ela se encontrava dormindo nas grades de metal do lado de fora de uma loja de departamentos. "Dormir" não é a palavra certa — uma adolescente sozinha na noite em Detroit não pode nunca baixar a guarda. Estava com olheiras profundas. Sua tosse piorava.
Uma noite ela se encontrava acordada, atenta ao barulho de passos; de repente, tudo ao seu redor pareceu diferente. Ela não se sentia mais como uma mulher do mundo. Sentia-se uma menininha perdida em uma cidade fria e assustadora. Começou a soluçar. Seus bolsos estavam vazios e estava com fome. Precisava de uma dose. Trêmula, encolheu as pernas debaixo dos jornais que empilhara sobre o seu casaco. Alguma coisa acionou uma série de lembranças e uma imagem preenchia sua mente: o mês de maio em Traverse City, quando milhares de cerejeiras estão em flor todas ao mesmo tempo, e ela via seu cachorro correndo no meio das fileiras das árvores em flor atrás de uma bola de tênis.
Deus, por que eu fugi?, ela disse para si mesma, e uma dor traspassa seu coração. Meu cachorro em casa come melhor do que eu agora. A jovem estava soluçando e, imediatamente, percebeu que desejava voltar para casa mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Três telefonemas, todos caindo na secretária eletrônica. Nas duas primeiras vezes, ela desligou sem deixar uma mensagem; na terceira, porém, disse: "Papai, mamãe, sou eu. Estive pensando em voltar para casa. Estou pegando um ônibus e chegarei aí amanhã lá pela meia-noite. Se vocês não estiverem me esperando, bem, acho que ficarei no ônibus e irei para o Canadá".
Foram sete horas de ônibus entre Detroit e Traverse City; durante aquele tempo ela percebia os erros no seu plano. E se os pais estivessem fora da cidade e nem tivessem ouvido a mensagem? Não deveria ter esperado outro dia para poder falar com eles? E, mesmo que estivessem em casa, provavelmente já a consideravam morta há muito tempo. Deveria ter-lhes dado um tempo para se recuperarem do choque.
Seus pensamentos pulavam de lá para cá entre as preocupações e o discurso que estava preparando para o pai. "Papai, sinto muito. Sei que estava errada. A culpa não foi sua; foi minha. Papai, você pode me perdoar?" Ela repetiu as palavras muitas e muitas vezes, com a garganta apertada enquanto as ensaiava. Nos últimos anos não havia pedido perdão a ninguém.
O ônibus estivera andando com as luzes acesas desde Bay City. Floquinhos de neve batem no calçamento desgastado por milhares de pneus e o asfalto exala vapor. Ela havia esquecido como a noite é escura lá fora. Um cervo cruzou a estrada como uma flecha e o ônibus deu uma guinada. De vez em quando, aparecia um outdoor ao lado da estrada. Uma placa indicava quantos quilômetros faltavam até Traverse City. Oh, Deus!
Quando o ônibus finalmente entrou na rodoviária, os freios sibilando em protesto, o motorista anunciou no microfone: "Quinze minutos, pessoal. É tudo quanto vamos gastar aqui". Quinze minutos para decidir sua vida. Ela se examinou em um espelhinho, alisou o cabelo e limpou o dente manchado de batom. Olhou para as manchas de fumo nas pontas dos dedos e ficou imaginando se os pais iriam perceber. Se estivessem lã.
A jovem entrou no saguão sem saber o que esperar. Nenhuma das milhares de cenas que passaram por sua cabeça a prepararam para aquilo que viu. Ali, naquele terminal de ônibus de paredes de concreto e cadeiras de plástico de Traverse City, em Michigan, estava um grupo de quarenta parentes, irmãos e irmãs, tios e primos, uma avó e uma bisavó para recebê-la. Todos eles estavam usando chapeuzinhos de festa e assoprando apitos; na parede do terminal havia um cartaz, dizendo: "Seja bem-vinda!".
Da multidão que a recepciona irrompe o papai. Ela olhou para ele através das lágrimas que brotavam dos seus olhos como mercúrio quente e começou o discurso memorizado: "Papai, sinto muito. Eu sei...".
Ele a interrompeu. "Quieta, filhinha. Não temos tempo para isso agora. Nada de pedidos de desculpas. Você vai chegar atrasada na festa. Lá em casa há um banquete esperando por você."

"... era uma vez em dezembro..."



Este post é uma homenagem à minha filha Jessicah Kelly, quando ouço esta música me lembro da infância dela e sinto extremas saudades da menininha que era, cheia de sonhos e fantasias. Orgulho de ser pai desta garota, muito orgulho mesmo!

