Outra lista de Avengers!


Ainda consigo lembrar com nitidez da primeira lista com os meus heróis preferidos que compus na infância: Tex Willer, de longe era o preferido, cavalgando pelas pradarias do Velho Oeste, Zagor nas florestas tropicais, Fantasma, o Espírito-que-anda na região de Bengala, Tarzan e sua vida em duas civilizações, (li o livro O Filho de Tarzan com mais de 700 páginas sobre a história de Lorde Greystoke quando eu tinha uns 10 anos, não preciso dizer que não perdia uma oportunidade de imitá-lo, seja pulando de alguma árvore e esfolando o joelho, seja gritando como ele e tomando uma bronca de minha mãe), Principe Eric (uma trilogia nórdica), os dois Zorros, tanto o de espada quanto o de revólver, que era acompanhado do emblemático Tonto, Durango Kid, Capitão América, Batman, Superman, Namor, Ken Parker, o indefectível Homem-Aranha, Hulk, Homem Biônico, Aquaman, Homem de Ferro, Capitão Marvel, Thor (que não tem nada a ver com o filho de Eike Batista) e tantos outros, uma lista que quase não termina mais. E olha que eu não citei nem ¼ do total da minha Legião.

Depois que assisti Avengers (a viés iconoclasta seguida não me agradou muito, pois mexeu com figuras, há muito, cristalizadas por mim no meu imaginário, ela abordou mais o lado humano e cheio de idiossincrasias de personagens que eu considerava intocáveis, tais como Homem de Ferro e Thor, do que suas habilidades e perícia nas batalhas), fiz uma reflexão sobre a lista que tinha elaborado na infância e ao revê-la eu constatei que o que me levou a selecionar aqueles nomes específicos foi o fato de que nenhum daqueles heróis tinha perfil de perdedor, ainda que derrotado em alguma escaramuça ou batalha, a guerra sempre era vencida e os vilões derrotados. Meus heróis eram invencíveis e por serem invencíveis eram meus heróis.

Será que alguém pode dizer que minha lista de heróis é pueril e ingênua? Certamente que sim, pois ela é fruto de uma época da minha vida marcada mais por sonhos do que por realidades e não peço desculpas por isso, na fase em que desenvolvi tal listagem era natural que eu construísse ícones e era saudável que eu tivesse estereótipos para me referenciar.

Folheando um livro velho, bem velho mesmo (gosto de livros velhos, neles, além de poeira e mofo, encontramos verdades perenes que o tempo não conseguiu acabar. Se algum livro for preservado por mais de mil anos, ele deve ser lido, pois tem algo que o preservou, não é o livro que preserva a verdade que ele contém, mas a verdade que ele contém que o preserva.), eu encontrei uma lista de heróis de autoria desconhecida, não só a lista, mas também o livro em que a mesma está contida, não traz a indicação de quem os escreveu, e as especulações apontam três ou quatro nomes de possíveis autores, mas, como a questão autoral não é o foco desta reflexão, vamos deixar de digressão e dar uma olhada nesta “outra lista” de heróis:
"… Abraão, chamado por Deus, obedeceu e partiu para um lugar que deveria receber como herança. E partiu sem saber para onde. Pela fé, ele foi residir como estrangeiro na terra prometida. Morou em tendas juntamente com Isaac e Jacó, que também eram herdeiros da mesma promessa. [...] Todos eles morreram na fé. Não conseguiram a realização das promessas, mas só as viram e saudaram de longe; e confessaram que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. [...] Pela fé, Isaac abençoou Jacó e Esaú, também a respeito de coisas futuras. Pela fé, Jacó, agonizante, abençoou cada um dos filhos de José, e se prostrou, apoiando-se na extremidade do bastão. Pela fé, José mencionou, já no fim da vida, o êxodo dos filhos de Israel, e deu ordens sobre o que deveria ser feito com o seu cadáver. Pela fé, Moisés. [...] O que mais posso dizer? Eu não teria tempo, se quisesse falar de Gedeão, de Barac, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas. Graças à fé, eles conquistaram reinos, implantaram a justiça, alcançaram as promessas, taparam a goela dos leões, apagaram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, extraíram força da sua própria fraqueza, mostraram-se valentes na guerra e expulsaram invasores estrangeiros. E algumas mulheres recuperaram seus mortos, por meio da ressurreição. Outros foram esquartejados, recusando a libertação que lhes era oferecida, a fim de alcançarem uma ressurreição mais valiosa. Outros, enfim, foram humilhados e surrados, amarrados e jogados na prisão. Foram apedrejados, serrados ao meio, mortos a fio de espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelha e de cabra, necessitados, atribulados, maltratados. Esses homens tinham que vagar por desertos e montanhas, e refugiar-se em grutas e buracos. O mundo não era digno deles! Todos eles foram aprovados por Deus por causa da fé que tinham. Mas nenhum deles alcançou a promessa...” [A lista completa está no livro de Hebreus, no capítulo 11]. Bíblia Sagrada - Edição Pastoral © Paulus, 1990.
Bom, me parece que tem algo diferente entre a minha lista e a do “ilustre desconhecido” e não são apenas os nomes estranhos que ele listou, há uma diferença substancial: a concepção da mesma baseou-se em critérios de seleção antagônicos, enquanto a minha se baseou em seres invencíveis, a dele se baseou em seres que confiavam num Ser que era invencível.

