A "Coisa"


Ela está sempre à espreita,
Maligna e invisível presença,
Qual serpente marinha à espera da presa,
À espera de incautos navegantes.
Age sempre covardemente, sempre,
Não há honra em suas batalhas,
Suas vitórias não merecem gládios.
A escuridão é seu manto, as sombras suas vestes,
Seus olhos infernais não brilham no escuro,
Não se pode prever a sua presença,
Não se percebe a sua aproximação.
Qual fera indômita, aguarda em seu covil,
Uma serpente que dorme aos pés da presa.
Esperando o menor sinal de fragilidade!
Ao menor sinal de fraqueza, ela ataca,
Sem piedade, sem dó,
Tal como os sanguinários bárbaros,
Não faz prisioneiros,
Não tem celas em seus palácios,
De sombrios cadafalsos e insaciáveis sepulcros,
Seus palácios são rodeados e ornamentados.
Seus palácios mais parecem a Caverna de Laracna.
Nunca dorme, sempre vigilante.
Nunca descansa, nunca desiste.
Quando lhe permitem, assoma,
E quando assoma, domina tudo.
Impedir que assome é tarefa hercúlea,
È insaciável em seu desejo de dominar
É uma ditadora inclemente, não conhece misericórdia,
Tem inveja da felicidade alheia, por isso é tirana,
Seu reinado não conhece clemência, é déspota.
Governa com mão de ferro,
Sua sutileza é de aço,
Seu abraço é de titânio.
Seu beijo é tal qual uma lareira,
Não aquece, mas queima.
Quando aparece, amedronta,
Quando resolve visitar, destrói tudo,
Quando passa, o cenário é caótico,
Os sinais de sua passagem são dantescos,
Fariam Ovídio ter medo.
Poriam Caribdes e Cila em fuga,
Tal seu aspecto desolador.
Por que invocar tão medonha criatura?
Por que convidar tão voraz monstro?
Por que abrigar alguém que se alimenta do medo?
Por que hospedar alguém que se embebeda com a angústia?
De quem mais ter medo,
Da “Coisa” que escraviza, destrói e mata,
Ou daquela que a desperta de seu sono infernal?

[Este é um apenas um grito de um náufrago que afunda em suas emoções, pedindo que não despertem a “Coisa” que habita em seu interior, não despertem o que há de pior em sua alma.]

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