Música da minha vida (III) 2ª edição

A mais tenra lembrança que eu tenho de alguma música que tenha fortemente impactado minha vida, é de meados de 1970, na minha bonita cidade de Monteiro, originalmente chamada de Alagoa Grande do Monteiro, no sertão paraibano, a flor do Cariri. Morávamos, à época, no Sítio do Limão, onde nasci, eu tinha por volta de 02 ou três anos, íamos à pé, desde a zona rural à sede do município, para a Igreja Presbiteriana de Monteiro, onde fui batizado e tive os primeiros e fundamentais ensinamentos da fé reformada. Faço uma digressão necessária, para efeito de honestidade intelectual comigo mesmo: a canção que eu tenho o mais longínquo registro é; “Anunciamos a Paz, anunciamos a Paz, anunciamos a Paz...” que é uma adaptação cristã de uma música judaica; “Hevenu Shalom aleichem, hevenu Shalom aleichem...”, a qual aprendi a cantar nas aulas de hebraico do Rev. Humberto Freitas, cerca de 20 anos depois, no seminário Presbiteriano do Norte em Recife, ainda que tenha o registro na memória, por ser breve e de um fraseado pequeno, não me causou impacto profundo, não naquela época. Digressão fechada.

A minha memória se reporta ao final da década de 70, e sou acometido por uma saudade, bucólica, nostálgica, e tudo mais que combine com este substantivo. O que me faz ter essa sensação é relembrar a hora de dormir. A noite poderia ser fria ou quente, com belo luar ou chuvosa, estando com saúde ou doentes, sempre, ajoelhados à beira da cama: eu e meus três irmãos cantávamos com D. Marilene (D. Leninha, ou ainda Maria Helena, de acordo com uma tia teimosa que nunca pronunciou o nome dela de forma correta), minha mãe, a canção de ninar mais bela que eu conheci, então orávamos pedindo proteção divina, era um som mavioso, inefável e indizível sensação: 

Finda-se este dia que meu Pai me deu
Sombras vespertinas cobrem já o céu
Ó Jesus bendito, se comigo estás
Eu não temo a noite, vou dormir em paz
 

Às vezes eu me entediava com as longas orações de minha mãe, pelo menos a minha impaciência me fazia acreditar que eram longas, e me distraía, uma noite eu sai do quarto em que estávamos todos reunidos em oração, andei por toda a casa, depois voltei, pé ante pé, silenciosamente e sorrateiramente entrei novamente no quarto, me aproximei de minha mãe, que orava de olhos fechados, tão empolgada estava que nem se deu conta de minha presença, eu segurei o seu nariz, queria dá-lhe um baita susto, não preciso dizer que logrei êxito nisto. 

Não há como calcular o efeito que esta canção causava no coração inseguro e temeroso de uma criança de cinco anos. Eu sempre lembrava desta primeira estrofe quando as minhas precoces insônias me impediam de adormecer logo, ou quando os sons da noite, quaisquer ruídos, por menores que fossem, as sombras que porventura aparecessem, os sussurros nas ruas, os estalos no telhado, tudo isto provocava sobressaltos, e trazia consigo a insônia, era cíclico, eu estava insone, me amedrontava com algo, e então ficava mais insone ainda, só mesmo a confiança que eu adquiri ao cantar: "... eu não temo a noite, vou dormir em paz...", para sossegar e poder dormir. Por força da ocupação de meu pai, que trabalhava à noite, e que por isso quase nunca estava em casa, sempre ausente todas as noites, o temor se acentuava, temia por nós que estávamos em casa, como por ele que estava fora desprotegido, só mesmo confiando no Pai Eterno para poder dormir e descansar, acreditando que pela manhã o veria de novo e que estaríamos em paz. Eu me sentia mais vulnerável ainda, sem o meu "herói" por perto.

Só então o meu coração começava a acalmar-se, a mente relaxava e o corpo cedia ao cansaço físico e então eu podia enfim dormir. 

Com pecados hoje, eu te entristeci
Mas perdão te peço por amor de ti
Sou pequeno e frágil, livra me do mal
Que em ti eu tenha proteção final
 

O ato de confessar as minhas faltas todas as noites tornou-se uma constante, primeiro porque eram muitas, eu era realmente "bagunceiro", aprontava todas que eu pudesse e mais algumas deixava na conta, segundo porque um dia a minha mãe contou para mim e para meus irmãos uma estória na qual uma criança rebelde, que não era muito obediente foi abduzida, não posso dizer que foi arrebatada, por Satanás. Será que se pode calcular o efeito que isso causou em nós? Era aterrorizante pensar nisto, era mais por medo que eu me aproximava de Deus do que por amor. O mais inusitado de tudo é que ela contou esta “estória pia” com a intenção de descobrir qual de nós havia cometido uma travessura, eu não lembro agora qual foi o ato, porém sabia que não tinha sido eu, mesmo que eu soubesse que era inocente, ainda assim fiquei com sentimentos de culpa. Porém, com o tempo, comecei a crer num Deus Pai que me ama e que sempre quer o melhor para mim, poder falar com alguém assim é mais fácil do que com um Deus Pai, distante, inquisidor e vingativo, que me deixava à mercê de Satã. 