Eu não escolheria na infância alguém como Abraão para ser meu herói, morreu sem ver nada concreto, até um pedaço de terra teve que comprar para sepultar a esposa e morreu com um único herdeiro legal, ele que seria chamado de “pai de grandes nações”. Também não escolheria Moisés, morreu sem sequer ver a Terra Prometida, passou 40 anos liderando um povo complicado no meio do deserto, “comendo poeira” e não viu realização alguma. Jacó? Não esse nunca, jamais escolheria alguém que quase transformou seus filhos em inimigos por conta de sua forma de ser pai. Davi? Acho que não, as batalhas que venceu contra os inimigos de Israel não se comparam com as que perdeu para si mesmo e em decorrência disto, arruinou sua família e dividiu uma nação.

E o que dizer dos que foram humilhados, surrados, amarrados, encarcerados, apedrejados, serrados ao meio, esquartejados, mortos ao fio da espada, errantes, maltrapilhos, necessitados, atribulados, maltratados, andando à esmo, habitando buracos fétidos e imundos? Esta farândola foi alcunhada pelo missivista como gente que “o mundo não era digno deles!”. Tem algo errado, algo muito errado, e o erro não está na ista de heróis de Hebreus, nem tampouco está na minha lista, o erro está no critério que estabeleci ao compô-la!

Pela ótica divina o que nos faz heróis não é o quanto de batalhas vencemos, nem há quanto tempo não adoecemos, nem quanto arrecadamos na igreja no último domingo, nem em quantas rádios e redes de televisão o programa da nossa igreja passa, nem quantas pessoas estiveram nas últimas celebrações ao ar livre que fizemos, os critérios de Deus são outros, e ele está baseado na fé que temos, e ter fé, que agrade a Deus, não significa acreditar que tudo vai dar certo e que sempre venceremos as batalhas, ter fé significa olhar para algo pelo prisma de Deus, significa ver numa derrota, numa doença, num acidente, numa catástrofe ou num desemprego a oportunidade que Deus nos concede de realinharmos os nossos objetivos, nossos alvos e propósitos. Conceitos que fazem com que a liderança protestante brasileira desdenhe, pois o conceito de vitória dela é crescimento numérico e financeiro, a pompa ao invés da simplicidade, a ostentação ao invés da dependência de Deus.

Quando ouço ou leio que “nascemos para ser vitoriosos” ou “somos cabeça e não cauda”, me pergunto: em que momento a igreja do Brasil alterou o conceito de vitória que Deus impingiu nas Escrituras?

A resposta que dói mais do que a pergunta é: quando trocou a Glória de Deus pela glória dos homens, quando resolveu competir com a Igreja Católica por poder e pompa, quando imaginou que sendo grande e poderosa poderia ser usada por Deus. Ledo engano, foram pescadores analfabetos que fizeram a igreja ser a maior instituição humana de todos os tempos, apenas por uma simples coisa: confiavam em Deus e não buscaram a glória para si!

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