O ocaso de uma igreja!


Ouvi, ou devo ter lido, nem me recordo mais, esta história (Quem sabe se não é só uma estória cheia de metáforas e significados?) há muitos anos atrás, creio que desde a época em que eu coletava historietas, fábulas, contos, anedotas, etc, com a finalidade de ter um arquivo mental (Em tempos de intensa tecnologia da informação alguns diriam: “repositórios na nuvem”) de ilustrações que pudessem me ajudar durante uma aula, palestra ou sermão, ela ficou guardada por muitos anos na memória, vou transcrevê-la e registrá-la, não somente para preservá-la, bem como à guisa de advertência para o momento vivido pela igreja brasileira, momento perigoso, crítico e delicado, que determinará a sua existência ou qual o tipo de existência que ela terá.

Numa encosta qualquer do norte da Europa, numa região dominada por rochas escarpadas, muros imensos de pedras que se estendem por centenas de quilômetros, regiões inacessíveis àqueles que ousassem se aproximar imprudentemente da costa, alguns moradores resolveram construir um abrigo singelo para aqueles, dentre eles, que com perigo de suas vidas guardavam aquelas costas diuturnamente. Como não era possível a construção de cais e os faróis distavam muito um do outro, eles então acendiam fogueiras para que fossem vista do alto mar como aviso de perigo, e quando estes sinais não eram suficientes, se lançavam ao mar para resgatar com vida alguém que estivesse ferido ou mesmo resgatar corpos que de outra maneira seriam devorados pela variegada fauna marinha.

Um dos maiores problemas que tais resgatadores enfrentavam era a falta de uma base de apoio, que lhes servisse de amparo, refúgio, para que descansassem após a labuta tão ingrata e ao mesmo tempo de que neste local as vítimas recebessem os primeiros socorros ao serem tiradas das águas, algumas já haviam morrido de frio ou por falta de cuidados, já que ficavam, às vezes, expostas nos rochedos ao frio e às tempestades inclementes que eram uma constante naquele lugar, enquanto os seus resgatadores mergulhavam outra vez em busca de mais feridos. O fato de não serem assalariados não os incomodava, não mais do que a falta de um lugar de refúgio.

As autoridades das cidades mais próximas se reuniram e decidiram que cada cidade que era beneficiada com a ação daqueles destemidos voluntários reservariam uma parte de sua arrecadação e destinariam tal monta ao grupo que liderava os resgatadores para que pudesse construir o abrigo que lhes era tão necessário.

Em alguns meses já era possível ver as colinas daquilo que seria o quartel-general que iria dar guarida aos salvados e salvadores. Foram erigidas numa ampla área no mais alto rochedo da região, num verdadeiro platô, havia água potável perto, foram construídas estradas e outras foram melhoradas, para que o acesso às cidades se tornasse propício, já que estudavam a possibilidade de transferir os enfermos para os hospitais de forma mais ágil e eficiente. Em menos de um ano foi terminada a primeira etapa que incluía: duas torres de 06 metros de altura com escadas circundando-as que permitiriam que os vigias pudessem subir ao topo e acender os faróis que dariam rumo às embarcações e denunciariam o perigo aos incautos navegantes ou aos que estivessem à mercê de alguma tempestade, construíram um imenso salão com janelas amplas que permitiam a visualização de grande faixa do litoral, neste salão ficariam os salvadores de plantão, desenvolvendo diversas atividades que lhes permitissem não só passar o tempo, bem como estar em constante atualização e treinamento. Construíram auditório para reuniões, cozinha e dispensa para as refeições tão necessárias e um alojamento para 50 pessoas, biblioteca e um salão de jogos, além de uma ambulatório para o tratamento dos feridos e uma enfermaria para acomodá-los. Com o passar dos anos, com cada vez mais recursos, as instalações foram ficando mais luxuosas, aconchegantes e pomposas. Os salvadores agora eram assalariados e gozavam de grande prestígio na sociedade da região. Havia já um Centro de Formação de Salvadores, um programa intenso de treinamento que durava quase 05 anos, requisito para quem almejasse assumir a liderança de um grupo ou mesmo se tornar o Grão-Salvador, que só era reservado aos mais antigos e mesmo assim por meio de aclamação da assembleia geral anual.

Mas toda essa harmonia estava com os dias contados, e já surgiam os primeiros problemas: nos fins de semana, aqueles que estavam de plantão gostavam de trazer a família para que ficasse mais próxima, e isso causava vários problemas, além da questão da acomodação e da diminuição dos recursos armazenados, havia ainda a distração que isso pudesse trazer, alguns, defensores deste tipo de comportamento, diziam que isto era um prêmio àqueles que tão desinteressadamente abriam mão do conforto dos seus lares, e que como estavam em constante treinamento, não acreditavam que houvesse portanto risco na perda de foco.

Agora o Quartel, isso mesmo, com “Q” maísculo já estava aparelhado com piscinas para adultos e crianças, campos de futebol, quadras para diversos esportes, amplos estacionamentos, salas com diversos jogos e uma ala imensa de quartos para os vistantes. Os mais experientes nem se lançavam mais ao mar, isso era tarefa dos neófitos, eles cuidavam do planejamento estratégico e viviam em intensas reuniões com a intenção de elaborar a Visão e a Missão da instituição.

Quanto mais crescia em importância e prestigio a organização, mas cresciam as divergências entre os salvadores. Os mais experientes ao se aperceberem do cisma que se aproximava, resolveram convocar uma reunião geral que pudesse conciliar as opiniões divergentes e restaurasse a paz e a harmonia tão sonhada.

Mas na reunião os ânimos só fizeram se acirrar, ao grupo original que havia fundado a organização haviam se somado centenas de outros que tinham um visão menos ortodoxa do papel que deveriam desempenhar e achavam que os mais velhos eram muito radicais e que deveriam ceder em alguns pontos, os mais antigos culpavam os mais novos pelo fato de que o Quartel mais parecia um balneário, com festas e eventos que descaracterizavam a instituição. Após muitas horas de debate e sem chegarem a consenso algum, os mais antigos resolveram sair do grupo com a promessa de fundarem um novo quartel alguns quilômetros ao norte de onde estavam, num outro platô e que ali pudessem restaurar a visão original de salvar vidas e cuidar de feridos.

Todos aqueles que partilhavam da visão do grupo cismático saíram naquele dia e logo fundaram o novo Quartel, como haviam construído o primeiro e tinham experiência, puderam construir um quartel melhor, com uma estrutura até mesmo mais otimizada.

O tempo passou e quando uma geração nova surgiu e assumiu a liderança do Segundo Quartel as mesmas ideias de entretenimento ganharam raiz e se desenvolveram, logo havia mais um cisma, mais uma vez aqueles que preservavam o ideal dos Pais Fundadores, que já haviam morrido, resolveram sair e fundaram o Terceiro Quartel, para poderem preservar aquilo em que criam ser a missão da instituição: salvar vidas!

Hoje naquelas encostas existem mais de 30 balneários e clubes, todos um dia foram sedes de Quartéis de Resgatadores de Náufragos. Não há mais nenhum órgão na região que tenha a missão de salvar os náufragos ou de cuidar de feridos de naufrágios.

Vem a advertência: “... removerei teu candelabro de sua posição...” Apoc. 2:5b

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