Guarda o marinheiro no violento mar
E ao que sofre dores queiras confortar
Ao tentado estende sua mão Senhor
Manda ao triste aflito, o Consolador
 

Muito tempo depois, quando os temores da infância que a escuridão noturna trazia junto a si, já não me assustavam mais, ouvia a voz dela cantando mais uma estrofe: “... Guarda o marinheiro no violento mar, e ao que sofre dores queiras confortar, ao tentado estende Tua mão, Senhor; manda ao triste e aflito o Consolador...”, eu tinha ingressado na Marinha do Brasil e a canção era atual, tinha vencido o tempo. Eu conseguia ouvi-la cantando esta canção, nas muitas noites em que eu estava de sentinela, olhando para o mar escuro, sem poder divisar nada à frente, relembrava dela cantando este trecho e me emocionava, sentia uma saudade infinda destas noites em Monteiro, saudades de um tempo que não volta jamais, por isso mesmo que é tão importante, porque não pode ser revivido. Muitas vezes com o vento frio batendo no rosto, eu cantava baixinho este trecho do hino, era a minha oração, pedia a Deus que guardasse o marinheiro, pedia a Deus que me guardasse do mal. Hoje vejo que Ele não só me guardou do violento mar, como me protegeu nas tempestades que atravessei por toda a vida, poucos teriam sobrevivido ao que eu sobrevivi, poucos teriam se levantado se tivessem tropeçado e caído tanto quanto eu caí, me levantei, e me levantarei sempre, pois ainda que fraco, a mão que me ergue é meiga, mas é muito forte. 

Pelos pais e amigos, pela santa lei
Pelo amor divino, graças te darei
Ó Jesus, aceita minha petição 
E, seguro durmo sem perturbação.

Dormir nunca foi fácil para mim, nem mesmo na infância, posteriormente durante a adolescência e a juventude desenvolvi o hábito de tomar café em excesso, a cafeína me estimula e me deixa alerta, porém tenho crise de abstinência, se não consumir em grandes doses durante o dia, o que só aumenta a probabilidade de que eu passe algumas horas inquieto na cama e com dificuldades para “agarrar” no sono. Então passei a repetir esta frase: “... seguro durmo sem perturbação...”, nem sempre o sono reparador vem, nem sempre quando vem é reparador, e algumas vezes ele nem vem, mas ainda assim continuo fazendo minha petição, sei que sou atendido, quer durma logo, quer não.

Um dia eu ensinei algumas partes desta canção para minha filha Jessicah quando alegou que estava sem sono, preocupada com os estranhos ruídos da rua: ”... Ó Jesus, aceita minha petição, e seguro durmo, sem perturbação”. Calma e serena, reclinou a cabeça e dormiu a sono solto. Ela entendeu a mensagem.

Ainda que seja um adulto que está beirando a meia idade, com todas as nuances que um Baby Boomer possa ter, até hoje eu prefiro me sentir como um menino amedrontado por sombras e monstros inimagináveis, desde que isso me conduza a confiar no abraço protetor de Abba, não quero drogas e nem remédios para dormir, prefiro ouvir a chuva mansa no telhado, lembrar do Sítio do Limão, com a tritinar dos grilos e o coaxar das rãs, além do mugido do gado ou o balido das ovelhas, ou até mesmo o vento impetuoso que fazia o pé de Algaroba, que estava defronte de nossa casa, baloiçar como se fosse um simples galho de uma roseira, só assim me lembro desta canção, entoada de joelhos e lembro do quanto ela fazia sentir-me protegido, cantá-la era ter certeza de que dormiria por toda a noite, pois sabia que “... Jesus bendito, se comigo estás, eu não temo a noite, vou dormir em paz...” 

[Oração Noturna (Hinário Novo Cântico 148)]

Modo Borderline de ser


Há uma parábola, melhor dizendo uma fábula, qual as muitas estórias de Esopo, que ilustra o modo Borderline de ser: o escorpião e a tartaruga. Existem muitas variações da mesma, algumas com um sapo, outras com uma rã, eu prefiro a que apresenta como coadjuvante do enredo a tartaruga, por ser menos inverossímil, ainda que atribuir fala aos bichos não é nada que possa ser chamado de verossímil.

Vamos a ela: Na beira de um rio caudaloso encontrava-se um escorpião, olhava fixamente para a outra margem, seu destino desejado, um tanto quanto aflito, não sabia nadar e nem a sua estrutura física o permitia atravessar aquele obstáculo, a coragem que nunca lhe faltava na hora decisiva de enfrentar quaisquer inimigos, sejam grandes ou pequenos, parecia tê-lo abandonado, o que mais lhe irritava era parecer indefeso ou impotente. Eis que surge ao seu lado uma tartaruga, a mesma tencionava atravessar o lago para a outra margem, para o mesmo destino que ele. Procurando não aparentar humildade, para que não fosse confundida com fraqueza, o escorpião dirige-se à tartaruga:

- Pode me levar em seu dorso até a outra margem? A água está fria e eu não quero molhar minhas patas.

