Lição de Mãe!

Maio, o mês das mães, para mim é de nostalgia, de lembranças, algumas ruins, outras boas, outras melhores. Época de lembrar da infância, do colo da mãe, dos afagos, dos abraços afetivos, de coisas que trazem à memória bons momentos vividos, que já não voltam mais: Bolo de fubá com uma xícara de café torrado fumegando, papa de aveia, o círculo em volta do lampião e as histórias de João e Maria, contadas com maestria por meu pai, muito embora ele aumentasse tanto, que não sabíamos como era o conto verdadeiro, balanço na rede nas madrugadas de dor de dente, dos curativos carinhosos nas feridas advindas das traquinagens, da vez que peguei minha mãe orando de olhos fechados e segurei bem forte seu nariz, dando-lhe um baita susto.

Porém uma das coisas que mais me deixa saudoso é quando relembro da hora de dormir, numa casa no Sítio do Limão em Monteiro, no sertão paraibano onde nasci. A noite poderia ser fria ou quente, com belo luar ou chuvosa, estando com saúde ou doentes, sempre, ajoelhados à beira da cama: eu e meus três irmãos cantávamos com D. Marilene, minha mãe, a canção de ninar mais bela que eu conheci, então orávamos pedindo proteção divina, era um som mavioso, inefável e indizível sensação: “Finda-se este dia que meu Pai me deu; sombras vespertinas cobrem já o céu, Ó Jesus bendito, se comigo estás, eu não temo a noite: vou dormir em paz...”.

Não há como calcular o efeito que a canção causava no coração inseguro e temeroso de uma criança de cinco anos. Qualquer ruído, qualquer sombra que se movia, qualquer estalo no telhado provocavam um sobressalto, traziam consigo a insônia. Só mesmo a lembrança da canção para acalmar o coração e poder dormir. Por força da ocupação de meu pai, que estava ausente todas as noites, o temor se acentuava, temia por nós que estávamos em casa, como por ele que estava fora desprotegido, só mesmo confiando no Pai Eterno para poder dormir e descansar, acreditando que pela manhã o veria de novo e que estaríamos em paz.

Muito tempo depois, quando os temores da infância que a escuridão noturna trazia junto a si, já não me assustavam mais, ouvia a voz dela cantando mais uma estrofe: “... Guarda o marinheiro no violento mar, e ao que sofre dores queiras confortar, ao tentado estende Tua mão, Senhor; manda ao triste e aflito o Consolador...”, eu tinha ingressado na Marinha e a canção era atual, tinha vencido o tempo. Ensinei-a para minha filha Jessicah quando alegou que estava sem sono, preocupada com os estranhos ruídos da rua: ”... Ó Jesus, aceita minha petição, e seguro durmo, sem perturbação”. Calma e serena, reclinou a cabeça e dormiu a sono solto. Ela entendeu a mensagem.

Agradeço à minha mãe, que me ensinou a confiar no Pai Supremo e que com seu exemplo me fez desejar tê-Lo por meu Pai também. E isto é melhor que bolo de fubá com café torrado bem quente.