Tão surpresa quanto amedrontada a tartaruga responde incólume:

- Isso não demandaria esforço algum, seu peso é insignificante para mim, porém, como eu teria certeza de que você não me aguilhoaria se eu te colocar sobre meu dorso? Você vai me picar se eu fizer isso, seu veneno vai me paralisar e eu vou morrer dentro do lago. Ninguém escapa de tua mortífera aguilhoada, basta que esteja ao teu alcance.

Ao que o escorpião maquiavelicamente replica:

- Se eu fizer isso, nós dois morreremos, eu morreria afogado, você acha que eu vou me matar propositalmente?

Ela pensou por alguns segundos, depois admitiu que o argumento era plausível. A tartaruga, mais por medo de ser picada de qualquer jeito, do que por força dos argumentos do peçonhento escorpião, decide levá-lo em seu dorso. Ao colocar as patas dianteiras na água, consolou-se com o argumento do seu passageiro, sabia que se ele a picasse, os dois morreriam.

- Não acho que ele é tão insensato, ao ponto de cometer tal desatino.

Pensava assim, e desta forma animava-se. Quando já tinha atravessado mais da metade do lago, quando já encontrava-se na parte mais funda e onde a correnteza era mais desafiadora, por isso mesmo, mais perigosa, sente em sua nuca um golpe rápido, e quase indolor, vira lentamente a cabeça e ainda vê o escorpião com seu mortífero aguilhão em riste, ele havia lhe ferroado mortalmente. Com o veneno percorrendo suas veias e paralisando os seus movimentos, ela pergunta:

- Por que você fez isso? Agora nós dois vamos morrer. Vou afundar e morrerei envenenada, você morrerá afogado, como conseguirás fugir desta sina que tão insensatamente puseste diante de ti mesmo?

Ao que o escorpião retruca sem pestanejar, com a água já o engolfando completamente e o sepultando na fatídica tumba que ele mesmo construiu:

- Eu não sei fazer diferente, eu sou assim! Não consigo me conter, é a minha natureza.

* * *

É desta forma que me sinto como Borderline. Alguém que não tem a liberdade de “encenar” a sua própria história de modo diferente do roteiro de sua vida que lhe impingiram. Deram-lhe um script de ações, do qual ele não pode fugir, dizendo exatamente como comportar-se, a impressão que tem é que esta sina inexorável foi gravada em sua pele. Como pedir que um Borderline não haja como um Borderline? Como pedir que um escorpião negue a sua própria natureza e seja dócil, gentil e não ataque qualquer um que se aproxime de si? Como pedir a um leão que negue a sua natureza e não cace mais nenhuma presa e passe a se alimentar de vegetais? Como pedir a um ser que tem por sobrenome a sensibilidade, aja racionalmente diante de situações que lhe são adversas? Como querer que alguém, que no lugar de músculos envolvendo o coração tem apenas uma fina pele, que pode ser rompida ao menor tremor, reaja com serenidade diante de situações de suposto abandono?

Um dia ouvi que era incapaz de aprender com os meus próprios erros, meus próprios fracassos, não gostei do que ouvi, hoje sei que é assim mesmo, é assim que tem sido a minha vida, desde que me lembro. Ainda que saiba que está fazendo algo destrutivo, sempre terá uma justificativa e ainda mais, sempre parecerá a si mesmo que não é culpado pelo o que está fazendo, alguém é responsável pelos atos dele.

Como é que se pode pedir a um ser que tem nas veias tamanha instabilidade emocional, que vive com o humor mais oscilante que uma Montanha Russa, que só enxerga o que é feito de forma exagerada, exponenciando tudo, que pode ser definido como um impulsivo ansioso, que tem como bebida a angústia e come num prato chamado medo, que tenha paciência?

Como não ser algo que se confunde com a minha própria identidade? Como? Como parar com o comportamento autodestrutivo? Como parar de afastar as pessoas que me amam e que eu amo? Como atribuir valor a um emprego ao ponto de querer apenas mantê-lo? Como atribuir valor às pessoas com intuito de mantê-las próximas? Com acabar com essa sensação de vazio e de tédio que domina cada minuto de seus dias?

Tratamento, seja farmacológico, seja psicoterapêutico, não conquistou a minha confiança, por isso mesmo eu o abandonei, ou fui abandonado por ele.

Existem lembranças, existem imagens e sons numa mente Borderline que nem o tempo pode apagar, não adianta rasgar fotos, deletar fotos, queimar cartas, deletar e-mails, quebrar CDs e deixar de ouvir certas músicas que não será suficiente. Lembro de meu aniversário de um ano, como não me lembraria de coisas que me aconteceram 10 ou 15 anos atrás?

Estou a menos de duas jornadas, de 12 horas cada uma, do fim de um ciclo em minha vida, de um maléfico e maldito ciclo, que só me fez ter vergonha, humilhação, perder oportunidades e andar cabisbaixo. Há 13 anos que este ciclo começou, acho que enfim vai acabar antes do fim deste mês, como Luther King vou poder dizer: “... free at last, free at last...”, como perdoar alguém que me fez entrar neste ciclo? Como me perdoar por ter entrado neste ciclo infernal?

Como não “punir” as pessoas que eu amo por algo que elas fizeram, que eu considero errado ou não, antes mesmo que me conhecessem? Como não ter ciúmes do passado de quem eu me aproximo? Como evitar que isso aconteça, se foi sempre assim, se eu nunca agi diferente e não sei agir de forma diferente?

Como dominar o medo de ser abandonado um dia? Como não abandonar alguém que eu amo e que me ama, antes que eu seja abandonado? Como pensar diferente de que posso ser abandonado? Por que achar que não sou merecedor de tanto amor? Já disse alguém que amar um Borderline é como atravessar um furacão e querer sair ileso do outro lado. Quem pode ser considerado culpado de se afastar de alguém assim? Creio que amar um Border é sacerdócio, não é uma opção, quem consegue permanecer junto precisa de ajuda da mesma forma que alguém que sofre de TPB. Ser um cuidador perfeito é difícil, encontrar um é quase impossível. Pois entender que um Borderline precisa ser amado para poder encontrar sentido na vida, e que espera que esse amor seja o seu porto seguro, seja seu apoio, seja a sua companhia de todas as horas, alguém que lhe ajude a preencher a sua existência e o ajude a superar o vazio causticante que o acompanha por toda a vida, não é uma tarefa fácil. Amar um Border é para corajosos, ainda que fiquem despedaçados, ainda assim precisam ser de fibra.

Muitos olham apenas para os Borderlines como pessoas cruéis e insensíveis, mas isto é uma inverdade, o Borderline é apenas uma uma criança assustada que com os olhos cheios de lágrimas pede para ser acolhida, aceita e amada.

Como deixar de ser Borderline, sem deixar de ser eu mesmo? Isso sim é viver sob o signo do escorpião!

A vida sem amor


A inteligência sem amor te faz perverso.
A justiça sem amor te faz implacável.
A diplomacia sem amor te faz hipócrita.
O êxito sem amor te faz arrogante.
A riqueza sem amor te faz avarento.
A docilidade sem amor te faz servil.
A pobreza sem amor te faz orgulhoso.
A beleza sem amor te faz ridículo.
A autoridade sem amor te faz tirano.
O trabalho sem amor te faz escravo.
A simplicidade sem amor te deprecia.
A oração sem amor te faz introvertido.
A lei sem amor te escraviza.
A política sem amor te deixa egoísta.
A fé sem amor te deixa fanático.
A cruz sem amor se converte em tortura.
A vida sem amor... não tem sentido!


Como Vai Você



Como vai você?
Eu preciso saber
Da sua vida,
Peça alguém pra me contar
Sobre o seu dia...
Anoiteceu
E eu preciso de saber...

Como vai você?
Que já modificou
A minha vida,
Razão da minha paz
Tão dividida,
Nem sei se eu gosto
Mais de mim ou de você...

Vem,
Que a sede de te amar
Me faz melhor
Eu quero
Amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz...

Vem,
Que o tempo pode
Afastar nós dois
Não deixe tanta vida
Pra depois
Eu só preciso saber...

Como vai você?
Que já modificou
A minha vida,
Razão da minha paz
Tão dividida,
Nem sei se eu gosto
Mais de mim ou de você...

Vem,
Que a sede de te amar
Me faz melhor,
Eu quero, eu quero
Amanhecer ao seu redor,
Preciso tanto, tanto
Me fazer feliz...

Vem,
Que o tempo
Pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida
Pra depois,
Eu só preciso saber...
Como vai você...

Como vai você?
Como vai você?

[Composição: Antônio Marcos].

Ao meu amigo paraibano

Chovendo sinceridade
Eu venho
Das bandas da Paraíba
Sinto que essa gente intriga
Com as coisas do meu sertão
Tá claro
Que eles vivem no escuro
Da grandeza de um monturo
De concreto e de ilusão
Eu trago
Dentro do peito um machado
Bem fornido e afiado
Pra cortar a solidão das capitais
Eu venho
Com o coração aberto
Meio bobo, meio esperto
Meio vero, meio vão
Venho em inverno
Chovendo sinceridade
No trovejo da maldade
Essa cidade se estremece
E se estribucha a solidão.

P.S.: Escutei essa música e lembrei-me de você! "A D O R E I"
[Composição: Flávio José]

Menininha!

Um dia olhou para ela e se deu conta de algo que esperava há muito tempo, mas que não achava que chegaria tão cedo, tinha virado realidade: ela não era mais uma menininha, já estava deixando a puberdade para trás, estava “virando” uma moça. A imagem daquela menina loirinha, de sorriso meigo e cativante, existia apenas na mente dele e nas fotos que guardava com carinho numa pasta de seu computador pessoal, a mania de caixas e mais caixas com fotos ele deixou de lado há muito tempo.

Com certa nostalgia lembrou-se dela andando de gatinhas pela casa, derrubando tudo o que vinha à mão, inclusive os livros que ele guardava com tanto ciúmes. Lembrou-se também da mania que havia adquirido quando ela nasceu, um verdadeiro vício: gostava de colocar apelidos nela, toda semana era um novo, às vezes eram dois na mesma semana, nem bem um começava a “pegar” e ele já vinha com outro. Ele fazia testes, um dia talvez algum caísse como uma luva.

Por conta da cor rósea, quase vermelha com que ela nasceu, ele lhe deu a alcunha de colorau. Por ser muito pequena na época, talvez ela nem sequer se lembre desse apelido, apenas ouviu dizer que um dia foi chamada assim, como todos os outros que se seguiram, este também era volátil e logo saiu do uso e ficou nos anais da curta história de vida dela.

Por conta do cabelo loiro que ela tinha, e pelo costume que têm os nordestinos de chamarem os loiros de galegos (galegos eram os habitantes da região chamada de Porto Gale, depois Portugal), ele a chamava de galeguinha, esse teve um ciclo de vida maior, chegou até à adolescência, mas também caducou e feneceu.

Quando ela cresceu mais um pouco e já tentava se portar como uma moça, não mais como uma criança ele passou a chamá-la de menininha, era uma forma carinhosa de dizer-lhe que não crescesse ou que para ele, ela nunca cresceria, seria sempre a sua menininha. Esse é o preferido dele, ainda a chamava assim quando ela ultrapassava a adolescência.

Quando ela já estava na puberdade ele passou a chamá-la de Mysha Nokoy, que em japonês significa Filha Querida, por solicitação dela mesma, que por ser fã de animes passou a ser aficionada pela cultura nipônica. Esse pegou mesmo, ele achava estranho pronunciar o nome dela na frente das pessoas, tanto que se acostumou com esse apelido.

Como ele se tornou apaixonado por literatura afegã, hábito surgido após ler Cidade do Sol, O Caçador de Pipas e O livreiro de Cabul, obras que só se tornaram conhecidas no mundo ocidental por conta da queda do regime talibã que dominou com mão de ferro aquele país, passou a adotar o hábito de usar os mesmos termos usados naquela língua para referir-se às pessoas muito amadas. Naquele idioma quando alguém quer demonstrar o amor que sente por outra pessoa ela diz: "... você é a noor dos meus olhos!". Ou seja, você é a luz, o brilho do meu olhar. Não se tornou afegão, mas dizia com a alma para ela: Você é a noor dos meus olhos.

Assistindo à Menina de Ouro, película que o fez chorar demais, aprendeu que em gaélico, língua dos irlandeses, povo de origem celta, cultura esta que ele amava demais, em todos os aspectos possíveis, principalmente a literatura, a música e até mesmo a espiritualidade, existe uma forma especial de demonstrar apreço por alguém, basta dizer: "... Mo Cuishle..." que quer dizer: Minha querida, meu sangue! Ele ansiava que isso fosse gravado no coração dela, vivia fazendo com que ela nunca esquecesse, tentava impregnar a mente dela com esta verdade tão profunda: você é minha querida, você é meu sangue! Pensava sempre em tatuar no braço: Mysha mo cuishle, noor dos meus olhos!

Não importa que nome, que alcunha venha chamá-la, o amor incondicional que sente é suficiente para lidar com ela de várias facetas, ou sem faceta alguma. Para ele, o que importa é que a ama, os apelidos foram e são apenas formas carinhosas de chamar a atenção dela para este fato: Amada por Deus e menininha do papai!

Se eu pudesse...

Quem me dera que eu não fosse tão incapaz,
Quem me dera que eu não tivesse tão pouca força.
Quem me dera que eu tivesse realmente capacidade,
Quem me dera que eu realmente pudesse,
Quem me dera que o meu poder fosse do tamanho do meu querer,
Assim, se eu pudesse tirar esse sofrimento de sua alma, eu o faria.
Eu entraria nas mais íntimas fímbrias de seu coração,
E arrancaria com minhas mãos essa angústia
E a despedaçaria entre os meus dedos,
Ah, se eu pudesse tirar toda a sua dor,
Eu a extrairia de dentro de sua alma,
E a faria minha, para que ela nunca mais voltasse para você,
Eu faria isso sem vacilo algum, eu faria isso sem receio,
Eu faria isso sem pestanejar, sem titubear.
Algo que posso te dizer com toda a certeza é que:
"Existe uma razão para tudo que está acontecendo contigo",
Pois nada é por acaso, não existe um destino cego,
Às vezes a estrada da vida tem trechos obscuros,
Muitas vielas frias, muitos becos sombrios,
Muitos desvios que tomamos conduzem a precipícios paralisantes,
Esses caminhos são muito difíceis de serem trilhados
E fazem com que tudo pareça tormentoso e sem saída.
Olhamos para o lado e nos desesperamos,
Eu, porém, quero que você tenha sempre a certeza...
Não importa o lugar, não importa o momento,
Não importa a situação, nem os motivos,
Que eu estarei aqui se você precisar conversar,
Mesmo que não queira conversar, estarei aqui,
Quando você precisar chorar, estarei aqui,
Para chorar com você, ou para enxugar suas lágrimas,
Para dar conforto, se você precisar
Ou tão somente, simplesmente, para calar,
Se você quiser confidenciar seu silêncio comigo.
Quero que saiba, que nunca esqueça,
Que grave indelevelmente em seu coração,
Que eu me importo com você e,
Estarei sempre ao seu lado!
Sou teu amigo, teu cúmplice, teu pai!

[No dia 12 de abril de 2007, quando ela entrava na adolescência, ele escreveu-lhe num site de relacionamento uma pequena reflexão que inspirou este texto, quando ela começou a encarar todos os medos que a idade lhe punham frente a frente, ambos estavam dilacerados, cada um por suas próprias lutas por suas próprias derrotas, ele com a alma dilacerada de tristeza tentou demonstrar-lhe o que sentia por ela, nenhum coração de pai podia dizer com mais sinceridade estas palavras, amava-a incondicionalmente e isto bastava].

Legado

Eu, Jocelenilton Gomes, confessadamente um maltrapilho de Abba, me encontrando no meu perfeito juízo e entendimento, exceto pelo fato de ser afetado pelo TPB (Transtorno de Personalidade Borderline) livre de qualquer coação, excetuando as exigências que a minha personalidade Borderline requer de mim mesmo, deliberei fazer esse meu testamento particular, como efetivamente o faço, sem constrangimento, em presença de centenas de testemunhas, qualificados aqui como os leitores que acessam, ou acessarem este blog, no qual exaro minha última vontade, pela forma e maneira seguinte: sou brasileiro, casado, com 43 anos de idade, tendo nascido em Monteiro, PB, filho de José Trezena e de Marilene Gomes, tendo dois descendentes até o presente momento, instituo como herdeiros de meu legado de vida, exposto em 06 itens, Ulrich Zwínglio Gomes, 18 anos, meu descendente, falecido em 31 de agosto de 1993 e Jessicah Rhebeccah Gomes, 16 anos também minha descendente, e quaisquer outros descendentes que porventura nasçam após esta data. Assim expressando este testamento particular minha última vontade, pedindo à Justiça de meu País que o faça cumprir como este se contém e declara e às testemunhas, perante as quais postei este mesmo testamento, que o confirmem em juízo, de conformidade com a lei. Dou, assim, por concluído este meu testamento particular, que com as aludidas testemunhas, assino, nessa cidade de Recife, PE, aos 31 dias do mês de agosto do ano de dois mil e onze(2011).

Seguem os termos do meu legado:
  • Caráter: muitas vezes fui acusado injustamente, inclusive por pessoas próximas a mim, de que não tinha caráter ou que era mau-caráter, algumas que disseram isso nem me conheciam de verdade, mas eu sei, sem nenhum narcisismo, que não sou isso, sou alguém que tem um caráter sem mácula, as falhas de minha personalidade transtornada não danificaram o que resta de bom em mim, por isso tenho a convicção que posso lhes legar isso, e talvez seja o que há de melhor que posso lhes conceder. Meu caráter foi talhado pela vida e depois foi moldado e retocado por diversas circunstâncias, mas o que há de melhor nele, foi preservado graças à misericórdia de Abba;
  • Honra: Se alguma coisa tem valor expressivo para mim, esta coisa é a honra, não tenho apreço por imóveis, fama, dinheiro e carros, tudo isso passa, mas lutar para viver com dignidade e honra é algo que eu faria e o farei até à morte. Já perdi muitas coisas materiais, empregos e oportunidades, apenas pelo fato de honrar o que sou, sem soberba, com humildade, mas com muita honestidade. Deixo isso também como parte do legado. Fui demitido um dia de uma empresa que trabalhava, pois fui defender meu chefe que estava sendo acossado por um diretor obtuso, o diretor em parte tinha razão, meu chefe não era competente, mas todos estavam crucificando-o, eu não podia ver aquilo sem fazer nada, eu o defendi, ainda que soubesse que ele não gostava de mim, que falava mal de mim e demonstrava sinais evidentes de inveja de minha atuação como profissional, apresentei as falhas da argumentação do diretor. Ocorre que este diretor queria demitir meu chefe e me colocar no lugar dele, mesmo sabendo disso, eu o defendi e me indispus com o diretor que me demitiu e deixou meu chefe na empresa, depois ele também saiu. No outro dia, depois que fui demitido, ao me olhar no espelho, não tive do que me envergonhar de minha conduta, eu fiz aquilo por honra, somente por honra;
  • Determinação: Se querem algo, lutem por isso, não desistam, eu já tive que enfrentar muitas pessoas e algumas muito poderosas, apenas porque eu queria que as coisas saíssem de forma correta, mas elas achavam que deveriam ser da forma delas, eu porém, não achava que estava correto, por isso lutei e lutaria mil vezes se preciso fosse. Eu mesmo não sabia que eu era tão forte e determinado, muitas vezes me admirei de mim mesmo, posso legar isso a vocês também. Já caí muitas vezes, mas tantas quanto as quedas que levei foram as vezes que me levantei, me ergui. Não tenho medo de quedas, de derrotas, de cair, eu sei que vou me erguer, pode custar, pode demorar, não é fácil, pode ser doloroso, mas eu vou me erguer. Willard Marriott uma vez disse: “Quanto mais forte o vento, mais forte as árvores”, e eu tomei esta frase como a que define minha trajetória de vida, digo sempre para as circunstâncias: podem me derrubar, podem me deixar caído ao chão por um tempo, por um ano, ou mesmo décadas, mas eu vou me levantar e quando eu me erguer, estarei mais forte do que nunca, por isso, trabalhem bem, pois eu sei que vou me erguer;
  • Palavra: Só existe uma palavra para um homem ou uma mulher de bem, de honra, só prometam o que possam cumprir e cumpram o que prometerem. Eu honro a minha palavra, e não aceito de forma alguma que não honrem a palavra empenhada comigo. Recentemente pedi demissão de uma grande empresa, onde eu tinha prestígio, um bom salário e uma carreira pela frente, por conta do diretor da empresa não ser um homem de palavra, pedi para sair, perdi muito dinheiro por isso, tive dificuldades financeiras, mas não voltei atrás naquilo que penso, posso lhe dar isso como legado também. Quando disserem que farão algo, não se liberem de fazer, a palavra de vocês vale muito mais do que tudo o que perderão, eu já perdi muitas coisas, que sequer consigo enumerar, tão somente por ter dito que faria algo e quando fui fazer, percebi que aquilo me traria enorme prejuízo, mas tinha dado a minha palavra, não podia voltar atrás, fiz isso, mesmo que em prejuízo próprio, sejam cativos de suas próprias palavras, se querem ser respeitados pelas pessoas que cercam vocês, então honrem as palavras que pronunciarem, não empenhem suas palavras em nada pelo qual não possam viver ou morrer, pois é assim que deve ser;
  • Coerência: Isso é, de certa forma, um sinônimo de integridade, ser inteiro, não ter lacunas, ser coerente é viver, em âmbito particular, de acordo com aquilo que crê, de acordo com aquilo que pensa, de acordo com aquilo que se defende em público. Não pensem e nem creiam em nada que não possam viver, não vivam uma vida, por melhor que aparentemente seja, que não possam crer e defender, sejam coerentes, desprezem a hipocrisia, afastem de vocês o viver de modo aparente e o farisaísmo, sejam coerentes, sejam inteiros. Abba, os compreenderá quando esta coerência cobrar um preço muito alto, paguem este preço, melhor morrer por algo que se crer do que viver 100 anos sem que um ideal dirija suas vidas, sem que haja ligação entre o que se crer e o que se vive, vivam aquilo que creem, creiam naquilo que vivem, caso não consigam fazer isso, abandonem as crenças que não mereçam ser vividas, ou mudem de vida para que se ajuste às crenças e ideias que tenham, sejam coerentes, prometo que terão consciência tranquila, não prometo que serão felizes e nem ricos, mas que colocarão a cabeça no travesseiro sem que sejam condenados pela mente, ser coerente nem sempre garante sono restaurador;
  • Honestidade: Nada faz mais falta no mundo moderno do que a honestidade. Num mundo em que as pessoas só querem levar vantagens, só querem ganhar e ganhar, ser honesto muitas vezes é sinônimo de fraqueza e de pouca inteligência, às vezes parece antônimo de esperteza. Bom, se for assim, lhe peço: não sejam espertos, sejam honestos! Nada que é conquistado de modo não honesto, permanece, ou tem valor. A fama ou a riqueza conquistada de forma desonesta, pode até permanecer por muitos longos anos, mas o preço da desonestidade um dia é cobrado, os juros são altos. Se tiverem que escolher entre a vantagem de uma vida em que as preocupações diárias sejam apenas banalidades, e outra em que as lutas pela sobrevivência apareçam de minuto a minuto, escolham a segunda, desde que o que leve a uma vida de abastança não seja alcançado de modo honesto. Entre a honestidade e a esperteza, escolham a honestidade, não sejam espertos, sejam dignos, vivam com dignidade;
  • Não posso lhes dar bens, nem riquezas, posso oferecer apenas o que sou, meu nome e a certeza de que vivi a minha vida, até este momento, procurando honrar o nome dos meus pais, só lhes peço que façam o mesmo, vivam e deixem um legado, deixem algo que faça com que seus filhos possam se orgulhar de vocês, deixem algo perene, que nem o tempo e nem as intempéries possam destruir e derribar, sejam vocês mesmos, sejam felizes, orgulho de vocês eu já tenho, a mim não devem nada, cumpram o propósito de Deus em suas vidas e encontrarão a felicidade.